Com a colheita em andamento, o preço interno da soja mantém a trajetória de queda. O indicador medido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com base em Paranaguá (PR), acumula desvalorização de 5,58% até a última sexta-feira (18/1), quando fechou cotado a R$ 75,70 a saca de 60 quilos. O Cepea afirma que os prêmios de exportação estão em queda, indicando menor demanda internacional.
“Este cenário fez com que sojicultores se afastassem das vendas no spot e dessem prioridade ao cumprimento de contratos. Do lado da indústria, algumas estão recebendo lotes negociados antecipadamente, outras estão em manutenção, à espera da maior entrada de grão para processamento”, diz, em nota divulgada nesta segunda-feira (21/1).
Dados da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), referentes a diversas praças pelo Brasil, reforçam o cenário de desvalorização. Em Passo Fundo (RS), a cotação da saca de 60 quilos caiu de R$ 78 para R$ 73,5 entre os dias 2 e 18 deste mês. Em Chapecó (SC), o valor foi de R$ 79 para R$ 75,50 e em Cascavel (PR), de R$ 72,50 para R$ 69 a saca.
No Centro-Oeste, onde mais se produz soja no Brasil, não tem sido diferente. Na região de Dourados (MS), a cotação saiu de R$ 76 para R$ 67,50, de acordo com a BBM. Em Rio Verde (GO), de R$ 72 no dia 2 de janeiro para R$ 67 no dia 18. Na região de Sorriso (MT), caiu de R$ 65 para R$ 59 a saca.
Os preços estão menores mesmo com a redução nas expectativas para a safra 2018/2019, por problemas climáticos que atingiram principalmente as lavouras precoces no Paraná e Mato Grosso do Sul. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita deve ser de 118,8 milhões de toneladas.
Consultorias privadas também revisaram seus números. A AgRural espera uma colheita de 116,7 milhões e a Agroconsult, de 117,6 milhões de toneladas. O consultor Carlos Cogo estima a safra 2018/2019 em 116,9 milhões de toneladas. Em outubro, ele projetava 123 milhões.
Cogo explica que os prêmios para embarque em fevereiro estão em US$ 0,17 positivo sobre Chicago, tomando como referência os terminais de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Na mesma época em 2018, esses valores beiravam os US$ 0,68. A média histórica para o período, segundo ele, é em torno de US$ 0,50.
Para dar uma ideia da situação, Cogo faz uma conta: somando o preço atual na bola americana e o prêmio, o consultor chega a uma cotação de US$ 9,45 por bushel. Em janeiro de 2018, a mesma soma resultava em US$ 10,46.
“Apesar da quebra, a safra é grande no Brasil. Ainda há estoque alto nos Estados Unidos e os prêmios deles também estão baixos. E o chineses têm comprado menos esperando a safra sul-americana a preços mais baixos”, analisa, acrescentando que a safra da Argentina também deve ser maior.
Carlos Cogo lembra ainda que o dólar também é fator de pressão sobre os preços da soja. Comparando com a mesma época do ano passado, quando estava em torno de R$ 3,25, a taxa atual é maior, em torno de R$ 3,70. Mas, só neste início de ano, a cotação da moeda americana caiu mais de 5%, diz ele.
“Apesar da queda, vale lembrar que o preço da soja em reais agora ainda é maior que o de 12 meses atrás. Aí entra a diferença do câmbio, que caiu, mas ainda é mais alto que no mesmo período no ano passado”, pondera.
Colheita
Em Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, a colheita da safra 2018/2019 está em ritmo acelerado, indicam os dados do Instituto de Economia Agropecuária do Estado (Imea). Até o final da semana passada, as máquinas já tinham percorrido 12,33% da área, um avanço de 6,71 pontos percentuais em relação à semana anterior.
O porcentual corresponde a 1,186 milhão de hectares dos 9,619 milhões semeados. Até a última sexta-feira (18/1), o trabalho de campo se mostrava mais adiantado nas regiões oeste, médio-norte, sudeste e noroeste do Estado, todas com mais de 10% de área colhida.
Comparando com o mesmo período na safra 2017/2018, são 9,05 pontos percentuais a mais. Até 19 de janeiro de 2018, os sojicultores de Mato Grosso tinham colhido 3,29% das lavouras.
No Paraná, os dados mais atuais disponibilizados pelo Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura do Estados, ainda são referentes ao dia 14 de janeiro. Até então, a área colhida correspondia a 10% do total, o equivalente a 545,9 mil hectares.
Nos locais ainda por colher, o Deral estimava que, até o último dia 14, 60% das lavouras estavam em boas condições. Outras 28% estavam em condições médias e 12% ruins. Ainda segundo os técnicos, 25% das plantações estavam em maturação, 43% em frutificação, outras 25% em floração e 7% em desenvolvimento vegetativo.
“É outro fator que pressiona. A colheita está acelerada e andando bem”, lembra Carlos Cogo.
Fonte: Revista Globo Rural
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