A estiagem prolongada e as altas temperaturas do semiárido mineiro têm desafiado produtores, técnicos e pesquisadores a buscarem soluções de convivência com os rigores da seca para garantir a manutenção da produção, especialmente da agricultora familiar, base principal da economia da região.
Uma alternativa encontrada pelo Instituto de Ciências Agrárias (ICA), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Montes Claros, foi a implantação de uma Biofábrica para produção de mudas sadias de plantas resistentes à seca em larga escala, que serão distribuídas a agricultores da região.
Lançado nesta segunda-feira (13/11), o empreendimento é uma parceria da UFMG com a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), e vai receber atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidade, com foco em biotecnologia, melhoramento genético de espécies vegetais e produção de mudas agrícolas.
Durante o lançamento, o professor Demerson Arruda Sanglard, coordenador técnico do projeto no âmbito da UFMG, explicou que as mudas cultivadas na Biofábrica são selecionadas e ambientadas às condições climáticas da região e chegarão ao produtor com uniformidade genética, livres de doenças e pragas, com maior potencial produtivo e crescimento mais rápido.
Segundo o professor, o projeto inicia com capacidade de produção de 265 mil mudas/ano, beneficiando cerca de 1.500 famílias.
- Estamos produzindo mudas de espécies agrícolas nativas e de interesse no mercado regional, como banana, palma forrageira, mandioca e alho, que serão distribuídas de forma gratuita aos produtores, que também receberão apoio técnico – explica.
Presente à solenidade de lançamento da Bofábrica, o diretor administrativo da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), Ricardo Peres Demicheli, destaca que o Norte de Minas está incluído em dois importantes projetos realizados pela Agência.
- A Anater está realizando um projeto piloto e o projeto D. Helder Câmara, que irão beneficiar 6.100 famílias em cerca de 140 municípios mineiros com assistência técnica e extensão rural, até 2020, e a biofábrica tem profunda convergência com as ações previstas nos dois projetos. Certamente, a parceria com a UFMG vai potencializar ainda mais os resultados desses projetos, promovendo mais qualidade de vida para o produtor familiar e maior segurança alimentar para a região – avalia.
Segundo o diretor, nos dois projetos, a Anater vai investir R$ 23.759.516,00 com ações realizadas em parceria com a Emater-MG.
Biofábrica
Para instalação da estrutura física e laboratorial da biofábrica, o investimento é de R$1.344.000,00 do Governo Federal. A estrutura contará com laboratório, estufas, viveiros, área de preparo de insumos, equipada com materiais e instrumentos como autoclaves de grande porte para esterilização, câmara de fluxo lamina para a manipulação e trabalho com as mudas, incubadoras para o crescimento vegetal, entre outros, em uma área 5 mil metros quadrados. A expectativa é que toda a estrutura esteja concluída até o fim de 2018, aumentando a capacidade de produção para um milhão de mudas/ano.
Troca de saberes
O vice-diretor do ICA, Helder dos Anjos Augusto, diz que a Biofábrica vai possibilitar a troca de saberes entre a universidade e a comunidade, através da integração entre professores, estudantes e produtores rurais, impulsionando a produção da agricultura familiar e a sustentabilidade da região.
- Uma parte da nossa missão é o saber instituído, mas também temos o saber construído que extrapola as salas de aula e que possibilita formar quadros técnicos superiores para atender as demandas da sociedade, através da técnica e da ciência – destaca.
A solenidade de lançamento encerrou com uma palestra do presidente da Frente Parlamentar de Assistência Técnica e Extensão Rural da Câmara, o deputado federal mineiro Zé Silva, que falou sobre – os desafios da agricultura no Norte de Minas. -
Durante a palestra, o deputado, que é engenheiro agrônomo, disse que apoiar a UFMG é importante para fazer a integração entre a academia, que gera as inovações tecnológicas, e os produtores rurais, principalmente da agricultura familiar, que são os responsáveis por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
- Além da oferta de mudas sadias, que vão potencializar a produção agrícola, a integração da universidade com o campo vai promover a troca de saberes, possibilitando a convivência com a seca de forma sustentável, incentivando, inclusive, a recomposição das matas ciliares, principalmente nesse momento de crise hídrica e que precisamos preservar nossas nascentes, rios e córregos – conclui.
Fonte: Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário
Foto: Jerúsia Arruda