Qual é a novidade em uma exportação de 60.000 toneladas de soja dos EUA para a China? Se a carga em questão for a transacionada em dezembro passado pela trading Louis Dreyfus Company (LDC), trata-se, segundo especialistas, de um novo paradigma no comércio internacional de commodities agrícolas. O pulo do gato atende pelo nome de blockchain, a plataforma digital compartilhada que serve de infraestrutura virtual para as transações com criptomoedas do tipo bitcoin.
Conforme anunciou a LDC em janeiro, pela primeira vez na história do comércio internacional de commodities uma operação dessa natureza utilizou o blockchain para viabilizar uma transação. O recurso permitiu reduzir o tempo gasto no processamento da operação a um quinto do tempo normalmente despendido. E a validação automática das informações digitais possibilitou evitar a repetição de tarefas e a verificação manual, reduzindo a margem para a
“Pela primeira vez, foram utilizados exclusivamente um rol de documentos digitalizados (contratos de venda, carta de crédito, certificados) e a validação automática das informações”, afirmou em nota a Louis Dreyfus. “Outros benefícios incluem a capacidade de monitorar a evolução da operação em tempo real, a verificação das informações, um menor risco de fraude e menos tempo para as transferências financeiras”, diz a trading, que aproveitou a nota para saldar o “imenso potencial” do blockchain para o comércio de commodities.
Além da Louis Dreyfus, a operação de exportação envolveu a processadora de alimentos chinesa Bohi e três bancos internacionais, responsáveis pelo aval financeiro, seguros e linhas de financiamento. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) também participou, por meio de certificados digitais que autorizaram a exportação.
Mas, afinal, o que é um blockchain? Sem entrar na complexa tecnologia de informática utilizada, diz o economista Gustavo Cunha, da consultoria Finlab, o princípio dessa ferramenta de gestão é funcionar como uma “base compartilhada de dados, imutável, aberta, criptografada e descentralizada”. E ainda facilmente acessível a todas as partes envolvidas na operação, seja ela do tipo comercial, como no caso da exportação de soja, ou estritamente financeira, caso das operações com bitcoin.
“O que diferencia o blockchain é que, uma vez armazenadas as informações, ele não pode mais ser alterado, além de não ter um banco de dados central, mas operar como um livro contábil distribuído por uma rede de computadores”, diz Gustavo. “No caso do agronegócio, o blockchain também pode ajudar muito no tracking (rastreamento) de toda a cadeia de um produto. Seria possível ter muito mais segurança e garantia de que aquele alimento foi tratado da maneira correta ao longo do processo até chegar ao consumidor final, incluindo, por exemplo, QR codes para a leitura das informações”, diz o economista, professor de finanças e também graduado em administração pela FGV-SP.
O grupo francês Carrefour utiliza, em suas operações no Brasil, um sistema de rastreamento, acompanhado de QR code, que segue alguns princípios do blockchain. Desenvolvido em parceria com a BRF e a IBM, a partir de uma plataforma fechada, não chega a ser um blockchain “puro-sangue”, como no caso da soja exportada pela LDC, mas apresenta vantagens em relação a outros instrumentos de rastreamento menos sofisticados.
“Em certa medida, esse sistema com informações criptografadas já faz uso do blockchain, ao garantir a integridade dessas informações de monitoramento dos produtos”, diz Paulo Pianez, diretor de responsabilidade social e sustentabilidade do Carrefour do Brasil. “Além de dar maior garantia às informações, o consumidor final consegue acompanhar todo o caminho percorrido, da fazenda à gôndola do supermercado”, diz Paulo.
A ferramenta é usada, exemplifica ele, para monitorar os produtos do programa Garantia de Origem, da marca Carrefour, que inclui leite, carnes, frutas, legumes e verduras. Atualmente, fazem parte desse programa 160 itens, produzidos por 40 fornecedores da rede varejista.
Com o uso crescente dessa ferramenta de gestão, vários seminários e palestras têm buscado atender à demanda por informações, o 3º Blockchain Forum, que acontecerá no dia 16 de maio, em São Paulo é um deles.
Segundo Claudiney Santos, criador do evento, a expectativa é que cerca de 250 pessoas participem desta edição do evento, em geral profissionais de empresas e bancos.
“Vamos mostrar as vantagens e as possibilidades de uso, com apresentação de exemplos ligados a monitoramento, logística, marketing, finanças e segurança da troca de informações”, afirma Claudiney.
Fonte: Globo Rural.