Produtores rurais nordestinos estão mobilizados para discutir a situação da agricultura na região, as dificuldades enfrentadas, definir alternativas para melhorar a situação financeira dos tomadores de empréstimos e novas opções de cultura para o enfrentamento de longos períodos de estiagem. As propostas são debatidas na Comissão da Região Nordeste do Brasil da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Presidentes das federações de Agricultura e Pecuária da Região Nordeste e secretários estaduais de Agricultura participam da rodada de coleta de ideias para enfrentamento da seca que afeta o semiárido há quatro anos.
- As propostas estão em elaboração e nós estamos apresentando sugestões que serão apresentadas ao Ministério da Agricultura – disse o presidente da Federação da Agricultura do Ceará (FAEC), Flávio Saboia.
O estudo encomendado pela CNA é denominado ‘Analise Estratégica Situacional para Atuação da Comissão do Nordeste’. As oficinas de trabalho foram realizadas nas federações de agricultura no decorrer do segundo semestre de 2014, estendendo-se até fevereiro deste ano, contendo propostas para novas ações estratégicas da Comissão do Nordeste.
O crescimento de atividades de piscicultura e aquicultura, pecuária de leite e a apicultura são opções colocadas em discussão e que integram o estudo contratado pela CNA visando a melhoria das condições do produtor rural do Nordeste.
O presidente da FAEC observa que os produtores do sertão nordestino são resistentes a mudanças, à implantação de tecnologias, ao gerenciamento da atividade e à aplicação de manejo adequado para os períodos de escassez de água.
- Não se justifica o produtor não fazer reserva alimentar, feno, silagem, que são coisas simples – afirmou o presidente.
Para o titular da FAEC, aquele produtor que não se propõe a mudar, a se proteger para enfrentar períodos de seca deve deixar a atividade. Saboia observa que a realidade do Semiárido exige a formação anual de reserva alimentar. Além do programa ‘A Hora de Guardar’, o líder classista defende a aprovação de um seguro seca para proteger o setor. Ele observa que neste ano, há risco de demissão em massa de trabalhadores rurais em áreas de produção que serão afetadas por redução da água nos perímetros irrigados da Chapada do Apodi e Tabuleiro de Russas. Outra sugestão apresentada pela FAEC refere-se ao Pacto das Águas entre a Coger, os usuários, Comitês de Bacias Hidrográficas e secretarias municipais de Agricultura.
- A redução da liberação de água deve ser uma decisão mais justa e mais certa possível – disse ele.
Nesta quinta-feira, dia 2, haverá reunião de alocação de água para o Baixo Jaguaribe, em Limoeiro do Norte. O encontro deve ser marcado por forte tensão entre a necessidade de água para o setor agropecuário e o consumo humano da reserva do Castanhão, o maior açude do Ceará, que acumula 19%.
- A situação é crítica e se houver a transposição das águas do Rio São Francisco já no início de 2016 haverá um alívio. A luta é para isso – afirmou.
Pecuária leiteira
Apesar do período de quatro anos de chuvas abaixo da média, o setor da pecuária leiteira vem se mantendo com volume de produção em níveis de 2012, quando o volume chegou a 461 milhões de litros. Em 2013, a redução foi de apenas 1,6% e de lá para cá vem se mantendo. Os dados são da consultoria e assessoria Leite & Negócios.
O consultor Raimundo Reis Filho observa que a seca apresentou aspectos ruins e positivos.
– No início houve morte, descarte de animais, escassez de alimentação. Os criadores estão mais preparados, têm reserva alimentar, mas se em 2016 o quadro persistir sem recarga dos açudes haverá o caos – frisou.
Ele teme até a falta de água em várias fazendas da região dos Inhamuns e do Sertão Central.
Fonte: Diário do Nordeste