Nenhum país é autossuficiente em todos os setores, isso é quase que uma característica intrínseca a qualquer economia. E para suprir a carência de determinados produtos os países estabelecem relações comerciais.
Em 2017, o saldo da balança comercial brasileira registrou superávit de US$67 bilhões (MDIC). Foi o melhor resultado em 29 anos (desde o início da série histórica em 1989).
Neste ano até outubro, a balança comercial registrou superávit de US$53,67 bilhões. Continuamos vendendo mais do que compramos, mas o saldo atual está 13,5% menor que no mesmo período do ano passado cujo valor superávit foi de US$62,08 bilhões.
Quanto mais positiva a balança comercial, mais o Brasil fica preparado para enfrentar crises no contexto da economia global. Além disso, o saldo da balança é um dos componentes nos cálculos do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, exportar é trazer renda para dentro do país e aquecer a economia.
Dentre os cinco principais importadores de produtos brasileiros, a China é um dos responsáveis pelo superávit da nossa balança, e vem ocupando um papel progressivamente importante nas relações comerciais com o Brasil.
Os melhores resultados das relações comerciais internacionais do Brasil concentram-se na China. O segundo país comprador de produtos brasileiros são os Estados Unidos, porém como o Brasil também importa volumes relevantes de produtos norte-americanos, o saldo da balança, comparativamente, é muito menor.
A Holanda também é um país interessante, visto que exportamos muitos alimentos para lá e compramos poucos produtos holandeses, às vezes uma tulipa aqui ou lá. Mas de qualquer maneira, nenhum país chega próximo do saldo positivo deixado pelos chineses.
Em 2017 os produtos brasileiros exportados para China resultaram em um faturamento de 47,5 bilhões de dólares e as importações de produtos chineses geraram um gasto de 27,3 bilhões de dólares, ou seja, no final do ano passado o superávit foi de US$20,1 bilhões (MDIC).
De janeiro a novembro de 2018, o faturamento com as vendas para a China foi de US$58,76 bilhões e os gastos com as compras US$32,5 bilhões, portanto, mesmo sem finalizar o ano, o superávit atual da balança comercial com a China (US$26,1 bilhões) está 30% superior ao de 2018.
O histórico da balança comercial entre a China e o Brasil nos últimos 11 anos. No começo da série, os resultados eram negativos, mas após a eclosão da crise econômica de 2008 as exportações ganharam impulso, perderam velocidade em 2015 e 2016 com a crise nacional, mas recuperaram o fôlego a partir de 2017.
Diversos fatores contribuíram para o aumento das transações com a China. Um deles foi a adoção do regime de câmbio flutuante em 1999, que diminuiu a situação de vulnerabilidade externa brasileira e melhorou o ambiente de negócios por aqui.
Além disso, a entrada da China, em 2001, na Organização Mundial do Comércio (OMC) regulou o acesso ao mercado chinês e aumentou a presença do país na economia mundial além de elevar os investimentos chineses no exterior, sejam eles em infraestrutura e logística, energia, mineração ou manufaturas.
Analisando os tipos de bens que são comercializados, a soja foi o produto responsável por 43% do faturamento total das exportações para China em 2017, seguido de minério de ferro (22%), óleo bruto de petróleo (15%) e celulose (5%).
Essa informação traz dois pontos importantes. O primeiro é que esses quatro itens correspondem por mais de 85% do total de produtos embarcados para China. Isso mostra que estamos falhando em um dos processos principais do desenvolvimento sustentável de uma economia que é a diversificação da carteira de produtos exportáveis.
Outro ponto é que são commodities. Não há problema em ser exportador de produtos de baixo valor agregado, afinal o Brasil é extremamente eficiente e competitivo neste setor, contudo, para ter mais proteção e segurança, exportar produtos industrializados seria bom.
Na contramão deste cenário estão os produtos comprados da China pelo Brasil. A maioria dos produtos importados do país asiático possuem elevado nível de tecnologia, ou seja, são produtos com alto valor agregado, como por exemplo aparelhos de telefonia, plataformas de perfuração de petróleo e micro conjuntos eletrônicos.
Além disso a cesta de produtos chineses importados é muito mais pulverizada em relação à exportação brasileira. Os 15 grupos de produtos mais vendidos de lá para cá não representam nem metade do total que é exportado pelos chineses para nós.
Na contramão, dois produtos brasileiros compõem 65% do faturamento total de produtos embarcados para China. Dependência que traz um certo nível de preocupação.
Será que o mercado nacional estaria preparado para uma taxação sobre a soja semelhantemente ao que ocorreu com o Estados Unidos? Em 2017, por exemplo da produção nacional de soja (114,07 milhões de toneladas) 47,6% teve a China como destino.
As chances de uma disputa comercial envolvendo o Brasil são remotas, pois o atual governo demonstra cuidado com as relações externas tanto com os chineses quanto com os norte-americanos, na realidade o que causa temor é a continuação da disputa entre estas duas maiores economias do mundo, cenário que pode resultar em uma desaceleração global.
Mas de qualquer maneira a lição que fica é que o Brasil deve continuar a aproveitar as oportunidades propiciadas pelo crescimento de economias emergentes, aumentando tanto o volume quanto a diversificação dos produtos através de acordos comerciais bem estruturados.
E também ressalte-se a importância de desenvolver a indústria nacional, a fim de aumentar a exportação de produtos de maior valor agregado para os chineses. Produtos estes que tenham menores oscilações de preços quando comparado às commodities.
Fonte: Scote Consultoria