No prato do brasileiro e nas
gôndolas dos supermercados, os cogumelos vêm sendo presença cada vez mais
frequente. Até os anos 2000, o consumo médio por pessoa não passava das 30
gramas por ano, de acordo com dados da Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos
(ANPC). Hoje, essa quantidade já passa das 150 gramas. E considerando o apetite
pelo alimento de outras nações – como as europeias, que consomem mais de 2
quilos por habitante/ano –, a tendência é de que a demanda siga em ritmo
acelerado por aqui.
Se o cogumelo está mais presente
no prato, precisa também ocupar mais espaço nas lavouras. Historicamente, São
Paulo é o maior produtor do fungo no Brasil. Mas o produto vem ganhando espaço
no arranjo produtivo paranaense como alternativa de renda. Hoje, o Estado
figura na segunda colocação nacional, cujos maiores polos produtores ficam na
Região Metropolitana de Curitiba e nos Campos Gerais.
A ANPC revela que apesar de estar
cada vez mais profissionalizado, o setor ainda carece de números exatos, fundamentais
para calibrar as políticas públicas na área. A estimativa da Associação é de
que haja produção de pouco mais de 12 mil toneladas do produto por ano, o que
movimenta algo em torno de R$ 60 milhões e gera mais de 3 mil empregos em todo
o Brasil. Mas, como a projeção considera dados de 2012, do levantamento mais
recente, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor
deve ter um peso maior na economia nacional.
Modelos coexistem
Boa parte desse crescimento,
notado principalmente pela oferta e demanda dos cogumelos em feiras, mercados e
restaurantes, ocorre porque o cultivo é de certa forma democrático. Assim como
cogumelos são versáteis na hora de cozinhar, estando presente em massas, molhos
e até mesmo como pratos principais, na hora de manejar a cultura também há
espaço para a coexistência de diversos modelos de negócio.
Marcos Aurélio Lourenço, de São
José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), por exemplo,
construiu uma estrutura pequena para começar a produzir cogumelo paris em menor
quantidade. “Eu trabalhava na indústria metalúrgica e saí da empresa em outubro
do ano passado. Fazia tempo que tinha essa ideia de produzir cogumelos, mas não
colocava em prática por falta de tempo”, diz.
Lourenço visitou alguns produtores
em Tijucas do Sul, também na RMC, e embasou seu projeto nessas estruturas. “Eu
já tinha o barracão e fiz algumas adaptações, como uma sala para ar
condicionado e um espaço para embalagem. A produção deve resultar em mais ou
menos uns 800 quilos por mês e faturamento aproximado de R$ 8 mil por mês”,
projeta o produtor.
Já em Castro, nos Campos Gerais,
Euti Jan Lohman Filho está há três anos com um modelo de negócio escalável, no
qual produz quase 20 mil bandejas de cogumelos paris e porto belo por semana.
Para isso, se inspirou em modelos de negócio europeus. O investimento até agora
já ultrapassa os R$ 2,5 milhões.
“Na minha avaliação, no ramo de
cogumelos, ou o produtor é pequeno e fica no mercado mais em volta, numa
comercialização doméstica, ou tem escala para ir para fora e expandir, o que
não é barato. O investimento para quem opta por escala é alto e há inúmeras
dificuldades até se conseguir abrir mercado”, analisa Lohman Filho.
O produtor dos Campos Gerais
entrega seus produtos diretamente a grandes redes de supermercados no Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Ao todo,
mantém 28 pessoas trabalhando diretamente, pois a cultura envolve muitos
procedimentos manuais.
“Nós temos uma capacidade de
aumentar em torno de 40% a produção e, para isso, vamos precisar chegar a mais
50 funcionários. À medida que vamos conseguindo novos mercado, ampliamos a
produção. Como temos toda uma cadeia de frios, tem que ter adequação das redes
varejistas em uma série de quesitos para termos um produto que tenha uma vida
útil interessante”, revela.
Aposta na diversificação
Já a engenheira agrônoma Mirian Yamashita aposta na diversificação, a ponto de produzir sete tipos de cogumelos em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba: Shitake, Shimeji, Shimeji Branco, Amarelo, Cogumelo Salmão, Champignon e Porto Belo. O negócio começou com o pai, nos anos 1980, um imigrante japonês que se fixou na região.
De lá para cá, a empresa
participou da evolução do mercado, que era praticamente inexistente naquela
época, e hoje vem ganhando cada vez mais espaço. “No início, meu pai vendia no
Mercado Municipal de Curitiba e os consumidores olhavam com cara feia para o
produto, pois ainda não fazia parte do cardápio dos brasileiros”, conta.
Hoje, a realidade é bem
diferente. Os cogumelos de Mirian, produzidos em dezenas de estufas que se
espalham pela chácara em sistemas diferentes de produção para cada variedade,
chegam em praticamente todas as grandes redes de supermercados do Paraná e
Santa Catarina. “Desde que comecei a trabalhar com cogumelos, nunca tive uma
bandeja que não foi vendida. Pelo contrário, se eu tivesse mais produção teria
demanda suficiente para absorver”, revela.
Entrada chinesa exigiu uma mudança no setor nacional
Até os anos 2010, o consumo do
produto se dava, sobretudo, em conservas. Com a entrada de marcas chinesas no
mercado brasileiro, com preços mais baixos até mesmo que o custo de produção no
Brasil na época, esse mercado de conservas ficou praticamente inviável. Isso
forçou muitos produtores a mudarem de ramo ou então passarem ao setor de
cogumelos frescos.
Isso ocorreu com Euti Lohman, dos
Campos Gerais, que precisou reestruturar o seu negócio. “Até cerca de cinco
anos atrás, dificilmente se achava cogumelos frescos nos mercados. Hoje, tem
pelo menos cinco ou seis tipos. O interesse por parte do consumidor é maio
também por conta da busca por uma alimentação mais saudável. Isso fez uma
grande diferença na demanda. Está mudando a cara do cogumelo no Brasil. Apesar
de que ainda é algo pequeno, com espaço para crescer”, projeta Lohman.
Outro sintoma claro de que o
interesse pela produção de cogumelos vem ganhando espaço está na busca por
qualificação. Ainda são poucos os cursos nessa área.
“Organizei o primeiro curso em
1995, sem laboratório. Hoje, já foram 53 cursos, mais de 1,7 mil alunos, e
quatro livros publicados”, revela a pesquisadora Arailde Fontes Urben, na
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília.
Arailde acredita que a tendência
é de o mercado seguir em crescimento no país, principalmente com a maior
demanda por alimentos saudáveis. “O cogumelo é rico em proteínas e vitaminas,
além de minerais, fósforo e potássio. Ainda, todo cogumelo tem, em maior ou
menor medida, propriedades farmacológicas. Além de uma fonte alternativa de
renda para pequenas propriedades rurais, considerando os benefícios diretos”,
pontua.
Além dos cursos, Arailde também
coordena pesquisas em várias frentes na produção de cogumelos. “Hoje, tenho um
banco genético de cogumelos que abriga quase 600 espécies e linhagens
diferentes”, conta.
Cursos
Os interessados no curso da Embrapa, podem obter mais informações por meio do email cenargen.cursos@embrapa.br. Outro curso disponível é ministrado pela produtora Miriam Yamashita, na sua propriedade, em São José dos Pinhais. Para mais informações, basta procurar a página da empresa no Facebook, “Cogumelos Yamashita”. Há também outros cursos à disposição. Basta fazer uma busca na internet.
Leia mais notícias sobre o agronegócio no Boletim Informativo.
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Fonte: Sistema FAEP