A expansão do passado encolheu, principalmente, no Brasil e na Rússia, que atravessam recessão profunda este ano. A cidade russa de Ufá receberá os líderes amanhã e na sexta-feira, mas o evento começou ontem, com reuniões preparatórias. Especialistas não têm grandes expectativas.
- Todas as economias do Brics têm seus próprios problemas, o que vem tirando o brilho da história dessas nações que vinham crescendo a taxas expressivas – resumiu o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing.
Os presidentes dos países membros participam da cúpula em meio a uma grave crise na economia brasileira. A nação, que chegou a ser uma das protagonistas das primeiras reuniões do grupo, em 2009, tem pouco a apresentar.
- O país retrocedeu 17 anos nos indicadores macroeconômicos – lamentou o economia-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está encolhendo e o país deve ser ultrapassado pela Índia como a sétima potência global nos próximos anos. As estimativas mais otimistas indicam retração econômica de 1%. Para os economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o país deve encolher 1,8% este ano. A taxa de poupança, fundamental para o investimento e o crescimento, é a menor de todos do grupo: de apenas 15,3% do PIB.
A situação da Rússia é ainda pior: verá o PIB encolher 3,8% este ano, com taxa de poupança de 22,9% do PIB, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os russos sofrem com o embargo dos Estados Unidos e da União Europeia, desde a anexação da Crimeia.
- O governo de Vladimir Putin deve tentar dar um caráter mais político à cúpula. Quer apoio dos países do grupo a Moscou. Brasil e China, no entanto, devem tentar avançar na agenda econômica – analisou a economista Lia Valls Pereira, do Ibre.
Para ela, há pouca expectativa em relação ao encontro.
- O grupo atravessa uma fase complicada, com queda dos preços das commodites, desaceleração da China e crises no Brasil e na Rússia. A Índia tem mais perspectivas de crescimento, mas a África do Sul não tem – completou Lia.
Esperança
Pelas contas de Agostini, nos últimos 30 anos, o ritmo de expansão médio da China foi de 9,3% ao ano e, nos próximos, deve ficar na casa dos 6,5%. Mas ele acredita que esse momento ruim do grupo será passageiro.
- O Brics ainda não perdeu a força. Esses países devem ser grandes potências daqui a três décadas. Essa era a expectativa e isso não mudou – disse, sem citar a África do Sul. A China e a Índia possuem grande mercado consumidor interno. O Brasil se destaca pela capacidade de produção agrícola e a Rússia, pela produção de petróleo – destacou.
Diego Bonomo, gerente executivo de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), avalia que o fator positivo do encontro será a oficialização do Banco dos Brics ou Novo Banco de Desenvolvimento (NBD); e a formalização do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), para socorrer os países do grupo com rombos em conta-corrente. Ontem, os bancos centrais do bloco fecharam acordo para a criação do arranjo, que conta com US$ 100 bilhões em recursos.
Levy chefiará conselho do NBD
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, será o presidente do Conselho de Administração do Novo Banco de Desenvolvimento (BND) ou Banco do Brics, que entra em operação a partir de janeiro de 2016. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ocupará o cargo de suplente. A escolha foi publicada no Diário Oficial da União de ontem. Com sede em Xangai, o banco passou a existir oficialmente na semana passada, quando o parlamento da China finalmente ratificou o acordo de criação da instituição. O capital inicial do banco será de US$ 50 bilhões, em partes iguais de cada país membro, com aportes em sete anos. Neste ano, o Brasil precisará desembolsar US$ 150 milhões para a primeira parcela, de acordo com uma fonte do governo. A primeira presidência será da Índia e a rotatividade ocorrerá a cada cinco anos.
Fonte: Correio Braziliense