Mais uma semana marcada por tempo seco, alta taxa de radiação solar, baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas, que agravam a situação de redução dos rendimentos nas lavouras de soja no Rio Grande do Sul. De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado nesta quinta-feira (19/03) pela Emater/RS-Ascar, em parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a soja no RS está 1% em germinação/desenvolvimento vegetativo, 4% em floração, 32% em enchimento de grãos, 45% madura e por colher e 18% das lavouras foram colhidas.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, as áreas de soja em fase final de enchimento de grãos e em maturação vêm apresentando retenção de folhas secas, hastes verdes, queda de vagens, vagens sem grãos e falhadas, inclusive com morte de plantas. À medida que a estiagem avança, os grãos diminuem de tamanho e de peso, apresentam rugosidade e esverdeamento do tegumento, causado por estresse térmico e hídrico. Esse quadro evidencia perdas significativas na qualidade fisiológica da semente, na redução da qualidade do grão, além de conferir maior índice de acidez do óleo. As lavouras de soja colhidas têm mostrado alto percentual de impurezas devido à desuniformidade de maturação das plantas. Alguns produtores vêm realizando dessecação pré-colheita a fim de uniformizar as lavouras e reduzir as perdas.
Na região de Santa Rosa, 2% da cultura da soja está em desenvolvimento vegetativo (lavouras da safrinha), 4% em floração, 43% em enchimento de grãos e 42% em maturação. Com o clima seco e as altas temperaturas, as lavouras têm antecipado a maturação, ampliando assim a área já colhida para 9%. Nestas, a produtividade é variável, de acordo com as chuvas ocorridas no período de floração e enchimento dos grãos, com o tipo de solo e também de acordo com o manejo de rotação de cultivos de verão. A produtividade tem sido variável em relação à expectativa inicial de 3.270 quilos por hectare. Em Santo Cristo e Doutor Maurício Cardoso, há lavouras com produtividade de 4.200 quilos por hectare; em outras áreas, a produtividade está abaixo de 1.500 quilos por hectare. Já há solicitações de perícia de Proagro. As lavouras de soja de segundo plantio semeadas após a colheita do milho tiveram boa emergência, porém já vêm sentindo e muito a falta de chuva e de umidade no solo. Em algumas lavouras em floração haverá grandes prejuízos.
No milho, as lavouras estão 4% em germinação e desenvolvimento vegetativo, 5% em floração, 13% em enchimento de grãos, 15% maduro e 63% já foram colhidas. Na regional da Emater/RS-Ascar de Santa Rosa, onde 82% das lavouras foram colhidas, há baixo percentual de perdas de produtividade, inclusive muitos municípios das microrregiões da Grande Santa Rosa e de Três de Maio não tiveram perdas nas lavouras de milho safra grão e de silagem. Já as lavouras de milho safrinha têm se ressentido com a estiagem. As plantas estão paralisando o crescimento, e as folhas começam a secar; além disso, não tem sido possível realizar adubação nitrogenada em cobertura, fazendo com que as perdas aumentassem para 8%, com rendimento de 7.267 quilos por hectare. Eugênio de Castro e Entre-Ijuís são os municípios que registram as maiores perdas, respectivamente 50% e 41,7%. As condições do tempo seco na semana paralisaram a aplicação de adubação de cobertura nitrogenada. É baixo o ataque de pragas.
Na região de Erechim, a colheita do milho já alcançou 90% da área plantada e o rendimento médio tem chegado a 7.560 quilos por hectare. Já na de Soledade, 60% das lavouras já foram colhidas. Entre as demais, 13% estão em estágio de desenvolvimento vegetativo, 7% em floração, 14% em enchimento de grãos e 6% em maturação. As lavouras de semeadura tardia são as mais afetadas pela estiagem na região e já acumulam perdas de 42% em relação à produtividade esperada.
Milho silagem – Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Pelotas, as lavouras de milho para silagem estão em colheita e já colhidas. Em Cerrito, a colheita já foi realizada em 70% das áreas semeadas. A silagem elaborada é de qualidade inferior e com rendimentos bastante baixos, de seis mil a oito mil quilos por hectare, o que impactará na produção leiteira e no ganho de peso dos animais. As perdas no milho silagem se referem tanto à quantidade quanto à qualidade do produto.
