A exportação brasileira de grãos ganha nova âncora na metade de cima do mapa do país. Com maior proximidade dos principais polos de produção e reforço nos investimentos, os portos do Arco Norte brasileiro se consolidam, em 2015, como a terceira maior força exportadora. O quadro reconfigura a distribuição de cargas em terminais já estabelecidos como Santos e Paranaguá, ao mesmo tempo em que altera a relação de custos do agronegócio nas áreas de expansão.
A estruturação do Arco Norte cria um corredor de investimentos que passa por Amazonas, Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão e Bahia. Em 2014 o bloco foi responsável pelo embarque de 11,1 milhões de toneladas de soja e milho. Somente Santos (21,1 milhões de t embarcadas) e Paranaguá (11,5 milhões de t) registraram desempenho superior, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Levantamento realizado pelo Agronegócio Gazeta do Povo mostra que, para 2015, a conclusão de novos projetos amplia a capacidade instalada da região a 16,8 milhões de toneladas. Como as operações engrenam de forma gradual, a movimentação anual pode chegar a 14,4 milhões de toneladas – um salto de até 30% ante os 12 meses anteriores.
O aumento nos embarques do Arco Norte deve ser lastreado pela própria expansão da produção de grãos nas fronteiras agrícolas, aponta o coordenador do movimento pró-logística, Edeon Vaz Ferreira. Estados como Mato Grosso, líder nacional na oferta de soja, deverão buscar a redução de custos. O agronegócio mato-grossense aposta no aumento no fluxo multimodal de cargas pelos terminais de Porto Velho (RO), Santarém (PA) e São Luís (MA).
- Veja o exemplo de Sorriso, que hoje exporta por Santos. Quando toda a estrutura ficar pronta o gasto com frete vai cair 34% – compara Ferreira.
Mudança gradual
Enquanto os projetos não se consolidam, Vaz descarta um “roubo” das cargas de Santos e Paranaguá.
- Só daqui a cinco anos, quando a maior parte dos novos investimentos se consolidarem, deverá haver disputa por cargas – diz ele.
Ele avalia que a zona crítica estará num raio de 150 quilômetros em torno do paralelo 16 – linha cartográfica imaginária que seria o divisor de águas para o escoamento de grãos entre o Norte e o Sul do país.
- Por enquanto, o frete para o Sul ainda é mais barato por causa do frete de retorno – pontua o diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino.
Ele avalia que a solução do Arco Norte é boa para o Brasil e deve ter interferência maior em Santos, que é hoje o principal corredor do ‘Sistema Mato Grosso’.
- Não temos absolutamente nenhum receio de que a carga seja desviada – garante ele.
A mudança de referencia, contudo, amplia a pressão sobre os portos sulistas e obriga Santos e Paranaguá, os dois principais terminais graneleiros da região, a se plenejar para não ficar para trás. Enquanto o terminal paulista programa um reforço na estrutura ferroviária nos próximos anos, o paranaense moderniza seu sistema de carregamento de grãos e amplia sua capacidade estática de armazenamento e de recebimento de caminhões.
Mesmo que não haja redução nos embarques, em volumes absolutos, o perfil exportador tende a mudar, projeta o consultor logístico Luiz Antonio Fayet. Para ele, os portos do Sul e Sudeste deverão concentrar parcela maior de produtos domésticos, bem como produtos com maior valor agregado.
- Não é apenas uma questão de concorrência com o Arco Norte. Trata-se de uma região com alta industrialização, que consome mais grãos do que produz – aponta Fayet.
Grãos de fora são minoria no Sul
A exportação de cargas domésticas faz parte do perfil exportador do Porto de Paranaguá. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que 64% da movimentação de soja e 56% dos embarques de milho feitos em 2014 utilizaram grãos paranaenses. Foram 4,81 milhões de toneladas da oleaginosa e 2,26 milhões de toneladas do cereal. Na sequência, a maior participação é de Mato Grosso, com 20% na soja (1,4 milhão de t) e 19% no milho (765 mil t).
O Porto de Rio Grande também concentra cargas regionais. Mais de 90% da soja e do milho movimentados pelo terminal gaúcho no ano passado tiveram origem no Rio Grande do Sul: 8,7 milhões da 9,3 milhões de toneladas. Com perfil mais diversificado, São Francisco do Sul busca em Santa Catarina 32% da oleaginosa e apenas 10% do cereal que exporta. Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso são, pela ordem, as principais origens dos grãos escoados pelo terminal catarinense.
11,1 milhões, esse é o total de toneladas de soja e milho que foram exportados a partir dos portos do Arco Norte em 2014. Terminais têm vantagem de estarem próximos de polos de produção como o Norte de Mato Grosso e o Matopiba, região que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O aumento no volume de grãos é 30% embarcado pelos portos do novo sistema logístico brasileiro são esperados em 2015. A capacidade de exportação vai além desse salto, o que promete estimular a agricultura e permite elevação contínua em embarques que deixam de depender dos portos de Santos, Paranaguá e Rio Grande.
Fonte: Gazeta do Povo