Rondônia avança no processo de reconhecimento para ter a primeira Indicação Geográfica – IG de café da espécie Coffea canephora (conilon e robusta) do mundo e, com a chancela da Global Coffee Plataform – GCP, pode também ter destaque mundial ao se tornar a primeira IG de cafés sustentáveis.
A proposta de Indicação Geográfica Região Matas de Rondônia para Robustas Amazônicos pode consolidar o reconhecimento da qualidade sensorial dos cafés canéforas no Brasil e no mundo.
“É uma grande quebra de paradigmas no mercado, provando que Rondônia, além da produtividade, também tem enorme potencial de qualidade em seus cafés”, destaca o consultor responsável pelo processo da IG em Rondônia, Aguinaldo Lima.
De acordo com pesquisadores da Embrapa Rondônia, os Robustas Amazônicos são o resultado de mais de quatro décadas de interação entre genética, ambiente e manejo. Possuem características físicas, químicas e sensoriais que podem ser consideradas distintas e únicas.
“Eles carregam seu diferencial no nome, pois são produzidos em terroir amazônico, que possui características que não são encontradas em outras regiões do País e do mundo”, afirma o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves.
Ele explica que os cafeicultores rondonienses e, principalmente da região da IG Matas de Rondônia, aprenderam a valorizar o fruto do seu trabalho. Realizam colheitas cuidadosas e secagem lenta. Há ainda os que têm investido em técnicas de processamento via úmida e processos fermentativos diversos. São passos importantes e que tem feito a grande diferença na qualidade.
Além disso, já adotaram a denominação ‘Robustas Amazônicos’ para seus cafés e a prática sustentável em suas lavouras.
“A Indicação Geográfica vem reconhecer o que os produtores de Rondônia já tem feito em campo e que a pesquisa fundamenta tecnicamente. O conjunto de características desses cafés, sua origem amazônica e a busca por uma produção com base na qualidade e sustentabilidade, tem tudo para transformar estes cafés nos componentes principais de bebidas finas, puros ou na forma de blends (misturas) finos”, conta Alves.
O pesquisador caracteriza os Robustas Amazônicos como bebidas de sabor e aroma agradáveis, com doçura e acidez suaves, corpo aveludado e retrogosto marcante.
“São cafés que têm características que lembram castanhas, chocolates, frutas secas e seu amargor, quando presente, lembra nibis de cacau”, detalha.
Outros diferenciais dos cafés amazônicos, segundo Alves, são a peneira média alta – superior a 16 – e percentagem de cafeína mais baixa que o conilon padrão – varia de 1,4 a 1,8.
São diversos os perfis de produtores em Rondônia: familiares, empresariais, indígenas e orgânicos. Eles convivem em um ambiente rico e variável de clima e solo. Segundo Aguinaldo Lima, com qualidade, volume e o cumprimento obrigatório de requisitos de sustentabilidade, os produtores terão a valorização de seus Robustas Amazônicos. “A agregação de valor trará motivação ainda maior ao crescimento da cafeicultura de Rondônia e benefícios ao agronegócio do café do Brasil”, conclui o consultor.
Reconhecimento do campo para o consumidor
No campo, a Indicação Geográfica dos Robustas Amazônicos pode fortalecer e valorizar o que os produtores já vêm realizando há alguns anos. Premiados pela qualidade e sustentabilidade dos cafés que produzem, eles já usam o diferencial e a denominação de Robustas Amazônicos para agregarem mais valor ao seu produto e, consequentemente, mais renda.
É o caso da família Bento, do município de Cacoal, campeões em concursos de qualidade e sustentabilidade, eles comercializam o próprio café, incluindo estes diferenciais na hora da venda.
“Qualidade, sustentabilidade e o nome Robusta Amazônico agregam muito. Ao invés de vender a saca de 60 quilos de café a 260 reais no comércio, a gente torra e embala nosso robusta amazônico de qualidade e chega a conseguir em torno de 800 reais de lucro na saca. As pessoas querem conhecer esse café diferenciado da Amazônia”, conta Dione Bento.
