SOJA-E-SOL

BRASIL DEVE COLHER SOJA 15 DIAS ANTES E CHINA JÁ CONTA COM ESSA OFERTA

As chuvas se adiantaram, os produtores se adiantaram e o Brasil deverá colher soja de 10 a 15 dias mais cedo nesta temporada 2018/19 com um ritmo que tem sido considerado recorde. Segundo os últimos números da consultoria AgRural, 60% da área destinada à oleaginosa no país já foi semeada, contra 43% do ano passado e frente à media dos últimos anos.

Nesse ritmo e com a colaboração do clima, é bastante possível que as primeiras colheitadeiras já estejam nos campos a partir da segunda quinzena de dezembro. E a China já está esperando por essas primeiras ofertas de soja brasileira. Com a guerra comercial com os EUA ainda em andamento, os importadores seguem mirando o produto do Brasil e esperam estes primeiros lotes.

O que tem confirmado esse cenário é a baixa procura pelo grão norte-americano, como mostram os números das vendas e dos embarques norte-americanos trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), além dos frequentes cancelamentos por parte da nação asiática.

E enquanto isso acontece, as unidades recebedoras de grãos em estados produtores norte-americanos vêem as pilhas de soja fora dos silos crescerem e grandes volumes de oferta sendo expostos ao risco.

Na imagem abaixo, do The News York Times, o gerente de uma dessas unidades começou a empilhar 1 milhão de bushels de soja em uma área aberta ao lado dos silos. O volume será coberto com lonas e a esperança é de que os preços subam antes de os grãos apodrecerem.

“Isso mostra que eles (chineses) estão mesmo esperando a safra sul-americana. Está pintando uma safra recorde na América do Sul, muito provavelmente será safra recorde no Brasil, não será na Argentina, mas é uma safra 30% maior do que no ano passado, Paraguai com aumento de 10% e no caso do Uruguai deve dobrar de tamanho. Todos os países que têm a China como principal cliente na exportação devem ter grandes safras 2018/19 e isso vai trazer os compradores chineses para os portos sul-americanos”, explica Carlos Cogo, consultor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.

E essa antecipação da colheita também poderá ser mais um diferencial para a soja brasileira, ainda segundo Cogo, quando o assunto é logística.

“Para quem vende é bom. Você encontra os portos desocupados, com menor custo operacional, custo de frete para chegada até o porto tende a ser menor do que no pico da colheita de março a abril. Então, é muito provável que a gente possa exportar um grande volume de soja em janeiro de 2019″, explica Cogo.

Mesmo com essa antecipação da colheita no Brasil, o país deverá registrar um de seus menores estoques de passagem da história pela intensa demanda do maior comprador mundial focada na oleaginosa brasileira.

“Portanto, um início precoce da colheita pode ajudar a atender à demanda de processadores e da China. O mercado está preocupado se a China irá conseguir evitar a compra de soja dos EUA até que a nova safra esteja disponível no Brasil”, acredita Michael Cordonnier, PhD em agronomia e um dos mais respeitados especialistas norte-americanos em agricultura da América do Sul.

Diante dessas perspectivas e também mnotivados por um dólar mais baixo em tempos de preços pressionados na Bolsa de Chicago, os negócios estão mais limitados no mercado nacional.

“Nós estaremos enxutos de oferta internamente. O restante da safra deste ano já começa a ser melhor paga no interior do que nos portos, ou seja, os negócios locais já começam a ser melhores. E na safra nova, os prêmios ainda estão distantes da realidade do prêmio do momento, sem estar condizente com a realidade da taxação chinesa sobre a soja americana”, explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

Para o executivo, os chineses estão mais atentos até mesmo do que os brasileiros sobre o ritmo recorde do plantio deste ano e estão fazendo suas contas. “Eles têm um estoque grande de segurança de soja e podem ir trabalhando o estoque para esperar a nova safra brasileira sem entrar agressivamente, ou voltar a cancelar esses contratos que estão cancelando nos Estados Unidos”, diz.

A comercialização da safra nova no Brasil está atrasada. Não somente pelos preços atuais que não são atrativos ou pela questão do tabelamento dos fretes que ainda mantém os produtores sofrendo com a insegurança, mas pela certeza de uma demanda intensa que vem pela frente por parte dos chineses.

“O produtor não está muito preocupado não, porque ele sabe que tem muita demanda internacional, então ele não está correndo para fechar essa soja desesperadamente”, acredita Brandalizze.



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