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CAFÉ DO ESPÍRITO SANTO ESTÁ AMEAÇADO POR IMPORTAÇÃO

Na época em que a cafeicultura do Espírito Santo amarga os maiores prejuízos de sua história – devido à seca prolongada e à consequente falta de água para irrigar as lavouras -, os produtores capixabas descobriram mais um motivo para se preocupar: o Ministério da Agricultura voltou a autorizar, no “apagar das luzes” da transição de governo, a importação de grãos verdes de café provenientes do Peru.
O setor teme que a entrada de café estrangeiro no mercado brasileiro pressione para baixo o preço dos grãos produzidos no país, o que iria impactar diretamente toda a cadeia produtiva. Segundo representantes do setor cafeeiro no Estado, a decisão do governo foi tomada sem qualquer diálogo com o setor produtivo. Outro argumento usado para barrar a importação é de que as pragas existentes nas plantações do Peru poderiam ser trazidas ao Brasil, numa ameaça às plantações de cacau e café no país.
O presidente Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faes), Júlio Rocha, teme que a entrada do café peruano também abra caminho para importação de grãos oriundos de outros países, incluindo Vietnã, que é o principal concorrente internacional do Espírito Santo na venda de conilon.
Júlio faz questão de ressaltar que a proibição definitiva da importação, que é uma cobrança antiga da cadeia produtiva, não fere as relações de livre comércio. Na avaliação dele, em países onde certos “segmentos são pujantes”, os governos buscam proteger suas economias, o que não estaria acontecendo com o Brasil.
“Fica difícil concorrer de forma globalizada com países onde a OIT (Organização Internacional do Trabalho) não se intromete, como no Vietnã, onde um trabalhador ganha US$ 3 por dia. Seria injusto para o produtor capixaba”, justifica.
As torrefadoras e multinacionais do café defendem a compra de café verde do Peru como uma maneira de melhorar suas vendas com o marketing de um blend (mistura) próprio com o grão importado. O argumento é rebatido pelo setor, que diz que o Brasil – maior produtor e exportador mundial de café – conta com variedades suficientes para atender o mercado.
Produtividade
A decisão do governo federal chega em um momento de baixa produtividade da cafeicultura capixaba. Para se ter uma ideia, a diminuição dos estoques e os entraves logísticos no Porto de Vitória fizeram a exportação de café verde diminuir 62,3% nos quatro primeiros meses de 2016. Foram comercializadas pouco mais de 44 mil toneladas, contra 113 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado. A receita obtida com a venda do produto despencou 60,6%, passando de US$ 236,8 milhões em 2015 para US$ 89,2 milhões este ano.
“Queda de braço é antiga”
O governo brasileiro chegou a liberar, por alguns dias, entre o fim de abril e o fim de maio de 2015, a importação de café verde do Peru, mas voltou atrás sob forte pressão dos agricultores. Dados estatísticos do comércio exterior fornecidos pelo Ministério da Agricultura mostram que nenhum carregamento de café verde do Peru chegou ao país naquele período.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio de Café em Geral do Estado (Sindicafé), Luiz Antônio Polese, a tentativa de abrir a importação de café para o Brasil é antiga. “Por trás disso tudo está o interesse do setor industrial e das multinacionais. Mas é uma queda de braço injusta, onde o maior prejudicado, do ponto de vista econômico, é o setor produtivo”, avalia Luiz Polese.
Governo e setor cafeeiro querem revogação da medida
A bancada do Espírito Santo em Brasília, em articulação com o governo do Estado, vai pedir ao Ministério da Agricultura que volte atrás da decisão de liberar a importação do café do Peru. “O Blairo (Maggi, novo ministro da Agricultura) ficou de abrir uma agenda conosco ainda esta semana. Já fizemos uma reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária e tivemos uma adesão da totalidade do parlamento. Não vamos deixar invadirem nosso mercado”, afirma o deputado Evair de Melo.
Para o presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Jorge Luiz Nicchio, não faz sentido importar de outro país, “sendo que o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo”. Evair calcula que, caso a importação tenha início, o prejuízo aos produtores capixabas – com a queda no preço pago aos grãos – poder chegar a R$ 1,8 bilhão por ano.
De acordo com o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a posição do governo do Espírito Santo é de que, nesse caso, não existe negociação. “Não trabalhamos com outra possibilidade que não seja a revogação dessa medida. Estamos trabalhando, junto com a nossa bancada federal, com a expectativa de revogar essa portaria até o fim do mês”, destaca.
O presidente do Sindicafé, Luiz Antônio Polese, também acredita que a medida será revertida em breve. “Essa liberação equivocada era um assunto que já estava resolvido, até porque os representantes de toda a cadeia produtiva sempre se posicionaram contra. Tenho absoluta certeza que vai haver uma nova mobilização do setor e que o Ministério da Agricultura vai rever essa posição”, pontua Polese.
Fonte: A Gazeta

Fonte: Canal do Produtor



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