Assim como esta família, outras mais estão seguindo o mesmo caminho e unindo forças por meio da Associação dos Cafeicultores da região da Indicação Geográfica dos Robustas Amazônicos – Caferon, marco fundamental para o processo de reconhecimento da IG. O presidente da Associação, Juan Travain, destaca a importância desse selo de reconhecimento. Para ele, a união das famílias para a produção de cafés com qualidade e sustentabilidade é fundamental para agregar valor e organizar os produtores.
“Precisamos enxergar o café como um alimento, levar para a mesa das famílias brasileiras um produto melhor, mais saboroso e com o diferencial amazônico que temos aqui”, afirmou.
A Caferon é composta por cafeicultores dos 15 municípios integrantes da IG, denominada como Matas de Rondônia: Alta Floresta d’Oeste, Cacoal, São Miguel do Guaporé, Nova Brasilândia d’Oeste, Ministro Andreazza, Alto Alegre dos Parecis, Novo Horizonte do Oeste, Seringueiras, Alvorada d’Oeste, Rolim de Moura, Espigão d’Oeste, Santa Luzia d’Oeste, Primavera de Rondônia, São Felipe d’Oeste e Castanheiras.
Indicação Geográfica
Serve para distinguir um produto ou serviço que apresenta características diferenciadas e que podem ser atribuídas à sua origem geográfica, configurando o reflexo do ambiente. Isto quer dizer que, além das condições naturais, os fatores humanos e culturais importam.
O reconhecimento formal da IG no País e responsabilidade Geográfica cabe ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – INPI, autarquia do governo federal. Por meio de diagnósticos e análises técnicas realizadas em Rondônia, pela Rede Nacional de Inovação e Produtividade – RENAPI, programa vinculado à Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, foi efetivada a contratação da empresa AJLima Consultoria em Agronegócios, para a realização de serviços técnicos de elaboração e aplicação de metodologia para a Indicação Geográfica de região produtora de café em Rondônia, por meio do contrato 016/2018.
Esta empresa está sob a liderança de Aguinaldo José de Lima. Ele esteve à frente da criação da 1ª região demarcada como produtora de café do Brasil, a Região do Cerrado Mineiro, sendo responsável pelo protocolo do primeiro pedido de reconhecimento de uma Identificação Geográfica no Brasil, em 1997. Também atuou na Denominação de Origem (DO) da Região Cerrado Mineiro – única DO de café no Brasil, na IG Norte Pioneiro, no Paraná e na IG Oeste da Bahia.
Um dos resultados imediatos no processo de IG é a identificação, o reconhecimento e a divulgação de atributos do café da região à sociedade e à indústria. A aproximação da indústria com a cadeia produtiva e sua organização traz inúmeros benefícios, como a percepção da qualidade e valor do café. Isso pode gerar novos produtos que estarão disponíveis aos consumidores.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel – ABICS, Pedro Guimarães Fernandes, o processo de Indicação Geográfica acontece em um momento muito apropriado, em que os consumidores querem saber de onde vêm os produtos que eles consomem, de que maneira está sendo produzido, se é sustentável e se agrega valor para a comunidade.
“A IG vai abrir possibilidades de comercialização do café de Rondônia, incluindo o solúvel. A indústria de solúvel é o maior comprador dos cafés do estado e exporta para mais de 180 países. Isso abre possibilidades imensas de comercialização do café solúvel, cru e isso agrega valor e todos da cadeia ganham com isso”, conclui Pedro Fernandes.
foto: Enrique AlvesA especialista em cafés especiais e mercado, Josiana Bernardes, que atua nos principais países produtores, confirma que a rastreabilidade do café é uma demanda mundial dos consumidores.
“Um café da região amazônica causa bastante interesse, principalmente porque agrega à qualidade também a sustentabilidade. A Indicação Geográfica pode valorizar ainda mais estes cafés e abrir novos mercados”, ressalta Bernardes.
Fonte: Embrapa