Para driblar a falta, os altos custos ou a má qualidade da energia elétrica no campo, produtores rurais estão apostando em fontes alternativas. Em Campina das Missões, no noroeste do Estado, o produtor Jandir Konzen provou que, com persistência e criatividade, é possível reduzir custos sem precisar desembolsar muito dinheiro.
Há dois anos, ele construiu uma nova sala de ordenha, com um aquecedor de água elétrico para limpeza dos equipamentos. O investimento fez com que a qualidade da produção aumentasse, mas a conta de luz também.
O pecuarista, então, pesquisou alternativas na internet e, ao se deparar com um sistema construído com canos de PVC, garrafas PET e caixinhas de leite, consultou técnicos da Emater para saber se o projeto era viável. Com a resposta positiva, ele juntou as 150 garrafas necessárias e comprou canos e tinta preta.
O custo não passou de R$ 130 por aquecedor — ele instalou um na casa e outro na sala de ordenha. Conforme Konzen, o sistema possibilitou em uma economia de 25% na conta de luz.
— Vale a pena fazer o aquecedor, pois é uma alternativa que barateia o custo. Hoje, se fala muito em sustentabilidade, e a gente tem que pensar sempre no futuro — ressalta.
Devido às falhas no fornecimento de energia, os Konzen, que têm 24 vacas leiteiras da raça holandesa e também criam suínos, já haviam investido R$ 4,6 mil em um gerador. Tudo para evitar que o leite — cuja produção é a principal fonte de renda da família — acabasse sendo jogado fora, como chegou a ocorrer no passado. Com o gerador, a falta de luz agora é, para a família, uma preocupação a menos.
— Esses dias, caiu um raio na rede e a luz demorou 15 horas para a energia voltar. Mas as vacas têm horário para ser ordenhadas, então, não tenho como ficar esperando.
Como funciona o sistema
— As caixas de leite são recortadas e pintadas de preto fosco, assim como os canos de PVC, para que os raios solares sejam melhor absorvidos.
— As garrafas PET são recortadas e encaixadas nos canos, por onde passa a água que será aquecida.
— A caixa d’água é adaptada para que o líquido aquecido, que fica na parte superior, seja coletado. Também é feito um isolamento da caixa com isopor e manta asfáltica, para garantir que a temperatura da água seja mantida.
— O sistema aquece a água a 55°C e a resistência elétrica eleva em mais 20°C, atingindo a temperatura necessária para lavar os aparelhos da sala de ordenha.
Painéis para irrigar e iluminar
Na localidade de Solidão, em Mostardas, no Litoral Norte, o pecuarista Jurandir da Costa Homem instalou há dois meses um painel fotovoltaico para viabilizar um projeto de pastejo rotacionado.
Segundo ele, como o local onde o gado jaguané (raça crioula) é criado fica a dois quilômetros da propriedade, de 28 hectares, a família não teria condições de arcar com as despesas necessárias para levar eletrificação até lá. Então, com o apoio de técnicos da Emater, o produtor encontrou na energia solar uma saída prática e barata.
O painel, que gera 95 watts, permite a captação e reabastecimento automático de água dos bebedouros para o rebanho de 15 cabeças. Além disso, também fornece energia para a iluminação do local e para a cerca elétrica que auxilia na divisão dos piquetes — no sistema de pastejo rotativo, o gado fica cinco dias em uma área e, depois, é direcionado para a outra. O investimento da família nos equipamentos foi de R$ 1,8 mil.
— Se não fosse o painel, o projeto era inviável. Estamos contentes com o resultado e, agora, esperamos colher os frutos. Muitos vizinhos estão interessados em instalar o equipamento — conta o pecuarista, que também planta milho, aipim, feijão e batata.
No município, a Emater também auxilia outros dois produtores com a implantação de painéis solares fotovoltaicos. Antes de Jurandir, o sistema havia sido adotado por outras cinco famílias de pescadores que não tinham acesso à energia elétrica.
Agora, as placas serão instaladas na propriedade de Julieta Goreth Lima da Costa, para garantir água às ovelhas, irrigar a horta e iluminar a casa que, quando chove ou venta forte, costuma ficar às escuras. Produtor de arroz em Mostardas, Ênio José Coelho do Evangelho também resolveu recorrer à energia solar para irrigar os 30 hectares em que planta o grão.
— Sempre tem queda de luz, mas o problema maior agora é o custo. Minha conta praticamente dobrou. E o sol está aí, então, tem que aproveitar – conclui ela.
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater Matias Felipe Eidelwein Kraemer, as vantagens do sistema são a redução dos custos, a baixa necessidade de manutenção do equipamento e o fato de que o excedente de energia gerado pode ser injetado na rede elétrica, em um esquema de compensação.