O mercado ainda está digerindo essa grande produção de soja na América Latina e, como consequência, os preços seguem em queda livre: no mês de março dos 23 pregões, 18 foram de quedas. A alta produção no País faz pressão no mercado interno, atrelado a isso, o dólar ainda não recuperou e está na faixa entre R$ 3,10 e R$ 3,15 (início de abril, durante o pico da colheita). Conforme o analista de mercado da AgRural, Adriano Gomes, a movimentação dos fundos de investimentos na Bolsa de Chicago é um termômetro para o atual cenário negativo na cotação do grão.
- Em 28 de março tínhamos 5,2 milhões de toneladas de soja de posição comprada de fundos de investimentos, sendo que este número chegou a 23,2 milhões de toneladas no início do ano, portanto boa parte das posições foram liquidadas nos últimos três meses e quando as vendas ocorrem, o preço da soja cai – explica o analista de mercado.
O produtor rural de Santo Ângelo, Roni Carnelutt, alerta que a superprodução não significa superlucro, porque mesmo com o resultado histórico no campo, a rentabilidade será inferior ao ano passado.
- A produtividade na safra anterior foi de 62 sacas por hectare e agora estamos colhendo 65 sacas, mas no ano passado foi vendido soja na faixa de R$ 70/saca e R$ 75/saca e neste ano o preço está em R$ 55/saca – compara.
O cerealista e produtor, Cristiano Roratto, diz que foi um dos anos com o menor número de contratos futuros fechados, devido a previsão de seca e projeção de analistas de que a cotação da soja iria disparar.
- Diziam: não vendam que o preço vai chegar a R$ 100/saca, só que aconteceu o contrário. Agora temos que torcer para dar uma zebra nos Estados Unidos – reitera.
SECANDO A SAFRA NOS EUA
O mercado agora começa a olhar como será a safra norte-americana, que tem estimativa de aumento de área plantada e o comportamento do clima por lá pode ser decisivo na formação do preço em Chicago.
- O produtor deve ficar atento a possíveis altas de preços – aconselha Adriano Gomes – analista de Mercado da AGRural.
O agricultor de Santo Ângelo, Jocemar Hoffmann, chegou a fechar negócio em contrato futuro por R$ 78/saca, mas foi somente uma pequena parte da produção que chega a 65 sacas/ha nos 150 hectares que cultiva com o irmão, Gilmar Hoffmann.
- A produção aumentou de 5% a 10% e a cotação da soja já caiu uns 30%. Vamos ter que aguardar o preço melhorar – revela Hoffmann.
Para o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, o cenário é complicado porque dois fatores fundamentais ligados a oferta pesam no mercado hoje: a supersafra na América do Sul, com destaque para a colheita brasileira (pela primeira vez supera a marca de 100 milhões de toneladas e de 110 milhões de toneladas) e a área americana crescerá novamente com potencial produtiva acima de 120 milhões de toneladas, superando a safra que já foi recorde em 2016.
- Vai sobrar soja, não vai ter demanda para absorver esta superoferta – prevê o analista da Safras.
Conforme Gutierrez Roque, somente problemas climática com a safra nos Estados Unidos para o mercado superar os US$10/Bushel em 2017. Na análise dele, o câmbio que também poderia influenciar na cotação do grão não tem espaço para subir, pelo contrário, questões externas e a economia brasileira pesam mais para um dólar mais fraco.
- A tendência é o preço da soja cair ainda mais, mesmo com o aumento das exportações, esse movimento é menor que o aumento da oferta – conclui.