Os primeiros dias de 2019 ainda serão marcados por chuvas abaixo do normal nas principais áreas produtoras de soja do Brasil, e o setor do maior exportador global da oleaginosa já fala em perdas concretas após um dezembro seco e de altas temperaturas.
O receio é de que a continuidade de condições climáticas adversas resulte em um impacto significativo sobre a safra 2018/19, que até o momento é estimada em um recorde de 120,1 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Conforme o Agriculture Weather Dashboard, do Refinitiv Eikon, as precipitações ficarão aquém da média histórica até 10 de janeiro em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná e São Paulo. Juntos, esses Estados respondem por quase dois terços de toda a produção nacional de soja.
Na parte nordeste de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, as chuvas tendem a ser 50 milímetros inferiores ao esperado para este momento do ano. Já no Paraná, há áreas na porção sul que terão 20 milímetros menos água ante o normal.
Em Mato Grosso do Sul e em São Paulo, a previsão aponta para precipitações entre 40 e 60 milímetros abaixo da média histórica, ainda de acordo com o Agriculture Weather Dashboard.
“O clima afetou, está afetando e poderá afetar ainda mais nesta safra 2018/19”, resumiu o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz.
“(A estiagem) tem afetado bastante, principalmente a região Sul do Brasil… Isso deverá afetar muito nossa produtividade, porque as temperaturas estão muito altas”, afirmou Braz, citando relatos de perdas de produtividade de até 30 por cento em algumas áreas e falta de chuvas também no Matopiba, fronteira agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Na quarta-feira, produtores de Mato Grosso disseram à Reuters que o tempo adverso está reduzindo o rendimento das lavouras de soja no Estado, cuja colheita está estimada em cerca de 32 milhões de toneladas pelo governo.
CÁLCULOS
O secretário-executivo do Sindicato Rural de Chapadão do Sul, Guilherme Tamanini, comentou que na região do município, no nordeste de Mato Grosso do Sul, há quem já aponte perdas de 40 por cento no potencial produtivo.
“A seca foi brava, queimou muita soja, muitos produtores adiantaram a colheita”, disse.
Por lá, os trabalhos de campo podem começar no início de janeiro, uma quinzena antes do habitual, resultando em grãos ainda longe do desenvolvimento pleno.
Embora não descarte prejuízos, Tamanini disse não prever que a safra “seja tão ruim”, afirmando que chuvas um pouco mais fortes nesta semana contribuíram para uma melhora das plantações. De acordo com a Conab, Mato Grosso do Sul deve produzir 9,2 milhões de toneladas, figurando como quinto maior produtor do país.
No Paraná, os relatos, por ora, são de perdas de 3 por cento, algo entre 500 mil e 600 mil toneladas, principalmente de lavouras plantadas mais cedo, disse o gerente técnico da Organização das Cooperativas do Estado (Ocepar), Flávio Turra.
“Já tem perdas, sim. Já tem uma ou outra colheita sendo feita, no oeste do Estado, com produtividade baixa. Nas piores lavouras, as que foram mais afetadas, a produtividade tem sido na casa de 15 a 20 sacas por hectare, sendo que o normal são 58 sacas”, comentou, ponderando que esses rendimentos ruins ocorrem apenas em regiões pontuais.
Conforme Turra, o sudoeste, o noroeste e o oeste do Paraná são as áreas que mais geram preocupações atualmente.
O Estado deve colher 19,6 milhões de toneladas de soja na atual temporada, segundo a Conab.
Fonte: Reuters