Dos pastos do Brasil para o hambúrguer norte-americano. Esse será o caminho da carne bovina brasileira a partir de agosto, quando o país iniciar os embarques da proteína in natura para os Estados Unidos. O fim de uma barreira sanitária imposta há 15 anos pelo país tende a privilegiar a venda de cortes dianteiros, que possuem menos gordura, e servem de insumo para a indústria de alimentação. A abertura garante demanda para um produto com pouca rentabilidade no mercado local e representa um potencial de vendas de até 100 mil toneladas anuais em cinco anos, conforme projeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A celebração do acordo garante abastecimento aos Estados Unidos em um momento de escassez. Dados do Departamento de Agricultura do país apontam que o rebanho norte-americano soma 89,8 milhões de cabeças. Em 2014 o índice despencou ao menor patamar desde 1951, para 87,7 milhões.
A proteína brasileira vai servir como ingrediente magro na receita do hambúrguer norte-americano.
- Eles [Estados Unidos] vão pegar a carne nossa, que é extremamente magra, e agregar gordura para ficar em seu padrão de consumo – aponta doutor em medicina veterinária Vasco Picchi, que é especialista no tema.
O fato é explicado por diferenças entre os rebanhos dos dois países.
- O índice de gordura intramuscular do gado do Brasil é de no máximo 2%, 3%, enquanto o do rebanho dos Estados Unidos chega a 12%, 13% – diz o especialista.
Essa gordura é decisiva para definir a suculência da carne.
Para o Brasil, a principal vantagem é o incremento na venda de cortes que eram menos rentáveis para a indústria local. Tanto os brasileiros quanto importadores como a União Europeia dão preferência aos cortes traseiros.
- O que os norte-americanos precisam importar é matéria-prima para fazer hambúrguer. Para o Brasil é uma vantagem, porque os cortes dianteiros sempre foram para a exportação, mas para mercados como a Rússia, Irã, Egito, que não são tão valorizados – aponta Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
A estreia da picanha brasileira seria um segundo momento, ainda sem data prevista.
Embora o acordo com os Estados Unidos esteja sacramentado, a consolidação dos embarques depende da equiparação dos protocolos de sanidade dos dois países. Esse trabalho deve ocorrer até agosto, aponta Sampaio.
- As indústrias que querem esse mercado terão que solicitar habilitação para que o Ministério da Agricultura indique ações que precisam ser executadas em cada frigorífico – destaca.
O controle norte-americano será por amostragem, em modelo semelhante ao europeu.
O reconhecimento norte-americano ajuda a abrir novos mercados.
- É um cartão de visita para as exportações. Muitos países usam os Estados Unidos como referência, porque importam um volume baixo ou porque não possuem interesse em enviar uma missão para o Brasil – aponta o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz.
A Abiec avalia que os potenciais mercados são os membros do Nafta (México e Canadá), além de países da América Central e o Japão.
20,1%
Foi a queda no faturamento dop Brasil com exportação de carne bovina entre janeiro e junho de 2015, na comparação com o ano passado. Renda de US$ 2,7 bilhões caiu em virtude de retração no volume embarcado (-16%) e nos preços médios (-4,9%). Setor aposta que abertura do mercado norte-americano pode reverter tendência de baixa.
13 estados
E o Distrito Federal estão aptos a exportar para os Estados Unidos. Controle da febre aftosa com vacinação foi um dos critérios para o acordo. São eles: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
Fonte: Gazeta do Povo