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BRASIL SENTE A DESACELERAÇÃO CHINESA

Nas últimas semanas, a China tem emitido sinais duvidosos com relação ao futuro econômico do país, que nos últimos anos cresceu em ritmo galopante. Em julho, as bolsas locais tiveram o pior resultado em seis anos, com recuo de 30% – despertando o temor de que uma bolha financeira esteja estourando no país.

O Brasil assiste com atenção ao desenrolar da situação econômica da China. Entre janeiro e junho, as exportações brasileiras para o gigante asiático já recuaram 22,6% em receita na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) – passaram de US$ 23,880 bilhões para US$ 18,475 bilhões.

- O Brasil vê a situação da China com preocupação porque, de uma hora para outra, esse quadro poder mudar. Quando a bolha aparece, fica claro que já ocorreu alguma coisa por baixo de que não se tinha conhecimento – afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). 

Nos últimos anos, a China assumiu papel de protagonista no comércio exterior brasileiro. Embora as vendas brasileiras tenham recuado neste ano, a economia chinesa ainda responde por 19,6% da pauta de exportação do país.

Commodities

A explicação para a forte queda no comércio com a economia chinesa pode ser explicada pela desaceleração dos preços das commodities. A China é uma grande importadora de produtos básicos e qualquer sinalização de piora no crescimento impacta fortemente os preços. No primeiro semestre, o valor médio do preço da soja recuou 23,53%, o do minério despencou 52,33% e o do petróleo recuou 48,50%.

Além dos sinais de perda de apetite da China, o recuo nos preços foi influenciado pela expectativa de retomada da economia dos Estados Unidos.

- Quando, no começo de 2014, começou a se cogitar a alta dos juros americanos, os preços das commodities cederam – afirma Fabio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO Associados. O juro global vai no sentido oposto dos preços. Se o juro americano sobe, os preços das commodities caem. Se a economia chinesa perde fôlego, os preços também caem – explica.

Para Silveira, no entanto, apesar do temor gerado pelo tombo no mercado financeiro chinês no mês passado, os preços dos produtos básicos não devem cair mais.

- Os preços das commodities em grande medida já caíram. A baixa do crescimento chinês já estava precificada no mercado – o que nos diz que os preços devem ficar, na margem, mais ou menos os mesmos daqui para frente. A queda nas bolsas é um indicador antecedente da queda no ritmo de crescimento da China em 2016. Se o país cresce menos, há mais uma pressão baixista sobre os preços, mas uma tendência de leve baixa, pois a maioria das commodities já caiu de forma muito acentuada e encontrou seu piso – disse ele.

Dados compilados pela Fundação Centro Estudos e Comércio Exterior (Funcex) revelam que soja, minério de ferro e petróleo equivalem a 81% do que é exportado pelo país para a China.

- O Brasil acaba ficando dependente do preços das três commodities – afirma Daiane Santos, economista da Funcex.

Desses produtos, por ora, a soja deverá ser a menos afetada, uma vez que 80% da commodity já foi embarcada este ano.

- O volume exportado para a China irá crescer em 2015, mas o preço da sojano mercadointernacional caiu. Internamente, o impacto para o produtor é limitado pela alta do dólar, mas, na balança comercial, há queda de receita – diz Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado.

Só neste ciclo, Estados Unidos, Brasil e Argentina devem acumular um estoque de mais de 33 milhões de toneladas do grão.

- Tivemos um ano de clima bom e de safra recorde na América do Sul e nos EUA, o que gera excedentes e baixa os preços – diz.

No caso do minério de ferro também há um descompasso entre oferta e demanda. No mercado internacional, a primeira avança 7%, enquanto a segunda cresce apenas 2%. Já o petróleo é a principal incógnita – a entrada do Irã no mercado deve provocar uma excedente do produto no mercado, o que tende a reduzir ainda mais o preço.

- Claramente o cenário não é bom para o petróleo, e isso afeta a economia brasileira tanto na produção como na exportação – diz Castro, da AEB.

Balança

Para Fabio Silveira, no entanto, a queda dos preços não deve impactar de forma significativa a balança comercial brasileira em 2015.

- A queda de preços gera um desconforto, mas a balança vai ter um saldo positivo, um superávit, por causa da drástica queda das importações brasileiras – disse.

Esse queda, afirma ele, é ocasionada tanto pela recessão do país em 2015 como pela própria queda de preços das commodities, uma vez que o País também importa produtos básicos, como petróleo.

- O Brasil vai fazer o ajuste clássico de toda a economia que entra em recessão: passar a ser superavitária. A saída de uma recessão é no setor externo – é a única via possível – afirmou.

Fonte: Gazeta do Povo



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