Após cinco anos consecutivos de oferta excessiva de pluma, a produção global (23,15 milhões de toneladas) prevista para a safra 2015/16 está abaixo do consumo, estimado em 24,36 milhões t. Os estoques mundiais, entretanto, continuam muito altos (entre 22,02 milhões t e 20,81 milhões t, considerando os estoques iniciais e finais) e os preços internacionais se mantém “fracos”. Além disso, a demanda por algodão continua crescendo numa taxa baixa como resultado do lento crescimento da economia mundial e da forte concorrência com as fibras sintéticas, especialmente com o poliéster.
Estes pontos abrem a Declaração final da 74ª Reunião Plenária do Conselho Consultivo Internacional do Algodão (Icac na sigla em inglês), encerrado em dezembro, em Mumbai, na Índia – país que lidera atualmente a produção mundial de pluma (6,27 milhões t). Com o tema “From farm to fabric: the many faces of cotton” (Da fazenda ao tecido: as muitas faces do algodão), o evento reuniu 398 pessoas, incluindo representantes de 28 países-membros, de outros 13 países e ainda de nove organizações internacionais.
Mato Grosso esteve presente na reunião plenária do Icac por meio de uma delegação integrada pelo ex-presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Sérgio De Marco, o diretor executivo Décio Tocantins, e Sávio Pereira, da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). João Luiz Ribas Pessa, também ex-presidente da Ampa, integrou a delegação da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), como representante do Brasil no Painel Consultivo do Setor Privado (PSAP) e no Comitê sobre padronização internacional da classificação do algodão por instrumentos (CSITC).
De acordo com a Declaração, que é um registro dos principais pontos abordados ao longo da semana, a Secretaria do Icac estima que o apoio dos governos à produção do algodão alcançou números recordes em 2014/15: US$ 10,4 bilhões – o maior volume de recursos desde 1997/98, quando esse tipo de dado passou a ser copilado.
- Grandes estoques de pluma acumulados como resultado da intervenção governamental de 2011/12 a 2014/15 continuam sendo fator chave na determinação dos fundamentos do mercado para o futuro próximo – alerta o Icac.
Em outro ponto da Declaração, o Icac diz que a promoção de maior demanda por algodão requer uma abordagem multifacetada e, nesse contexto, o Conselho apoia as recomendações recebidas do PSAP. Segundo o Painel Consultivo do Setor Privado, os países-membros devem garantir que as etiquetas de produtos têxteis com informações sobre o teor de fibras estejam mais visíveis para permitir que os consumidores façam suas escolhas melhor embasados e também para promover transparência na cadeia de suprimentos.
Além disso, a Secretaria do Icac deve conduzir um estudo sobre os fatores econômicos por trás do crescimento da produção de poliéster e de sua demanda para que os países produtores da fibra natural possam compreender melhor a dinâmica da competição entre as fibras. Outra medida aprovada é que os países membros continuem a abordar o setor algodoeiro de uma “forma holística”, implementando medidas para estimular a diversificação crescente no uso do algodão e uma utilização mais ampla de seus subprodutos em toda a cadeia de valor.
O Conselho também aprovou a recomendação do PSAP sobre a necessidade de patronizar certificados fitossanitários e a importância de que a Secretaria do Icac trabalhe com os países-membros no sentido de aumentar a consciência desse tema no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Outro ponto aprovado foi a necessidade de melhorar a execução de decisões arbitrais de modo a promover a sustentabilidade do comércio mundial do algodão, de acordo com o que foi acordado na chamada Convenção de Nova York, de 1958. Os membros do Icac exortaram a necessidade de progresso nas negociações da OMC.
- A 10ª Conferência Ministerial da OMC, que acontecerá em Nairobi, este mês, é uma oportunidade chave para demonstrar progressos concretos no sentido de remover medidas governamentais que distorcem a produção e o comércio do algodão – afirma o Icac em sua declaração final.
A possibilidade de redução no uso de produtos agroquímicos nas lavouras foi outro ponto debatido durante a Reunião Plenária, com a participação de especialistas, sendo que um dos pontos abordados foi a importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
- Foi observado que o algodão tem um imenso potencial de aumento de produtividade em alguns casos e que os programas de melhoramento são importantes, porém a interação entre novas variedades e manejo é vital para obter mais produtividade – sustenta o Icac em sua declaração final.
A questão do efeito das mudanças climáticas sobre a produção de algodão também foi debatida em Mumbai e vários países relataram que os padrões climáticos vêm sendo cada vez mais instáveis com impactos na produção algodoeira.
- Foi destacado que medidas para aumentar a matéria orgânica no solo podem ajudar a manter a fertilidade do solo a longo prazo e, ao mesmo tempo, contribuir para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas – observa o Icac.
Os participantes da 74ª Reunião Plenária do Icac concordaram quanto à importância de melhorar as estatísticas do algodão em nível mundial como base para melhorar a tomada de decisões pelos países membros.
A próxima reunião plenária do Icac acontecerá em Islambad, no Paquistão, de 31 de outubro a 4 de novembro de 2016.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Ampa com informações do Icac