O resgate dos olivais autóctones (nativos) e a valorização de azeites extravirgem monotipo, ou “puros”, são responsáveis pela competitividade da indústria italiana, segundo maior produtor mundial.
Os dados do Conselho Internacional do Azeite mostram que a Itália deve produzir 470.000 toneladas na safra 2015/2016, volume 112% superior ao colhido no ciclo passado, quando o setor sofreu a pior crise de sua história, devido ao clima adverso e ao ataque de pragas.
A Itália enfrenta uma restrição física para expandir a produção.
- Nossos azeites são fabricados a partir de cultivares que devem ser, em certos casos, mantidas em condições que determinam uma limitação e um maior custo de produção – afirma Nicola Di Noia, responsável pelo setor de azeite da Confederação dos Empreendedores Agrícolas do país (Coldiretti).
Na Ligúria, por exemplo, sobre as encostas com uma forte inclinação, é difícil cultivar azeitona. Assim como nas colinas da Toscana. O mesmo ocorre na província de Latina, no Lácio, onde muitas oliveiras estão sobre rochas.
- Nessas condições, as árvores produzem pouco porque existe pouco terreno, mas o pouco que produzem é excelente – diz Di Noia.
Ele acrescenta ainda que algumas cultivares produzem pouco devido a características da própria planta, e não só do relevo.
Foi nessa “excelência” que os produtores decidiram apostar. A Itália é o país com o maior número de variedades autóctones de oliva do mundo. São quase 540 cultivares catalogadas, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Para se ter ideia da importância dessa diversidade, a Espanha conta com pouco mais de 180 variedades autóctones, seguida da Grécia, com 52.
Justamente por causa da baixa produtividade, muitos agricultores tinham desistido das culturas autóctones, substituindo-as por cultivares mais produtivas ou simplesmente abandonando os plantios. No final da década de 1990, porém, algumas regiões italianas resolveram mudar a estratégia dos negócios.
Luciano D’Aponte, responsável pela valorização agroalimentar na Campania (região ao sul da Itália cuja capital é Nápoles), conta que, nos anos precedentes, as variedades difundidas no território eram toscanas, como frantoio e leccino, que são mais produtivas.
- Quando um olivicultor local procurava material, eram essas que encontrava e, aos poucos, elas estavam se difundindo em nossa região – diz D’Aponte.
Ele lembra que os técnicos estimularam os produtores a resgatar variedades autóctones, para obter azeites particulares, bem diferenciados em relação ao perfume e às características organolépticas.
- E hoje chegamos aos azeites monovariedade ou monotipo, feitos com apenas um tipo de azeitona. Essa foi a escolha para fazer azeite de grande qualidade. Foi uma estratégia – comemora.
O resultado começa a ser sentido no mercado agora. A região possui mais de 60 variedades autóctones difundidas e com elas produz azeites extravirgem de altíssima qualidade. Cinco deles possuem selo DOP (Denominação de Origem Controlada), sendo um destes monotipo. Com o reconhecimento da qualidade, os produtores ganham no preço. Enquanto uma garrafa de azeite extravirgem comum (feito com uma mistura de azeitonas qualquer) custa de 4 a 5 euros em um supermercado da Itália, uma de azeite autóctone ou monotipo pode chegar a custar 20 euros.
- Se não podemos produzir mais e crescer em volume (como a Espanha), podemos fazer melhor e cobrar mais, pois o produto vale mais – avalia D’Aponte.
No município de Gaeta, no Lácio (centro da Itália), o produtor Cosmo Di Russo também começa a sentir a mudança no cenário local após o investimento na azeitona tipo itrana.
- A olivicultura aqui na zona sofre com o problema da extrema fragmentação. Os produtores tem à disposição pequenos terrenos irregulares, o que torna a olivicultura cara. Por causa disso, muitos deles abandonaram os plantios. Em 2009, decidimos nos unir a outros pequenos produtores, pegamos em aluguel várias árvores itranas e passamos a produzir azeite – conta Di Russo.
Fonte: Revista Globo Rural