Arroz – A cultura do arroz no Rio Grande do Sul está 3% em floração, 20% em enchimento de grãos, 47% em maturação e 30% foram colhidos. Na regional de Bagé, 45% das lavouras estão em florescimento e enchimento de grãos, 25% em fase de maturação fisiológica e 30% colhido. Devido às ótimas condições das lavouras e ao tempo favorável durante o ciclo da cultura, o rendimento chegou em 8,6 toneladas por hectare, principalmente na Fronteira Oeste. Os cultivos estão com bom estado fitossanitário. Em algumas lavouras, o tempo seco continuado que favoreceu a colheita reduziu a umidade do grão devido às altas temperaturas, aumentando o índice de grãos quebrados e diminuindo o rendimento.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Pelotas, a cultura do arroz está predominantemente na fase de enchimento de grãos e em maturação. Em Piratini, 70% das lavouras já estão colhidas; em Turuçu, 60%; em Rio Grande, 20% e em Pelotas a colheita já foi realizada em 30% das lavouras. Nas áreas colhidas em Rio Grande, o rendimento está em 9.121 quilos por hectare; em Jaguarão em oito mil quilos por hectare; em São Lourenço do Sul, 7.500 quilos por hectare; e em Pelotas em 8.400 quilos por hectare.
Feijão 1ª safra – Na região de Pelotas, predomina a fase de colheita, e a região se encaminha para o final de safra. Em São Lourenço do Sul, a produtividade média está em 420 quilos por hectare; em Canguçu, 600 quilos por hectare; em Pinheiro Machado, 864 quilos por hectare. Nos Campos de Cima da Serra, na regional de Caxias do Sul, iniciou a colheita, com rendimento médio de 1.800 quilos por hectare, abaixo do esperado de 2.520 quilos por hectare. A maioria das lavouras se encontra em fase de maturação, o que fará com que a colheita se estenda até o início de abril.
Feijão 2ª safra – Na regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen, a segunda safra está 100% na fase de emergência e desenvolvimento vegetativo, com bom estande, mas apresentando sinais de estresse hídrico. Os tratos culturais necessários às plantas estão suspensos em virtude da ausência de umidade no solo.
OLERÍCOLAS
Alface – Na regional de Lajeado, a redução no volume pluviométrico registrado nas últimas semanas preocupa os olericultores, já que grande parte deles conta com irrigação nos canteiros e o nível de água nos açudes tem baixado drasticamente. As perdas na produção em função do forte calor e da ausência de chuvas são amenizadas pela irrigação, mas podem aumentar caso não chova. Com a redução na oferta, a cotação da alface aumentou.
Milho verde – Em Cruzeiro do Sul, na regional de Lajeado, segue a colheita de milho verde. As lavouras, que sofrem com a seca, estão em vários estádios: sendo colhidas, prontas para colher, em desenvolvimento e recém-plantadas, a fim de escalonar a produção. Em Bom Princípio, os agricultores que investiram em irrigação nas lavouras de milho verde conseguem colocá-lo no mercado; contudo, há forte concorrência com o milho verde oriundo de outros estados, pois a qualidade do milho gaúcho é menor, mesmo com irrigação. No Litoral Norte, a oferta de milho verde está diminuindo com a aproximação do outono e término do veraneio.
Tomate – No Litoral Norte, na de Porto Alegre, o tomate cultivado a campo está em colheita, com produtividade de cinco a oito quilos de fruto por planta. Alguns produtores já implantaram cultivo de inverno para colher em maio. O preço pago ao produtor aumentou consideravelmente, ficando em R$ 2,80/kg, havendo relatos de até R$ 4,50/kg. Na regional de Soledade, está encerrando a colheita dos cultivos a campo. Em estufas, produtores realizam plantios e manejo dos tomateiros já implantados. As altas temperaturas prejudicam os cultivos em estufas.
FRUTÍCOLAS
Abacaxi – Na regional de Porto Alegre, a deficiência hídrica não prejudicou a cultura, que é bastante resistente. No entanto, o calor e a intensa radiação solar causam queima, implicando em prejuízos significativos e acarretando em emprego extra de mão de obra por parte dos produtores na proteção dos frutos. A produção desta safra ficou em torno de 35 mil frutos por hectare, ou seja, 21 toneladas por hectare. A cultura é bianual, e foram colhidos 95% desta safra. Os frutos são comercializados com valores diferenciados em função do tamanho.
