A bovinocultura de leite é mais uma atividade prejudicada pelo clima adverso no Rio Grande do Sul. O excesso de chuvas, verificado desde julho, está impedindo a utilização das pastagens, a produção do feno e a implantação das lavouras de milho para silagem. Além disso, os alagamentos dificultam o manejo dos animais e a coleta do leite pela indústria. A estimativa de entidades ligadas ao setor é de que a produção recue 5% em novembro. Do lado dos produtores, a principal reclamação diz respeito ao aumento dos custos com a alimentação.
De acordo com o assistente técnico estadual em Produção de Leite da Emater-RS, Jaime Ries, é natural uma queda de 5% na produção a partir de outubro devido ao fim do ciclo de pastagens. Entretanto, em 2015, a umidade deve tirar mais 600 mil litros diários sobre a redução normalmente esperada para essa época do ano.
- O impacto na qualidade é mais difícil de mensurar, mas também acontece, pois aumentam as chances de infecção da glândula mamária e os animais chegam mais sujos para a ordenha, o que implica em maiores cuidados na higiene para evitar infecções bacterianas – explica Ries.
A situação abrange todo o Estado, mas a Emater traz relatos de localidades, como na região de Bagé, em que a indústria não consegue chegar com os caminhões para fazer a coleta. Segundo o presidente do Sindilat-RS, Alexandre Guerra, o setor não conseguirá manter a média de crescimento de 6% ao ano no Rio Grande do Sul, um dos objetivos para abertura de novos mercados de exportação.
- Não conseguimos os resultados que projetávamos para o período em virtude das chuvas dos últimos 90 dias, perdendo, inclusive, o pico de produção em agosto – afirma.
Se a quantidade ofertada atrapalha os planos da indústria, o produtor, por sua vez, se ressente com o aumento dos custos de produção. O presidente da Associação de Gado Holandês (Gadolando), Marcos Tang, estima que o gasto para obter um litro de leite esteja, em média, entre R$ 0,90 e R$ 1,00 em um sistema de semiconfinamento, quando deveria estar entre R$ 0,70 e R$ 0,80. Outros problemas nas propriedades, além do transporte, dizem respeito à falta recorrente de luz, atrasando a ordenha e o resfriamento, o que tem levado ao descarte do produto em casos pontuais.
Ao mesmo tempo, os preços tampouco são considerados satisfatórios.
- A grande maioria não está tendo rentabilidade. Ou está no empate ou está negativo – lamenta Tang.
O último levantamento da Emater, baseado em estatísticas semanais, aponta um valor médio para o Rio Grande do Sul de R$ 0,86 por litro. No ano passado, no mesmo período, o preço pago ao produtor era, em média, de R$ 0,95 no Estado. A região de Soledade tem os melhores índices, recebendo R$ 0,93 por litro. Em Santa Maria, Santa Rosa e Frederico Westphalen, os valores são mais baixos, na casa de R$ 0,83.
Efeitos podem se prolongar por mais um semestre
Para a Associação dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), os efeitos negativos do excesso de chuva não são momentâneos, podendo impactar no cenário do setor no próximo semestre, mesmo que o clima melhore. Isso porque a produção de feno, atividade paralela a bovinocultura de leite, praticamente estagnou nos últimos meses. O feno é utilizado como fibra na alimentação das vacas de alta lactação, mas seu corte, sua secagem e seu armazenamento ficaram limitados pela umidade. Com isso, o produtor foi obrigado a usar seu estoque ou comprar de outras regiões.
- O problema é que o feno que guardaríamos nesse período seria utilizado no verão e durante o próximo inverno – destaca o presidente da Gadolando, Marcos Tang.
Com muita demanda e pouca oferta, o preço do feno aumentou. Os produtores foram obrigados a buscar o suplemento no Paraná e, inclusive, em Minas Gerais, elevando os custos de produção, já que uma propriedade com 100 animais pode gastar até 15 fardos por dia. Os criadores que, por sua vez, se valeram do estoque terão problemas de abastecimento nos próximos meses.
Além disso, houve atraso no plantio de milho para silagem e perdas de pastagem, o que encarece a alimentação animal.
- Pastagem de qualidade é uma forma de baixar os custos, pois com alto índice de fibra, diminuímos os gastos com suplementação. E o milho que tivermos para silagem será colhido apenas em março. Ou seja, esses fatores fundamentais no custo foram altamente impactados pelas condições climáticas – completa Tang.
As mesmas condições, segundo a Emater, dificultam o desenvolvimento do milho que foi plantado.
- Mesmo quem tem pastagem no intervalo entre as culturas de inverno e verão ou quem conseguiu plantar mais cedo, evita soltar os animais para não causar prejuízos na compactação do solo pelo pisoteamento – afirma o assistente técnico estadual em Produção de Leite da Emater, Jaime Ries.
Algumas áreas de baixada estão alagadas ou viraram barro.
– Chuvas pesadas nesse momento entre os ciclos de plantio, além do movimento do gado, podem trazer problemas duradouros de erosão – alerta.
Fonte: Jornal do Comércio