A inclusão de sorgo na dieta pode contribuir para a manutenção do índice glicêmico. Foi o que revelou pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (MG). Os resultados foram divulgados no artigo “Consumption of a drink containing extruded sorghum reduces glycemic response of the subsequent meal” publicado no European Journal of Nutrition,
- O controle glicêmico é essencial para prevenir a manifestação de diabetes em indivíduos predispostos e o desenvolvimento de outras complicações associadas à doença – esclarece a nutricionista Pamella Cristine Anunciação, que estudou o assunto durante seu doutorado.
O trabalho avaliou o efeito do consumo de uma bebida contendo sorgo extrusado na glicemia pós-prandial de uma segunda refeição, em indivíduos que possuem peso adequado para sua estatura (eutróficos) e que têm uma taxa de glicose e insulina normais (normoglicêmicos). Resultados evidenciaram que a inclusão de sorgo na dieta pode manter a glicemia mais constante, o que revela potencial do cereal para ser empregado no tratamento nutricional de pacientes com diabetes ou pré-diabetes.
O estudo foi conduzido no Laboratório de Análise de Vitaminas da UFV, em Minas Gerais, e coordenado pela professora Helena Maria Pinheiro-Sant’Ana. Todos os trabalhos foram feitos em parceria com os pesquisadores Valéria Vieira Queiroz e Cícero Bezerra de Menezes, da Embrapa Milho e Sorgo e Carlos Wanderlei Piler de Carvalho, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ). O artigo também é assinado pelos nutricionistas Leandro de Morais Cardoso, do campus de Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Rita de Cássia Gonçalves Alfenas, da UFV.
Segundo Pamella Anunciação, alguns estudos em animais já apontavam que o consumo crônico de extratos dos compostos fenólicos do sorgo melhoravam o metabolismo da glicose.
- Diante disso, o objetivo dessa pesquisa foi avaliar o efeito do consumo de bebidas contendo sorgo extrusado, e o perfil de compostos bioativos, na glicemia pós-prandial de uma segunda refeição, em indivíduos eutróficos e normoglicêmicos – disse, explicando que o sorgo foi oferecido na forma de bebida, por causa da facilidade de consumo.
De acordo com a pesquisadora Valéria Queiroz, a bebida que apresentou melhor resultado foi desenvolvida a partir de grãos de sorgo do genótipo SC319, selecionado pela Embrapa Milho e Sorgo entre outros 100 genótipos avaliados, como tendo maiores teores de compostos fenólicos (especialmente taninos e 3-desoxiantocianidinas), fibras e amido resistente.
Segundo Pamella, esses compostos atuam reduzindo a resposta glicêmica.
- As fibras dietéticas chegam intactas ao intestino, e, assim, o esvaziamento gástrico é mais lento, diminuindo a taxa de digestão e absorção dos carboitrados – detalha.
Ela ressalta que os compostos fenólicos do sorgo podem contribuir para o controle glicêmico, porque modulam a absorção dos carboidratos.
- Os taninos do sorgo podem reduzir a atividade da enzima α-amilase, que digere o amido. Assim, a taxa de digestão e absorção desse carboidrato, que é o principal constituinte das bebidas contendo sorgo, pode ter sido reduzida, resultando em menor resposta glicêmica. Além disso, os taninos podem interagir com o amido, formando o amido resistente, que não é digerido. Consequentemente, há uma redução na resposta glicêmica pós-prandial – explica.
Tudo isso é possível porque o sorgo integral é um cereal rico em fibras e a “variedade” utilizada continha também altos teores de amido resistente, composto que é lentamente digerido pelo organismo.
- Isso permite uma absorção de glicose mais lenta, evitando, assim, picos na glicemia – explica Pamella Anunciação.
Além disso, pesquisas já comprovaram que o consumo de refeições com baixo índice glicêmico e rico em fibras não só diminui a glicemia, mas também melhora a glicose e a insulina após a refeição subsequente. Pamella Anunciação explica que o índice glicêmico é um parâmetro utilizado para classificar os alimentos contendo carboidratos de acordo com a resposta glicêmica que eles promovem em relação à resposta observada após o consumo de um alimento de referência (glicose). Os alimentos que são rapidamente digeridos e provocam maior aumento na resposta glicêmica apresentam alto índice glicêmico, enquanto aqueles que estão associados a uma menor resposta glicêmica revelam valores menores de índice glicêmico.
- Neste caso, o sorgo pode contribuir, pois os produtos à base de sorgo integral possuem índice glicêmico mais baixo e apresentam potencial anti-diabetes, por causa da ação sinérgica de seus nutrientes (como cálcio, magnésio, zinco e amido resistente) e compostos bioativos, especialmente compostos fenólicos e fibras alimentares. Esse efeito pode variar, dependendo do perfil de nutrientes dos grãos de sorgo, da forma de preparo e das condições de processamento – afirma Pamella Anunciação.
Resultados
Bebidas contendo sorgo, especialmente a que continha o genótipo SC319, resultaram em menor glicemia pós-prandial nas duas horas após o consumo de uma solução glicosada (a refeição subsequente), reduzindo os picos da glicemia.
- Portanto, os taninos, as 3-desoxiantocianidinas, as fibras e o amido resistente, que são os compostos presentes em maiores concentrações nesse genótipo SC319, favoreceram essa menor resposta glicêmica – diz Pamella Anunciação, explicando que as bebidas foram consumidas 30 minutos antes de avaliar a resposta à solução glicosada, para garantir que a resposta observada refletisse a produção e a liberação de insulina estimulada pelo sorgo.
Pamella Anunciação considera que a manutenção da glicemia próxima aos níveis normais é o principal objetivo da intervenção nutricional em pacientes com diabetes ou pré-diabetes.
- Os picos de glicemia elevada podem contribuir para o desenvolvimento das complicações associadas ao diabetes, especialmente as doenças cardiovasculares. Nesse contexto, a adição de sorgo integral à dieta é uma alternativa viável para o controle de glicemia nesses pacientes. Portanto, o efeito do sorgo observado na resposta glicêmica é de relevância clínica, especialmente para aquelas pessoas que apresentam diabetes do tipo 2. Nesses pacientes, a síntese de insulina está reduzida e é preciso algum estímulo para aumentar a secreção desse hormônio. O consumo de sorgo pode, então, levar a uma melhor resposta glicêmica nesses pacientes – conclui a nutricionista.
Porém, ela ressalta que, mesmo com tais resultados, são necessárias mais pesquisas.
- Neste estudo, o efeito sinergético dos compostos bioativos do sorgo contribuíram para uma menor resposta glicêmica. Mas é preciso, ainda, avaliar quais compostos bioativos do sorgo são mais efetivos no controle da glicemia, e também sugerimos que sejam realizados estudos que avaliem a resposta insulêmica pós-prandial – orienta.
Fonte: Embrapa