Figo – Na regional da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, a colheita se encaminha para o final. A safra foi marcada pela qualidade das frutas, com alto teor de açúcar, intensa coloração e ausência de podridões; porém, foi significativa a redução no rendimento, causada pelas condições climáticas durante o período de dezembro a março, com elevada insolação e baixíssimos índices pluviométricos. As plantas apresentaram carga inferior de frutas pela redução do crescimento dos brotos novos e menor área foliar para abastecer as demandas de nutrientes. Também perderam considerável número de folhas antes do tempo, refletindo-se em figueiras com vigor abaixo do potencial e do esperado.
Oliva – Na regional de Pelotas, segue a colheita. A produtividade de menos de mil quilos por hectare está muito aquém do esperado. Na de Soledade, a seca prejudicou severamente os olivais; os frutos têm tamanho reduzido e estão murchos. A produção será bastante reduzida nesta safra em função da seca e das chuvas excessivas na época de floração, em outubro, que resultou em deficiência de polinização e abortamento de frutos. Na região, estão implantados aproximadamente mil hectares de oliveira em Soledade, 900 em Encruzilhada do Sul, 33 em Ibarama e sete hectares em Vale Verde.
Citros – Na região de Erechim, a área destinada ao cultivo de laranja é de 3.100 hectares e 379 hectares para bergamota. Os pomares começam a sentir o déficit hídrico consequente da falta de chuvas por longo período. Variedades tardias de bergamota estão em fase de desenvolvimento de frutas, com possível queda na produção em função da estiagem; a variedade Satsuma Okitsu está em plena colheita.
Erva-mate – Na regional de Passo Fundo, a escassez de chuva neste período não causa perda significativa nos ervais, pois esta cultura perene não é sensível a fenômenos climáticos que em geral afetam e prejudicam as demais culturas. Em função da redução da precipitação no período, a colheita apresentou uma leve queda sem, no entanto, prejudicar a oferta de folha para a indústria. A produtividade média fica ao redor de 900 arrobas por hectare; no entanto, ervais com maior aplicação tecnológica já atingiram nível de produtividade que varia de 1.800 a duas mil arrobas por hectare. Os tratos culturais são intensificados para monitoramento e controle de pragas, manejo da cobertura de solo e adubação. O preço da erva-mate folha é de R$ 13,50/arroba, entregue na indústria; a da cultivar Cambona 4 é de R$ 15,00/arroba. A muda de erva-mate é comercializada a R$ 1,50/unid.
PASTAGENS E CRIAÇÕES
Nas diversas regiões do Estado, os pastos tiveram uma sensível redução da produção de massa verde e perderam qualidade nutricional. A persistência do clima seco das últimas semanas agravou a situação das pastagens nativas e cultivadas para a grande maioria dos criadores. A grande redução do volume de água reservada dificulta o uso dos sistemas de irrigação disponíveis em algumas propriedades. A continuidade da estiagem começa a implicar, também, em atraso na implantação de pastagens cultivadas anuais de inverno. Com isso, é gerada uma expectativa negativa de aumento da duração do vazio forrageiro outonal deste ano. Isso pelo fato de que a tendência projetada é que haja um encurtamento antecipado da disponibilidade de pastejo das forrageiras de verão, combinado com o atraso na implantação e no desenvolvimento das pastagens de inverno.
As condições físicas apresentadas pelo gado bovino de corte são diferenciadas nas diversas regiões do Estado. A situação predominante é de perda de escore corporal; em áreas onde ocorreram apenas algumas chuvas nas últimas semanas, o ganho de peso é pequeno ou está paralisado, e nas áreas mais castigadas pelo clima seco, ocorre perda de peso mais acentuada. A preocupação dos bovinocultores aumenta à medida que diminui a disponibilidade de água para os animais, com o prolongamento da estiagem. O estado sanitário dos rebanhos, no geral, é satisfatório, mediante o controle de parasitos internos e externos. Nesta semana, começou a vacinação contra a febre aftosa.
Fonte: Emater