Com origem 100% paranaense, o gado Purunã está perto de cair na boca do povo, literalmente e sem dever nada à concorrência pesada de Nelore e Angus.
Quem diz é o chef Junior Durski, dono e criador do Madero, que ostenta o título de “Melhor Hambúrguer do Mundo”. O chef provou e aprovou a carne do Purunã, tanto que decidiu incluir o boi com RG do Paraná no cardápio da rede.
- Ele gostou principalmente da novilha, do sabor, marmoreio, da capa de gordura. Podemos dizer que a homologação já passou, agora é uma questão de acertar a logística de entrega – conta o diretor de marketing do Madero, Leandro Lorca, a respeito da parceria que está sendo firmada entre o restaurante, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – responsável pelo projeto Purunã -, a Associação de Criadores da Raça Purunã (ACRP) e o Frigorífico Padrão Beef, de Cascavel, onde está concentrado o rebanho no estado.
A ideia é que o acordo entre em prática ainda neste ano, com três pratos à base do Purunã: bife de chorizo (contrafilé), picanha e assado de tira (costela). Inicialmente, eles serão servidos apenas na loja Prime, que fica no Largo da Ordem, em Curitiba, mas existe a possibilidade de expandir para as outras.
- É uma carne super premium, que briga com os tops de qualidade disponíveis no Brasil. Ela tem uma característica muito parecida com o Angus, pensando no marmoreio e maciez – salienta Lorca. – Esperamos ter também cortes para hambúrguer. Por enquanto ainda não porque o volume que a gente precisa é muito alto – acrescenta.
Quem é o Purunã?
Cruzamento de quatro raças bastante distintas, em um trabalho de desenvolvimento genético que durou quase 30 anos no Iapar, o Purunã herdou as principais características de cada uma delas: o volume de carne do Charolês e do Canchim; o marmoreio do Angus, que é a gordura entremeada nas fibras que dá sabor e maciez aos cortes; e a resistência e rusticidade do Caracu. A raça é a primeira 100% paranaense e foi reconhecida pelo governo federal em 2017.
Demanda maior que a oferta
Hoje, aliás, o único impedimento para que o Purunã seja mais explorado são os números ainda limitados do rebanho.
- O consumo mensal do Madero é de 200 toneladas e é só carne de primeiríssima qualidade. De cada boi, eles pegam de 20kg a 30kg. Então, precisaríamos de uns mil animais por mês. E não temos volume pra isso – reconhece o diretor de inovação e tecnologia do Iapar, Tadeus Felismino.
Reconhecida em abril de 2017, depois de três décadas de pesquisa, a raça tem atualmente de 7 mil a 8 mil animais registrados, ou seja, uma representatividade minúscula – 0,004% no melhor dos cenários – em relação às 218 milhões de cabeças de gado no Brasil. Por isso, a parceria com o Madero – rede que chamou a atenção, inclusive, do apresentador e empresário Luciano Huck – é vista como uma das melhores vitrines possíveis para a viabilização do Purunã.
- Nossa meta é viabilizar a raça, foi o que buscamos colocando um ‘pit bull’ atrás da gente – compara Tadeu Felismino. – Na medida em que temos um potencial de mercado desses, uma demanda tão grande quanto essa, nós mesmos temos que correr. -
Como o caminho a ser percorrido é grande – a meta do Iapar é chegar a 30 mil animais em cinco anos -, o trabalho vem sendo feito em várias frentes. Além da parceria com o Madero, uma empresa paranaense de genética animal, dos Campos Gerais, assumiu o desafio de multiplicar o Purunã.
- Se fosse só o Iapar, demoraria muito. Eles estão fazendo um trabalho espetacular, com fertilização in vitro para gerar embriões e, com isso, um processo que demoraria 15 anos para pode levar apenas cinco – explica Felismino. – Metade do resultado volta para o Iapar e a outra metade vai para a empresa, que é quem vai comercializar com produtores. Nossa parte é manter a base genética da raça e o que tiver de material excedente também forneceremos para o mercado em leilões. -
Tipo exportação
Paralelamente, a associação de criadores – hoje com 42 produtores credenciados – tem atuado na propaganda do Purunã entre criadores do Brasil e até do exterior.
- Estive no Canadá conversando sobre colocar o Purunã no mercado internacional. É uma raça que se adapta muito fácil. Temos animais em Palmas, no Sul do Paraná, onde é bastante frio, e no Norte do país também, que é quente. Era algo que já tínhamos em mente durante a criação da raça, mas que agora temos notado a campo – defende o presidente da ACPR, Piotre Laginski.
A rusticidade já despertou o interesse de criadores do Canadá, Nova Zelândia, Canadá e Turquia.
- Eles ficaram muito empolgados, porque são pessoas que conhecem as raças, e quando a gente mostrou a configuração, como foi formado, viram com bons olhos o potencial – diz Laginski. – Acredito que 2018 vamos ter uma grande expansão. -
Fonte: Gazeta do Povo
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo