A produção brasileira de canola está concentrada no Rio Grande do Sul, onde a colheita encerrou com 52 mil toneladas, um volume 40% superior à safra anterior. O retorno econômico com a cultura também foi considerado satisfatório pelo setor produtivo.
A área de canola sofreu grande redução em relação ao ano passado. A retração chegou a 85% no Paraná, onde pouco mais de 700 hectares foram cultivados com canola em 2018. O principal motivo, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Canola (Abrascanola) foi a fraca atuação do fomento pela indústria na região, que conseguiu trazer matéria prima a preços mais atrativos do Paraguai.
No Rio Grande do Sul, apesar da área 33% menor, as lavouras resultaram num rendimento 70% superior à safra passada. Os rendimentos variaram nas diferentes regiões produtoras, partindo de 1.200 até 2.500 kg/ha (quilos por hectare), mas na média o rendimento das lavouras ficou em 1.500 kg/ha (25 sacos). Ao contrário do ano anterior, quando muitas lavouras sofreram com granizo no florescimento e chuva na colheita, nesta safra o clima foi favorável na maioria das regiões, com problemas isolados de granizo e de geada que afetaram cerca de 5% das lavouras. A produção gaúcha atingiu 52 mil toneladas, colhidas em 35 mil hectares.
Na avaliação do Presidente da Abrascanola, Vantuir Scarantti, os rendimentos nesta safra garantiram uma boa margem de lucro ao produtor. Segundo ele, já nas primeiras colheitas em outubro, muitos produtores fizeram contratos de venda a R$ 75,00 a saca de 60 kg, lembrando que a canola tem preço equivalente à cotação da soja. Com os custos de produção entre 12 e 15 sc/ha, a receita líquida na canola ficou entre R$ 600,00 e R$ 1.000,00 por hectare. Com os bons resultados desta safra, a projeção é de aumento de área no próximo ano:
“O produtor está motivado com a canola, satisfeito com os resultados deste ano. A nossa expectativa é de um aumento de área que pode chegar a 10% na safra 2019”, finaliza Vantuir Scarantti.
Canola no sistema de produção
A adubação da canola, de base e de cobertura, é o elemento de maior importância, pois representa mais de 50% do custo operacional. Contudo, este investimento pode favorecer também os cultivos subsequentes, especialmente o trigo e o milho. Estudos conduzidos no Paraná pela FAPA/Agrária, com nove anos de dados coletados em sistemas de rotação com canola, mostram ganhos no rendimento das culturas após cultivo da canola. No milho, o rendimento de grãos foi 32% superior. Na soja, o aumento na média de rendimentos ficou entre 400 e 500 kg/ha, em comparação a áreas de pousio ou cultivo não adubado. No trigo, o rendimento é de 10 a 20% maior, resultando numa lavoura com melhor sanidade.
De acordo com a Embrapa Trigo, a canola traz uma série de benefícios aos cultivos subsequentes:
a planta de canola possui um caule ereto com raiz pivotante, com grande quantidade de raízes que favorecem a descompactação natural das áreas;
gramíneas como trigo e milho, se beneficiam dos resíduos do fertilizante nitrogenado e da reciclagem de nutrientes que a canola extrai em maior profundidade do que os cereais. O cultivo da canola também pode acelerar a decomposição da resteva nestas gramíneas, reduzindo o inóculo de pragas e doenças;
em leguminosas, como a soja e o feijão, a canola ajuda no controle de doenças causadas por fungos, especialmente as podridões radiculares; no milho, rotação com a canola reduz problemas causados por mancha de diplodia e cercosporiose;
Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Gilberto Tomm, o modelo de rotação ideal é soja-canola-milho-trigo:
“Vimos que esta sequência de culturas apresenta diversas vantagens no controle de doenças, melhor eficiência de uso de nutrientes, especialmente o nitrogênio proveniente da rápida decomposição da biomassa de canola, e facilidade de semeadura, contribuindo para o aumento da lucratividade”.
Na prática, a semeadura de canola em resteva de soja RR reduz o risco de efeitos fitotóxicos de resíduos de herbicidas prejudiciais à canola. Se a canola sucede o cultivo de milho, é necessário colher o milho o mais alto possível para diminuir a quantidade de palha que dificulta a operação de semeadura da canola (embuchamento), aumentar a densidade de semeadura para compensar as perdas decorrentes de sementes que não germinam devido ao limitado contato solo-sementes, e aumentar a adubação nitrogenada para compensar a competição pelo N do solo.
A recomendação geral é esperar 20 dias entre a colheita da canola e a semeadura da soja ou o milho para evitar efeitos alelopáticos da canola. Ainda, é importante verificar que, se a lavoura de canola esteve muito infestada por sclerotínia, será preciso investir em fungicidas ou selecionar outra área para o cultivo de soja dentro do planejamento de rotação da propriedade.
Fonte: Embrapa