No Brasil, 91% da cevada plantada é de cultivares BRS, sigla que identifica materiais provenientes do programa de melhoramento genético liderado pela Embrapa. Nas lavouras irrigadas paulistas, 100% das plantações são formadas por cultivares nacionais. A produção nacional de 300 mil toneladas/ano de cevada atende apenas 43% da necessidade da indústria brasileira para produção de malte. Para suprir a demanda da indústria cervejeira nacional, ainda são importadas anualmente 400 mil toneladas de cevada para completar a produção industrial de 1,3 milhão de toneladas de malte.
Impulsionados por mudanças de hábitos de consumo, produtos derivados da cevada estão em alta no varejo. O Brasil já conta com 5.254 produtos de cervejarias registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), distribuídos em cerca de 80 tipos diferentes de cerveja. Entre 8 de abril e 17 de maio deste ano, o número de cervejarias registradas no Mapa passou de 320 para 397. O crescimento se deve à abertura do mercado para novas tendências, principalmente as cervejas artesanais.
- A pesquisa precisa sempre estar atenta à evolução do mercado e das demandas para o produto que trabalha – salienta o pesquisador Euclydes Minella, da Embrapa Trigo (RS).
Para atender tanto as necessidades dos produtores quanto o padrão de qualidade da indústria, o programa de melhoramento genético de cevada cervejeira, iniciado em 1977 pela Embrapa Trigo, atua fortemente por meio de parcerias.
- A parceria informal até meados de 1990, e formal desde então, proporciona a garantia de que só se destinam para a lavoura cultivares de fato competitivas em rendimento e qualidade, satisfazendo o interesse de produtor e indústria – comenta Minella.
Atualmente as maiores áreas são cultivadas com as cultivares BRS Brau, BRS Elis e BRS Cauê.
Integração com o mercado
O diferencial do programa de pesquisa da cevada é a integração entre produtores, maltaria e indústria de bebidas por meio de programas de fomento, assistência técnica e compra garantida do produto mediante contrato firmado entre empresas e produtores, seja individualmente ou representados por cooperativas ou associações.
- A principal vantagem deste sistema está na fixação de preço antes do cultivo e na ‘liquidez’ de mercado, dando ao produtor condições de planejar seus investimentos na produção – destaca a pesquisadora Cláudia De Mori, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), que participou da análise econômica do complexo agroindustrial da cevada.
Outra importante vantagem é a liberação antecipada de área para os cultivos de verão pela precocidade de seu ciclo e a deposição de palhada de excelente qualidade para manejo de ervas daninhas e cobertura de solo.
A organização da cadeia, possibilitada pelo trabalho integrado, favorece também o atendimento às mudanças nos hábitos de consumo de cerveja. As novas tendências de consumo, como a busca por cervejas artesanais, e incremento do consumo em casa em substituição a ida ao bar ou restaurante, têm expandido a oferta de produtos derivados de cevada nos supermercados. E para que o consumidor saboreie uma cerveja de qualidade, os esforços começam ainda nas bancadas dos laboratórios dos pesquisadores.
O apoio tecnológico à produção é suprido, principalmente, pela Embrapa em convênio com as maltarias.
- A Embrapa acompanha esse movimento procurando entender as demandas em termos de qualidade do malte, e por consequência, da cevada – comenta Minella.
Dependência da cevada importada
- O Brasil é grande consumidor e importador de malte [cereal germinado seco] e cevada apenas para atender a indústria cervejeira, havendo, portanto, grandes oportunidades para o aumento da capacidade de malteação e da produção de cevada – salienta Minella.
Para o especialista, a competitividade proporcionada pela genética desenvolvida pela Embrapa tem contribuído para a sustentabilidade da cadeia.
Cultivares de cevada
- As cultivares BRS Itanema, BRS Korbel e BRS Quaranta deverão substituir com vantagens as atualmente em cultivo – comenta Minella.
A BRS Itanema já está sendo produzida comercialmente. As demais estão em fase de validação da qualidade de malte ao nível de indústria e de multiplicação de sementes.
A ampliação da área plantada com cultivares BRS contribuiu para o aumento de produtividade na cultura da cevada. Em 1985, por exemplo, quando ainda não havia cultivos com genética Embrapa, a produtividade média foi de 1.671 kg/ha. Dez anos depois, as cultivares BRS ocupavam 46% da área cultivada com cevada no Brasil e a produtividade média saltou para 2.526 kg/ha. A perda de produtividade em 2015, 30% inferior à média dos últimos dez anos, se deve a influências climáticas.
- A safra de 2015 foi produzida sob o efeito climático do El Niño associado ao excesso de chuvas na fase de maturação e colheita – explica Minella.
Para 2016, a Conab prevê uma produtividade nacional média de 3.300 kg/ha e as cultivares BRS devem superar 91% da área plantada.
Fonte: Conab/Embrapa