Comunicar imediatamente à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) de alguma enfermidade em um país-membro será uma ação possível com o World Animal Health Information System (Wahis) — sistema mundial de informação sobre sanidade. O aplicativo, disponível pela internet, permitirá o acesso aos usuários autorizados, em tempo real, a dados sobre a condição dos países. Nesta entrevista, Luis Barcos, representante da OIE para as Américas, afirma que o acesso mais fácil à informação é essencial para o desenvolvimento da sanidade animal no mundo.
Internet e aplicativos estão chegando para ajudar na vigilância sanitária?
Estas tecnologias são utilizadas pela maioria das pessoas. Inclusive trabalhadores de fazendas têm seus smartphones. Creio que seja uma forma de facilitar o acesso à informação e ao conhecimento. Além disso, a ideia é que haja a possibilidade de receber informação e também de enviar. Receber já é uma prática mundial e, agora, acreditamos que seja possível também reportar enfermidades.
Que diferença pode fazer essa via de duas mãos dos dados?
Atualmente, um pequeno produtor rural que reside em uma zona distante, para notificar uma enfermidade, na melhor das hipóteses, demora um ou dois dias, até chegar ao escritório do serviço veterinário. Com o smartphone, pode avisar sobre algo fora do normal e prevenir as autoridades. Pode ser que não haja nada, mas é um aviso. Então, parece-me que há um avanço enorme e há que se utilizar essa tecnologia. Será uma boa ferramenta. A notificação de uma enfermidade é um tema importantíssimo. É como avisar que há um incêndio. Tem de chamar os bombeiros para que o fogo não se espalhe. Com a notificação de enfermidades, é igual. O objetivo é avisar muito rápido para que se possa parar o foco e para que não se difunda. Por isso, se insiste tanto em notificar.
A OIE passou 15 dias avaliando o serviço veterinário oficial no Brasil. O que foi recomendado a partir da visita?
A principal recomendação foi que o Brasil não deveria só concentrar seus esforços no combate à febre aftosa. Mas também aproveitar a estrutura para atuar em enfermidades que afetam animais e humanos como tuberculose, brucelose, raiva e influenza. Outra recomendação dada foi trabalhar de forma mais coordenada com serviços veterinários estaduais e municipais.
O Brasil está em condições de iniciar esse trabalho?
Creio que sim. Estivemos em Brasília quando a presidente (Dilma Rousseff) anunciou o Plano de Defesa Agropecuária e percebemos que levaram em conta esta recomendação da OIE, pois ela anunciou um trabalho muito mais estreito com Estados e municípios e também com o setor privado. Como resultado da recomendação, se firmou um ato de compromisso entre o governo do Brasil e setores privados.
Como o senhor vê a iniciativa do Paraná de buscar a retirada da vacina e do Rio Grande do Sul de trilhar o mesmo caminho para facilitar a conquista de mercados?
Eu diria que quando um país elimina uma doença e se passam cinco, sete, 10 anos sem foco, o produtor de gado se pergunta “por que sigo vacinando?”. Mas a decisão não se pode tomar de forma isolada.
O veredito final é do governo federal. Sem dúvida, quando passam muitos anos sem foco, há inquietude em parar de vacinar. É válido querer parar. Mas querer não é a única coisa. Tem de prevenir. Porque há países que não tiveram vacina por muitos anos e depois tiveram focos como Japão, Coreia do Sul e mesmo a Europa.
O senhor já esteve no Rio Grande do Sul?
Sim. O Rio Grande do Sul tem uma boa situação sanitária, mas tem de discutir o fim da vacinação com autoridades do Ministério da Agricultura. Isso é uma decisão do Brasil. O status do Rio Grande do Sul é excelente. Para tomar uma decisão de deixar de usar a vacina, há que fazer muitas coisas de vigilância, de qualidade de serviço veterinário, de controle de fronteiras, de identificação e movimentação de gado.
Agora que o RS tem certificado de zona livre de peste suína clássica, fica mais fácil conseguir o da aftosa?
A peste suína clássica é uma doença diferente e o sistema de produção de suínos tem suas características. Portanto, não é a mesma coisa, mas um certificado da organização sempre é válido.
Fonte: Zero Hora