Buscando o avanço das avaliações da infiltração, retenção e transmissão da água no solo, pesquisadores da Embrapa Solos (RJ) criaram o Laboratório de Avaliação e Modelagem da Água no Solo (Lamas), que entrou em funcionamento em março de 2017.
- No estudo da disponibilidade da água no solo usamos técnicas de laboratório e de campo, aqui no Lamas integramos essas duas técnicas, esse é nosso diferencial – conta o pesquisador da Embrapa Solos Wenceslau Teixeira. – Vários equipamentos que estão aqui, vieram – e vão voltar – para o campo – completa o cientista enquanto observa as amostras de solo.
Experimentos em cultivos de dendê, em Moju (PA), e cana, em Presidente Figueiredo (AM), estão em andamento.
Com o desenvolvimento de modelos computacionais específicos, é possível atualmente fazer estimativas e cálculos precisos da variação da disponibilidade da água para as plantas nos diferentes solos e condições de clima. Nesse sentido, a expectativa é que o Lamas seja um catalizador para o desenvolvimento de novos métodos.
Um maior conhecimento da capacidade dos solos em infiltrar, reter e conduzir água é essencial para o planejamento do uso das terras no Brasil. Essa informação qualificada, ao lado de dados agrometeorológicos, contribuirá para o aperfeiçoamento dos zoneamentos de risco climáticos para diferentes cultivos nas diversas regiões do País.
- Além disso, esse conhecimento permitirá simulações para o entendimento dos fluxos de pesticidas e fertilizantes no solo, com redução dos riscos de contaminação de águas subterrâneas e superficiais – prevê Wenceslau.
As atividades no Lamas foram iniciadas com testes de avaliação e de protocolo de uso de mesas de tensão e do psicrômetro, equipamentos utilizados para avaliar a retenção de água pelos solos. O psicrômetro, por exemplo, reduz o tempo da análise de retenção de meses para minutos, e ainda é raro no Brasil.
A Embrapa Solos já sediou dois workshops para modelagem de dados de água.
Desafios
As diversas classes de solos brasileiras têm capacidade de infiltrar, reter e conduzir água em graus diferentes. Porém, o conhecimento dessas propriedades nos solos do País ainda é reduzido. Uma das razões para a pouca disponibilidade desses dados é o trabalho intenso necessário para as avaliações no campo e na coleta das amostras para as análises no laboratório.
- As amostras coletadas para análise no laboratório devem ser coletadas com cilindros metálicos que mantêm a estrutura original do solo e transportadas com cuidado para não provocar alterações – explica Teixeira.
Muitos dos solos predominantes no Brasil, em especial os que são bem estruturados, como os latossolos e os argissolos, apresentam um comportamento anômalo na infiltração e retenção de água quando comparados com solos das regiões temperadas. Isso faz com que muitos dos modelos desenvolvidos na Europa e Estados Unidos não funcionem por aqui.
A maneira mais comum de avaliação da infiltração da água no solo é pelo método do duplo anel. São dois cilindros concêntricos, cravados no solo. A infiltração é avaliada pela redução do volume de água dentro do cilindro interno. Os dados coletados são úteis para planejamento de sistemas de irrigação e de riscos de enxurradas. Esse método possui dois problemas: a grande quantidade de água necessária e a grande variabilidade da infiltração na superfície do solo, o que motiva um grande número de repetições para se obter os valores da área avaliada.
- Essa inundação gerada pelo duplo anel não é o ideal, uma infiltração natural normalmente ocorre sob chuva, mas sem inundação. Ou seja, em condições não totalmente saturadas onde ocorre uma certa degradação superficial pelo impacto das gotas da chuva – diz Quirijin de Jong van Lier, professor da ESALQ/USP (SP). – Outro problema é que a área relativamente pequena de cada teste, mesmo utilizando dois anéis, pode levar à superestimativa das taxas de infiltração em solos estratificados onde ocorrerá fluxo horizontal de água. -
Silvio Crestana, pesquisador da Embrapa Instrumentação (SP), cita alguns outros problemas do duplo anel: o tamanho do infiltrômetro dificulta o transporte; ele opera somente na área superficial do solo. Na terra compactada, esse equipamento requer maior aplicação de força para encravamento e nem sempre os pré-requisitos de uso para o aparelho são observados, em condições reais, de campo. Ou seja, validade das equações de infiltração da água no solo, como homogeneidade, inexistência de fluxo preferencial, dentre outros.
O fenômeno da infiltração e transmissão da água no solo é complexo, pois os valores da velocidade da infiltração mudam com a variação da umidade do solo.
- Nós precisamos enfrentar o desafio dessa complexidade para monitorarmos o processo do movimento da água no solo, que na realidade não é água pura, e sim o que chamamos de solução do solo, um coquetel de íons minerais e substâncias orgânicas tanto naturais quanto introduzidas pelo homem, incluindo os agrotóxicos e fertilizantes – afirma Teixeira.
Buscando soluções
Como as avaliações de retenção de água são relativamente demoradas e exigem altos investimentos, a Embrapa e seus parceiros têm trabalhado no aperfeiçoamento de procedimentos e testes de novos métodos e equipamentos para tornar mais fácil a obtenção dessas informações.
Na Unidade de pesquisa em São Carlos, Crestana aponta alguns caminhos.
- