Uma nova ferramenta vai auxiliar produtores de erva-mate e técnicos rurais a interpretar a análise de solo de ervais comerciais e recomendar a adubação nas fases de plantio, formação de copa e produção. É o aplicativo Ferti Matte desenvolvido pela Embrapa Florestas (PR) e disponível para celulares com sistema operacional Android.
Para gerar os dados, o usuário deve fornecer informações de análise de solo (o aplicativo tanto realiza simulações quanto trabalha com dados reais) de um talhão. O próprio sistema analisa as informações e gera um relatório com recomendações de aplicação de cada macronutriente. Além disso, a fase em que se encontra o erval também é considerada, pois as diferentes fases apresentam necessidades nutricionais diversas. Por isso, o Ferti Matte trabalha com os cenários de adubação de plantio, na etapa de formação de copa e na produção.
Além de gerar os relatórios, que ficam armazenados no aplicativo para consultas posteriores, o software gera uma base de dados que pode ser acessada pela Embrapa Florestas. Com essas informações, os cientistas serão capazes de identificar demandas de pesquisa e de transferência de tecnologias vindas do setor produtivo. Poderão perceber, por exemplo, se é necessário um reforço de mensagens sobre o manejo dos ervais. “Essa base nos dará um panorama de como estão os ervais dos usuários em termos de nutrição. É uma ferramenta excepcional de prospecção de informações e demandas”, analisa Ives Goulart, engenheiro-agrônomo e analista da Embrapa.
“A adubação de ervais comerciais ainda não faz parte do dia a dia da maioria dos produtores de erva-mate”, explica Goulart. “No entanto, a adubação é fundamental para o bom desenvolvimento dos plantios de erva-mate”, orienta.
Segundo Delmar Santin, engenheiro florestal especialista em nutrição de erva-mate, ervais com menos de 50% de sombreamento precisam de adubação, pois a exportação de nutrientes com a colheita precisa ser reposta. Os níveis de nutrientes extraídos do solo pela cultura são equivalentes aos demandados por milho e soja, por exemplo.
Resultados de pesquisa indicam que a erva-mate é uma cultura exigente em nutrientes.
“Com o passar dos anos e sucessivas colheitas, o sistema natural não consegue repor tudo o que foi retirado e a planta acaba crescendo com menor vigor e redução de produtividade”, explica Santin.
“Por isso, é necessária uma mudança de hábito do produtor de erva-mate, com a adoção de práticas como análise de solo e adubação, para um equilíbrio entre saída e entrada de nutrientes no sistema”, ressalta Goulart.
Erva-mate com ciência
Pensando na melhoria do sistema de produção de erva-mate, a Embrapa Florestas criou o sistema Erva 20, que reúne resultados de pesquisa que, se adotados, podem aumentar a produtividade e a qualidade dos ervais comerciais, dependendo do seu potencial produtivo. Além de um manual, o Erva 20 disponibiliza o aplicativo Manejo Matte, para auxílio no manejo dos ervais; o Planin Matte, para análise econômica; e agora o Ferti Matte. O aplicativo é baseado na recomendação de adubação para erva-mate publicada no livro “Propagação e nutrição de erva-mate”, pioneiro em informações sobre nutrição da espécie e fruto de mais de dez anos de pesquisas.
As fases do erval
– Plantio: adubação na cova e em cobertura pós-plantio, até a primeira poda.
– Formação de copa: após a primeira e até a terceira colheita. É dividida em Formação 1 (da primeira até a segunda colheita) e Formação 2 (da segunda até a terceira colheita).
– Produção: adubação depois da terceira colheita.
Adubação é fundamental para a erva-mate
A colheita da erva-mate retira do erval uma quantidade considerável de material vegetal e, portanto, exporta os nutrientes contidos nesse material para fora da área de produção. Caso não haja reposição desses nutrientes, o solo vai se esgotando gradualmente e a produtividade do erval diminui. Portanto, é imprescindível a reposição nutricional nos ervais em produção, independentemente de o sistema ser convencional ou orgânico. (Fonte: Manual Erva 20).
Adubação de acordo com a sombra
Ervais com mais de 50% de sombreamento apresentam menor número de plantas por área e não respondem à adubação. Por isso, ela não é recomendada. Acima disso, o sistema naturalmente não consegue compensar a retirada de nutrientes promovida pela colheita.
Os macronutrientes são indispensáveis para a erva-mate. Nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio precisam ser repostos nos cultivos comerciais da espécie.
“A aplicação de calcário, que na maioria das outras culturas é realizada por causa do pH, na erva-mate tem outro fim: a reposição de cálcio e magnésio. Por essa razão, as doses de calcário recomendadas são bem menores, quando comparamos com as culturas agrícolas”, orienta Goulart.
Tecnologias praticamente triplicam a produção
“Devemos tratar a cultura da erva-mate de forma profissional, como se trata outras culturas. Enquanto produtores com baixa adoção de tecnologia colhem cerca de 7 toneladas por hectare por colheita, produtores com alta adoção de tecnologias chegam a colher mais de 20 toneladas”, defende Delmar Santin, consultor na área de nutrição de erva-mate, ressaltando que a nutrição tem papel fundamental para quem quer ter uma produção profissional, produtiva e que disponibilize matéria-prima de qualidade.
Fonte: Embrapa