O mercado do
boi está em ebulição. As cotações têm apresentado sucessivas altas nos mercados
físico e futuro, de maneira generalizada em todo o Brasil. Iniciando o ano
cotada a R$ 149, a arroba atingiu o patamar de R$ 231 no final de novembro, em
São Paulo, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea), da Esalq/USP.
As cotações
atravessaram a maior parte de 2019 “andando de lado”, ou seja, sem grandes
variações, oscilando entre R$ 150 e 160. Contudo, na segunda quinzena de
outubro rompeu esse patamar e, desde então, vêm subindo a níveis expressivos.
Somente em novembro, a valorização foi de 36,24%, partindo de R$ 169,55 no dia
primeiro e alcançando R$ 231 no dia 27, recorde real da cotação.
Diversos
fatores contribuem para explicar esse cenário de alta, entre eles a exportação.
De janeiro a outubro, o Brasil enviou 1,46 milhão de toneladas de carne bovina
ao mercado externo, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O
montante representa aumento de cerca de 10% frente ao mesmo período do ano
passado (1,3 milhão de t), consolidando 2019 como ano de exportações recordes
para o país e injetando 5,7 bilhões de dólares na economia nacional.
O Brasil
aumentou as exportações para 100 países, de um total de 174 com os quais
negocia sua carne bovina. A China ainda figura como o principal destino (318
mil toneladas), seguida por Hong Kong (284 mil t) e Egito (151 mil t).
A China tem
elevado as compras do Brasil, não apenas de carne bovina, mas de frango e
suínos, reflexo da peste suína africana que vêm assolando rebanhos da Ásia e
parte da Europa. Em 2019 houve acréscimo de 23% no volume e 7,5% em receita da
carne bovina embarcado para os chineses, que respondem por 21% do total
exportado pelo Brasil.
Para os
Emirados Árabes, o incremento foi de 175%. Merece destaque também o mercado
russo, que saltou da 37ª posição em 2018 para a 6ª nesse ano, elevando suas
compras em impressionantes 1.695%. Durante todos os meses de 2019 foram
embarcados volumes superiores à média mensal dos últimos cinco anos. Neste
cenário total, a diferença do resultado das exportações de 2018 e 2019
representa 132 mil toneladas, que, com o peso médio de carcaças de 247,5 quilos
por cabeça neste ano, segundo o IBGE, representa um volume correspondente a 500
mil animais.
Mercado Interno
No contexto
do mercado interno, em novembro ocorreu o pagamento da primeira parcela do
décimo terceiro salário para os trabalhadores brasileiros, melhorando o poder
de compra da população. Soma-se a isso a melhoria da economia brasileira, ainda
que tímida, com redução na taxa de desemprego e até mesmo a recém-instituída
política de saque de parte dos recursos do FGTS, aquecendo o comércio e,
consequentemente, a demanda interna, que geralmente absorve 80% a produção
nacional.
As
festividades de fim de ano também têm a sua influência sobre o mercado da carne
bovina. Tradicionalmente, a série histórica do IBGE aponta que o último
trimestre do ano concentra a maior parte dos abates anuais no Brasil, 25,37%,
com destaque para dezembro, que concentra 8,6% do volume total. As vendas de
carne bovina nesse período do ano aquecem o mercado e proporcionam
valorizações, pela lei da oferta e demanda.
Contudo, o
bom desempenho das exportações tem aumentado a demanda em uma velocidade
superior à oferta de boiadas, que somada à expressiva demanda interna, culmina
nos atuais valores da arroba.
As indústrias
têm tido dificuldade para encontrar animais terminados, resultando em uma
competição acirrada. Por conta disso, há relatos de negócios fechados a R$ 240
a arroba, em São Paulo, principal praça do país.
Considerando
apenas os abates com Serviço de Inspeção Federal (SIF), dados do Ministério da
Agricultura apontam para uma redução de 4,5% no número de animais abatidos em
2019 frente a 2018. De janeiro a novembro de 2019 foram abatidos 21,5 milhões
de cabeças nessas indústrias ao passo que em igual período de 2018, foram 22,5
milhões.
A demora na
chegada das chuvas em todo o Brasil, especialmente na região Centro-oeste, deve
atrasar a oferta de animais terminados a pasto no início do ano. As cotações
aquecidas do dólar, por sua vez, favorecem ainda mais as exportações, mantendo,
portanto, a demanda externa aquecida. Dessa forma, o mercado deve se manter
firme para o pecuarista terminador pelos próximos meses.
Reposicionamento do mercado
Ainda assim,
é importante lembrar que apesar do bom momento para os pecuaristas, esse
cenário não se trata de um “boom” de preços. Recordes nominais e reais foram
batidos. Contudo, em termos reais, apesar do novo recorde, o que tem ocorrido é
um reposicionamento da arroba no mercado.
Nos últimos
quatro anos, os pecuaristas têm enxergado certo marasmo no mercado do boi
gordo. As grandes oscilações registradas desde então foram negativas, reflexos
das operações Carne Fraca e Bully, que derrubaram as cotações da arroba.
Contudo, ao deflacionarmos os valores desde janeiro de 2015, o que tem havido é
uma correção nas cotações.
Após quatro
anos de mercado apático, o final de 2019 representa um bom momento pelos
pecuaristas, que, até então, registravam redução das margens. Em janeiro de
2015, com o valor de uma arroba era possível adquirir 6,9 sacas de milho e 54,7
litros de óleo diesel. Já em janeiro de 2019, as cotações da arroba permitiam
ao pecuarista adquirir o equivalente a 5,2 sacas de milho e 44,29 litros de diesel,
redução de 24,6 e 19,1%, respectivamente.
Para o
bezerro, a relação de troca do pecuarista se manteve estável nesse período.
Considerando um boi gordo de 16,5 arrobas, a venda de um animal permitia a
aquisição de 1,9 bezerro em janeiro de 2015. No mesmo mês de 2019, essa relação
alcançou 2,02. Porém, no final deste ano, a forte elevação das cotações
permitiu alcançar um fator de conversão de 2,22 bezerros/boi gordo.
Desta forma, a análise do comportamento do mercado permite apontar que o atual momento é apenas uma correção abrupta após quatro anos de cotações “mornas” em termos nominais. Num primeiro momento, o pecuarista deve comemorar. Mas, sem esquecer que é o momento de otimizar na gestão e se capitalizar para investir na atividade, especialmente no bem mais precioso das propriedades pecuárias: as pastagens.
Veja os gráficos e mais informações no Boletim Informativo.
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Fonte: Sistema FAEP