Apenas 10% dos produtores rurais brasileiros têm dado atenção ao manejo da parte física e biológica do solo, um fator que acaba limitando as produtividades agrícolas no país, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, avaliou nesta quinta-feira o Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB).
O índice foi obtido durante mais de 3 mil auditorias realizadas pelo comitê nas áreas inscritas para o Desafio de Máxima Produtividade de Soja desde a primeira edição do projeto, em 2008.
O “desafio” do CESB, entidade sem fins lucrativos formada por profissionais e pesquisadores de diversas áreas em prol da sojicultura brasileira, busca incentivar produtores a adotarem as melhores técnicas de manejo para atingir picos de produtividade em uma mesma área.
Segundo o engenheiro agrônomo e membro fundador do CESB Orlando Carlos Martins, os dados coletados ao longo de dez anos de existência do comitê mostram que os investimentos dos produtores têm se voltado muito mais para a parte química do solo, a genética das sementes e a proteção.
O agrônomo indica que 80% dos agricultores recorrem a esses meios para buscar bons índices de produtividades. Assim, as partes física e biológica do solo, que de acordo com ele deveriam ser primordiais, estão sendo deixadas de lado.
“São duas áreas muito importantes que estão sendo esquecidas. O problema da física e da biologia do solo é que não dá para comprar, tem que construir com o tempo. Por isso, o produtor tem que ir atrás de conhecimento”, destacou ele, em nota.
“Os dados coletados com os campeões de produtividade do CESB demonstram que os seus solos têm condições físicas e biológicas muito boas. Por mais que existam sementes com genéticas melhores, máquinas mais tecnológicas, nada fará efeito se o perfil de solo não tiver sido bem construído”, alertou.
Para Martins, a descompactação do solo antes e durante o plantio deve ser ponto de atenção dos produtores.
“Para crescerem, as raízes precisam de oxigênio e do que encontram lá embaixo da terra. Se o solo está compactado e entra pouco oxigênio, a planta não vai conseguir crescer. Então precisamos criar poros no solo e a melhor maneira de fazer isso é com raízes de plantas”, explicou.
Além disso, com um melhor perfil de solo, as raízes da planta de soja, por exemplo, poderiam se aprofundar, ficando menos suscetíveis a perdas por seca, como a que afetou as produtividades neste ano em várias áreas agrícolas do Brasil, maior exportador global da oleaginosa.
“Quanto maior o perfil de solo, para armazenar água, melhor. Nas lavouras que tinham raízes mais profundas, o impacto (da seca) foi menor do que em áreas com perfil de solo raso”, afirmou à Reuters o agrônomo ligado ao CESB Paulo Cesar Sentelhas.
Para um bom manejo, o CESB defende a rotação de culturas, que deve ser atendida conforme as necessidades do solo e levando em consideração também o clima.
“Onde não dá para fazer soja e milho no verão e outras culturas no inverno, podemos fazer soja no verão e milho e gramíneas no inverno. Elas contribuem na parte química, mas ajudam ainda mais na parte física, na aeração do solo, porque a cultura aprofunda mais e busca mais água”, acrescentou Martins.
A família Guimarães, que trabalha com diversos tipos de culturas em Minas Gerais e ganhou a edição de 2017/2018 do Desafio CESB na Região Sudeste, com 108,96 sacas de soja por hectare, foi citada pelo comitê com um exemplo de bom trabalho de manejo do solo.
“Preparar bem o perfil de solo é realmente essencial. A gente descompacta o solo quando necessário, para não ter impedimento da raiz. Assim a planta consegue buscar água em profundidade para se sustentar em tempos difíceis, por exemplo”, disse o produtor Rogério de Souza Guimarães, segundo a nota.
Na soja, a família Guimarães procura alternar a plantação com trigo ou sorgo. Isso ajudou a preparar bem o solo para atingir altos índices de produtividade.
Fonte: Notícias Agrícolas