Para quem deseja comer lichia no final do ano terá dificuldade em encontrar a fruta no início de dezembro, mas, por outro lado, poderá desfrutá-la por um período maior do que o usual no começo de 2020. O motivo é o clima. A falta de chuva e o calor atrasaram a florada das plantas, que normalmente ocorre no meio do ano, conta o consultor agronômico Amauri Peratelli, que atua há 28 anos nos principais polos produtivos na fruta.
“O florescimento começou timidamente próximo ao dia 20 de junho e prosseguiu muito lentamente porque havia muito frio. Acontece que em julho, que seria o mês com mais flor nas plantas de lichia, não ocorreu essa florada”, conta Peratelli.
O problema climático, segundo o agrônomo ocorreu em todo o chamado ‘cinturão da lichia’, que abrange São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás.
Segundo ele, o florescimento começou de forma mais regular em agosto, quando já deveria ter se encerrado. De setembro até o dia 10 de outubro aproximadamente, a florada se intensificou, mas com o aumento das ondas de calor e da seca, a formação do fruto ficou comprometida. Com esse quadro, a previsao é de que as frutas cheguem ao mercado a partir do dia 20 de dezembro, algumas semanas mais tarde que o normal, e permaneça até o final do mês de janeiro.
Colheita aberta ao público
Outra consequência da situação no campo é a tradicional colheita aberta ao público, realizada no Parque Maeda, em Itu (SP), que também deve atrasará. Segundo o diretor do parque, Fernando Maeda, o passeio de colher a fruta acontecerá no final de dezembro. Outro exemplo é a Fazenda Olhos D’Água, localizada em Mateus Leme (MG). A CEO da marca, Patrícia Nogueira, também prevê uma safra mais longa para seus pomares de lichia bengal.
Temos um pomar muito heterogêneo hoje com plantas um pouco mais adiantadas e outras mais atrasadas, o que vai nos dar uma safra muito longa”, afirma. Segundo ela, a colheita está planejada para dezembro até o final de fevereiro do próximo ano. Lá, é utilizado compostos permitidos pelo sistema orgânico, como enxofre e VTuringiensis. Contudo, a fruta não é considerada orgânica, já que utiliza adubagem com superfosfato simples, potássio e nitrogênio.
Fugindo da tendência para 2019, o pomar do produtor Rodrigo Bittar, do Vale do Ribeira (SP), não teve problemas com a floração das plantas. De acordo com ele, o uso de osmocote (fertilização de liberação lenta) favoreceu o desenvolvimento e a produção em um dos seus sítios. De 10 toneladas para 12 a 15 toneladas de lichia este ano. Em relação ao ano passado, porém, o resultado deste ano deve ficar bastante aquém. Em 2018, a colheita foi de 40 toneladas.
Volume da safra
Apesar de a alta temperatura e da seca terem influenciado o florescimento, a safra deste ano deve ser ligeiramente maior no Brasil, segundo fontes ouvidas pela reportagem. O país não possui estatísticas oficiais para a colheita de lichia.
“Eu acho que no ano passado foi em torno de 3 mil a 3,7 mil toneladas. Esse ano ficará em torno de 3,5 a 4 mil toneladas no total”, afirma e enfatiza que não ultrapassará mais de mil toneladas em relação ao ano passado, diz Peratelli.
Ele explica que a média de produção anual de lichia no Brasil é de 4 mil toneladas no ano.
“Considerando que nem todos têm tecnologia para explorar o potencial dos pomares, essa produção poderia sim ser maior, atingindo 6 mil toneladas ou mais”, analisa.
Para a Fazenda Olhos D’Água, este é um ano de recuperação.
“Estamos com uma expectativa muito alta para essa safra de 2019”, afirma Patrícia Nogueira.
A Fazenda Olhos D’Água está retomando a produção depois de um ano de não-safra, em 2018, com menos de 4 toneladas de lichia, em comparação com um pomar de 5 mil pés da fruta. À época, as mudanças climáticas não colaboraram para o desenvolvimento da florada. A estimativa da empresa para 2019 é de 220 toneladas – um aumento de 4300%, de acordo com a proprietária.
“A minha produção nos últimos dois anos produziu pouco, esse ano está com bastante lichia, uns 30 ou 40% até mais do que os outros anos”, afirma o produtor Edilson Jacon, de Limeira (SP), que possui uma pequena plantação de bengal com 150 plantas, sem uso de agrotóxicos.
Assim como o pomar de Ricardo Bittar, o sítio Folha Negra, em Tremembé (SP), que cultiva lichias há quase 20 anos, também espera uma safra menor. Segundo informações do produtor e engenheiro agrônomo Eduardo Cotrim, o sítio terá uma safra 25% menor que a do ano passado, de 8 para 6 toneladas. Para ele, a causa dessa diminuição foram as mudanças climáticas, citadas por Amauri Peratelli, que prejudicaram o florescimento.
Fonte: Globo Rural