A Nestlé inaugurou nesta quinta-feira (17/12), em Montes Claros, região do Cerrado mineiro, suaprimeira fábrica de café em cápsulas da linha Dolce Gusto fora da Europa. Atualmente, elas são feitas naInglaterra, Espanha e Alemanha. A indústria, que recebeu o investimento de US$ 220 milhões, está em funcionamento há um mês e vai produzir anualmente 360 milhões de cápsulas.
A escolha do Brasil deveu-se, principalmente, a três fatores: o fornecimento de cafés (o país é o maior produtor do mundo), mercado consumidor e posição estratégica para exportar o produto para os países doMercosul, especialmente a Argentina, Uruguai eParaguai.
- Essa é a nossa fábrica com maior capacidade de produção no Brasil. Iniciaremos com esse volume de cápsulas mas, se houver crescimento da demanda, podemos aumentar – diz Juan Carlos Marroquín, presidente da marca no Brasil.
O investimento no Brasil também reforça a relação entre a empresa e o país. O café solúvel foi desenvolvido em terras brasileiras, após uma parceria entre governo do Brasil e Nestlé para beneficiar o caféque ia para os estoques em tempos de demanda fraca, na década de 1950. Hoje, o café solúvel é exportado para o mundo inteito.
- O Brasil é um país que tem estado na base da história do Nescafé – conta o CEO global da marca, Paul Bucke, que veio ao país inaugurar o empreendimento.
Inicialmente, a Nestlé planejava importar 10% da matéria-prima, especificamente o café verde, de outros países como Etiópia e Colômbia. Entretanto, a legislação brasileira não permite a importação do grão sem torra, devido ao risco de “intercâmbio” de doenças e pragas.
Para contornar essa impossibilidade, a linha Dolce Gusto terá café e matérias-primas como cacau, leite e açúcar 100% brasileiros e, por esse motivo, a produção foi reduzida para quatro tipos do café: espresso, espresso intenso, café au lait e buongiorno.
- Conseguimos no próprio Brasil cafés com características especiais para fazer os blends. Achávamos que não conseguiríamos. Enviamos amostras para serem aprovadas na Suíça, a fim de manter o padrão em cada xícara – conta o presidente no Brasil.
Por não ter permissão de importar o grão sem torra, além de limitar o envase em cápsulas, também não há previsão de trazer a linha premium de cafés em cápsulas da Nestlé, a Nespresso, para Minas Gerais, já que por ser um produto masi elaborado, busca um padrão de qualidade em blends de cafés de várias regiões produtoras no mundo.
A empresa ainda tenta a liberação com o Ministério da Agricultura.
- Ainda não achamos uma possibilidade de seguir as normas do Brasil para a exportação. Se desse, faríamos também outros tipos de cápsulas – continua o executivo.
Atualmente, no mercado brasileiro, há 21 tipos vendidos com o rótulo da Dolce Gusto, que não devem ficar mais baratas no varejo com a instalação da indústria.
Quanto a produção brasileira de café, Marroquín afirma que haverá parcerias com os 1.053 fornecedores brasileiros para incrementar os cafezais com práticas sustentáveis de produção. Todas as propriedades são certificadas ou verificadas quanto os métodos de produção.
- Nossos investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área de cafés está ampliando o conhecimento técnico local. Com isso, esperamos contribuir com o aprimoramento se toda a cadeia produtiva – afirmou.
Meio ambiente
A fábrica de Montes Claros foi construída ao lado da unidade fabril de leite condensado para a integração das duas nas políticas de sustentabilidade ambiental. De acordo com o CEO Paul Bucke, 90% da água utilizada vem da condensação do leite.
- O que sobra, devolvemos para a sociedade. Ou seja, além de não usarmos água, ainda fornecemos – brinca.
Internamente há uma operação chamada “Resíduo Zero”, que reutilizará biomassa do café em compostagem e geração de energia em outras indústrias e as sobras de embalagens serão recicladas. Durante a torrefação, prometem 70% menos emissões atmosféricas de gases, partículas e odores.
Entretanto, quando questionados sobre a reciclagem das cápsulas descartadas pelo consumidor final, que são feitas com plástico, alumínio e pó de café, eles afirmam que busca parceria com o governo para aproveitamento do lixo residencial, mas que não há um avanço nessa questão em mais de 90 anos de trabalhos da Nestlé no Brasil.
- Na proporção do país, somos uma empresa pequena nesse aspecto. Tentar reciclar tudo seria pretensioso. Há cidades como São Paulo e Curitiba que avançam nisso mais rápido, mas o mesmo não acontece no país. É algo cultural – rebate Bucke.
Fonte: Globo Rural