Em tempos de nebulosidades no setor econômico, a gestão da propriedade rural torna-se ainda mais determinante para tocar os negócios e minimizar os erros na hora das decisões. Para nos indicar alguns caminhos certeiros e projetar o futuro do agronegócio, fomos conversar com o doutor em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e mestre em engenharia de produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Matheus Kfouri Marino (40 anos). Formado em agronomia, Marino atualmente é professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP) e coordenador acadêmico dos MBAs em agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Confira esta aula de gestão:
AGRONOVAS - Muito se fala que a propriedade rural deve ser administrada como uma empresa, mas na prática isso realmente acontece? Onde o produtor rural ainda precisa melhorar na gestão do seu negócio?
MARINO - Para ser competitivo, o agricultor precisa gerenciar seu negócio como uma empresa. A estruturação de processos que permite o controle e o gerenciamento da performance financeira e operacional da atividade embasa a tomada de decisão coerente. O gerenciamento dos custos de produção, da receita, dos riscos e da rentabilidade do negócio é crucial para sobrevivência no mundo capitalista. O agricultor ainda peca na separação do negócio agrícola das contas pessoais o que dificulta a avaliação de resultados e consequente tomada de decisão corretiva.
AGRONOVAS - Na sua opinião, qual é a principal peculiaridade na gestão da propriedade rural?
MARINO – A atividade agrícola apresenta inúmeros riscos, como os climáticos que interferem na produtividade, e os mercadológicos que geram elevada flutuação nos preços das commodities agrícolas. Já existem inúmeras ferramentas que permitem o gerenciamento destes riscos, como os seguros climáticos, mercado futuro e operações de barter (trocas). O emprego de modernas técnicas de gestão auxilia o agricultor na defesa da sua rentabilidade.
AGRONOVAS - Qual é o horizonte que o senhor visualiza para o agronegócio brasileiro?
MARINO – Estudos apontam a necessidade de ampliação da produção de alimentos para atender a crescente demanda global. As áreas agricultáveis estão se esgotando, neste cenário o Brasil apresenta-se como a principal alternativa para expansão da atividade produtiva. As perspectivas para o agronegócio brasileiro de curto, médio e longo prazo são excelentes.
AGRONOVAS - Uma das principais preocupações no campo é com a sucessão familiar. O que é preciso fazer para convencer o jovem a permanecer no meio rural?
MARINO - Diferente do padrão mundial, a atividade agrícola brasileira é motivo de orgulho. Filhos de agricultores são motivados a permanecer na atividade em detrimento a migração para o trabalho urbano. A agricultura brasileira remunera os agentes da cadeia produtiva mesmo com a baixa intervenção governamental. Manter os filhos qualificados na atividade é fundamental para garantir a competitividade do agronegócio brasileiro nos próximos anos. As novas gerações buscam conhecimento para aprimoramento do negócio.
AGRONOVAS - O senhor coordena o MBA em Gestão Estratégica do Agronegócio na Fundação Getúlio Vargas em Passo Fundo – conveniada MEB – e forma muitos jovens agricultores e profissionais do setor rural. Qual é o perfil deste jovem que chega na FGV?
MARINO – Grande parte dos alunos dos MBAs da FGV possui formação em ciências agrárias, como agronomia, zootecnia e veterinária. O MBA FGV traz conceitos de economia e gestão que complementam a formação técnica dos cursos de ciências agrárias. Também recebemos alunos de ciências sociais aplicadas, como economia, administração e contabilidade. Neste caso, o MBA permite a aplicação dos conceitos de gestão nas particularidades do agronegócio.
AGRONOVAS - O produtor rural está cada vez mais profissional na produção, obtendo altos índices de produtividade, mas do lado de fora da porteira, ainda tem muito a crescer. Como essa especialização voltada em gestão do agronegócio pode contribuir nesse aspecto?
MARINO – A evolução da agricultura brasileira dentro da porteira é extraordinária, somos a referência em produção agrícola no mundo. Ganhos significativos de rentabilidade podem ser obtidos com o emprego de modernas técnicas de gestão. A comercialização da produção no momento ideal ou o emprego de seguros pode interferir na rentabilidade do negócio assim como a produtividade. A nova geração de agricultores terá um papel fundamental nesta evolução.