A possibilidade de proteção para 36 produtos tipicamente brasileiros por meio de acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, conforme anunciou em julho o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, tem deixado produtores de cachaça da cidade de Abaíra, na região da Chapada Diamantina, na Bahia, bastante otimistas.
Produzida a partir da cana-de-açúcar, a cachaça da região é um desses produtos e, se de fato houver a proteção, os produtores esperam retomar exportações, paradas há cerca de 15 anos, e aumentar produção em até 10 vezes, conforme a associação dos produtores.
O texto do acordo que prevê proteção aos produtos brasileiros ainda é preliminar e deve passar por revisões. O acordo ainda não está em vigor e ainda depende da aprovação de todos os países envolvidos no pacto.
Além da cachaça de Abaíra, estão entre os produtos a receberem proteção no comércio o queijo Canastra, a linguiça Maracaju e o café Alto Mogiana.
A medida reconhece a indicação geográfica dos produtos tipicamente brasileiros e garante que não sejam reproduzidos em outros países, ou seja, eles ficam protegidos de imitações. Assim, pelo acordo, serão proibidas expressões como “tipo”, “estilo” e “imitação”.
As indicações geográficas têm como objetivo a valorização de produtos tradicionais. A Cachaça Abaíra é produzida artesanalmente por pequenos produtores da microrregião da cidade e região. O processo produtivo remonta de uma tradição de mais de 200 anos.
“Isso [o acordo] ainda é uma coisa que é nova e estamos ainda com o pé atrás. No entanto, a nossa expectativa é voltar a exportar, coisa que a gente não faz há cerca de 15 anos, por conta das dificuldades desse processo. O nosso maior problema hoje em dia é justamente escoar o produto e, se a gente conseguir virar esse jogo e ainda exportar, não tenho dúvidas de que nossa produção pode aumentar em até 10 vezes”, destaca Junael Alves de Oliveira, presidente da Cooperativa dos Produtores de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama).
Segundo Junael, atualmente, os produtores conseguem vender os produtos para grandes cidades baianas, como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, e para alguns estados como São Paulo, Minas Gerais e Sergipe. Chegar a um maior número de exportadores no Brasil e também no exterior é o grande objetivo dos produtores.
“Nossa primeira exportação, há 15 anos ou mais, foi para a Itália. Naquela época foi muito dinheiro. Hoje em dia, tem muito produtor desmotivado. A logística de escoamento aqui é difícil. Então, se a gente conseguir exportar ou mesmo escoar mais para o mercado interno, muitos produtores que estão parados poderia retomar a produção e começar a alavancar o negócio. Hoje, a gente as vezes passa o produto para parentes em outra cidade, por exemplo, para que esse parente possa passar para o comprador, ou faz um acordo com algum transportador e cobra o frete atrelado ao preço do produto”, afirma.
Fonte: G1