Um cenário de preços mais altos para o açúcar e uma safra 2016/17 de produção recorde no Brasil permitirão que a maior parte das usinas de cana do centro-sul se recupere de um período de crise financeira que levou dezenas de empresas para a recuperação judicial nos últimos anos, avaliou nesta quinta-feira o consultor Julio Borges, da Job Economia.
- É uma boa oportunidade, esperada há três anos, para a usina colocar a casa em ordem. Basicamente, sanear as finanças e buscar aumento da eficiência operacional – afirmou Borges, ao divulgar as suas primeiras estimativas para a nova temporada, iniciada oficialmente em 1º de abril.
Segundo ele, o centro-sul do Brasil terá uma moagem recorde de cana de 644 milhões de toneladas, um crescimento de 6,4 por cento ante o resultado histórico obtido no ciclo anterior, que vai se refletir nos maiores volumes de produção açúcar e etanol já vistos em uma safra.
Com o clima favorecendo o desenvolvimento dos canaviais até o momento, a projeção é de uma produção de açúcar de 34,8 milhões de toneladas, ante 30,8 milhões em 15/16. Já a estimativa para o etanol é de uma produção de 29,1 bilhões de litros, ante 27,65 bilhões na temporada passada.
- Safra grande e com bons preços. Lembra a safra 2010/11. A chuva foi a responsável pelo aumento da cana no campo – afirmou.
Segundo ele, a projeção de boas cotações do açúcar para as usinas se baseia em fundamentos de um mercado deficitário no mundo, com redução nos estoques.
- O Brasil (com a safra recorde) vai reduzir o déficit global, não vai fazer superávit – afirmou ele.
Em entrevista à Reuters, Borges estimou que o preço do açúcar deverá ter uma média de 56 centavos de real por libra-peso na safra 16/17, ante 47,50 centavos de média na temporada passada.
- Esse preço remunera completamente todos os custos de produção, inclusive a despesa financeira, uma situação que a gente não via há três anos – afirmou.
Borges ponderou, no entanto, que as empresas em pior condição financeira poderão enfrentar mais desafios para comercializar a produção nos melhores momentos.
- O desafio é vender bem, a usina com problema não tem caixa para poder segurar estoque – disse ele, estimando que cerca de 25 por cento do setor está em situação pior, parcela essa que “não vai conseguir aproveitar a situação favorável de mercado integralmente – disse.
BATER NO TETO
A Job prevê ainda que um volume de cerca de 36 milhões de toneladas de cana da safra 16/17 deverá ser deixado nos campos, para a colheita na temporada seguinte, uma vez que o setor não tem capacidade para moer mais do que o projetado, após baixos investimentos nos últimos anos de crise.
- Batemos no teto – disse Borges.
Ele não acredita que ocorrerão investimentos para aumentar a capacidade.
- Vão sanear as finanças e reduzir custos, não vejo de forma geral investimentos para aumento de capacidade, vejo investimento para otimizar – falou.
Com essa limitação de capacidade de moagem e uma safra recorde, o consultor avalia que o setor de uma maneira geral não terá como produzir muito mais açúcar do que o projetado, apesar de os preços futuros mostrarem cotações remuneradoras.
Segundo ele, o “mix” de cana para o açúcar passará a 42,4 por cento do total colhido, ante 40,6 na temporada passada, e não aumentará mais por causa da restrição de capacidade da fábrica, uma vez que a prioridade da usina será moer toda a cana que ela conseguir.
Borges explicou que, por questões industriais, a usina teria que reduzir o ritmo de moagem se ela quisesse produzir mais açúcar.
Ainda assim, as exportações de açúcar do centro-sul em 16/17 crescerão mais de 10 por cento, para 25 milhões de toneladas, o que permitirá ao Brasil (maior produtor e exportador mundial) representar cerca de 48 por cento das vendas externas globais, perto da maior fatia do comércio global já atingida, de 50 por cento.
Fonte: Reuters