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CAMPEÃO NA TERRA E NA ÁGUA

A soja reina absoluta em Sorriso. Ocupa 65% da área do município em lavouras que somem no horizonte e rendem até R$ 1,3 bilhão ao ano (ou perto de 2% do valor nacional). Mas são tanques de peixes, formados com água do Rio Teles Pires, que garantem o mais novo e inusitado título ao município. Conhecida em todo o mundo como capital brasileira da soja, a cidade agora é também capital nacional do peixe. Do tambacu, do pintado, do tambaqui…

Duas empresas puxam o “cultivo”: a Delicious Fish e a Nativ detêm 550 hectares de tanques. Mas são 35 produtores individuais que fazem os lagos chegarem a 1,7 mil hectares. A prefeitura acaba de fazer verificação e aponta que, em 2015, serão alcançadas 21 mil toneladas, marca de 2013.

- O peixe é mais uma estrela no peito de Sorriso. Somos o município que mais produz peixe de água doce no Brasil. E acreditamos muito nessa alternativa: a produção desse tipo de carne pode dobrar nosso PIB – afirma o secretário da Agricultura, Afrânio Migliari.

Mais barbatanas

A soja rende a Sorriso até R$ 1,3 bilhão ao ano, conforme o Valor Bruto da Produção medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O peixe chega perto de R$ 110 milhões. Mas o município pode ser considerado mais líder no peixe (com 3,5% do VBP nacional) do que na soja (1,5%). Migliari prevê que os tanques logo vão passar dos atuais 1,7 mil para mais de 2 mil hectares. No longo prazo, a produção local pode ser dez vezes maior, chegar a 200 mil toneladas, conforme o consultor Darci Fornari.

O título de capital do peixe não se deve ao acaso. Sorriso tem topografia plana e pode formar tanques artificiais facilmente. Para ter um lago, o dono da terra precisa de aval dos órgãos ambientais. A água fica temporariamente no reservatório e depois retorna a seu curso natural.

Passada a fase de licenciamento ambiental, que pode levar mais de um ano, uma atividade que era hobby se transforma em negócio lucrativo contam Antônio Dalsoquio e seu filho Vergilio. A antiga diversão do pai agora é a principal ocupação do filho, que planeja expansão.

– A rentabilidade no sistema semi-intensivo é de 20% a 25%  – afirma Vergílio. Com isso, o investimento de R$ 40 mil (incluindo formação e povoação dos tanques) pode ser recuperado em três anos, analisa.

Indústria

A aquicultura se configura como uma cadeia do lago à indústria em Sorriso. As duas empresas que lideram a produção de peixes estruturam processadoras de carne. Montaram estrutura para atender mercados como Cuiabá e São Paulo. Por enquanto, dependem de maior constância na oferta e na demanda para operar sem interrupções. A Nativ acaba de reativar sua linha de produção e a Delicious Fish planeja voltar ao mercado nas próximas semanas.

A aquicultura abre caminho no município também para unidades de produção de ração. Boa parte do insumo – 80% a base de soja e milho – ainda é trazida de fora.

Pontos chave situam a aquicultura

21 mil toneladas
de peixes são produzidas em Sorriso ao ano. É o maior volume entre os 5,5 mil municípios do país. Esse desempenho garante também a Mato Grosso o título de maior produtor entre os estados, com cerca de 75 mil toneladas, 9 mil a mais que o segundo colocado, o Ceará. Os tanques ocupam 1,7 mil hectares ou 0,2% do município e geram 3,5% da renda bruta do aquicultura brasileira (ou R$ 110 milhões ao ano). A soja se estende por 620 mil hectares, 65% do território municipal, e rende 1,5% do VBP nacional do grão (R$ 1,3 bilhão ao ano), conforme o IBGE.

28,4 milhões
de cabeças de gado são criadas em Mato Grosso. Trata-se do maior rebanho nacional. No estado dos bovinos, o peixe nada de braçada. Só em Sorriso, são criadas 15 milhões de tambacus, pintados e outras espécies por ano, em até dois ciclos por ano.

Berçário e engorda
O ciclo de engorda dos peixes de Sorriso leva de seis a nove meses. Isso depois dos três meses de berçário ou de criação dos alevinos. Os tanques de engorda podem receber até dois lotes por ano, ou seja, rendem uma safra no verão e outra no inverno, como ocorre na produção de grãos.

Desvantagem
Distante dos portos e dos centros de consumo, Sorriso (e Mato Grosso de uma forma geral) precisa produzir mais que outras regiões para arrecadar o mesmo valor. O custo de transporte consome boa parte do Valor Bruto da Produção (VBP), ou seja, faz com que as cotações locais sejam menores. Essa é uma das razões pelas quais o Ceará produz menos peixe (são 66 mil t/ano no CE  a 75 mil t/ano em MT) e arrecada mais que Mato Grosso(com vantagem de R$ 580 milhões para R$ 400 milhões).

Fonte: Gazeta do Povo



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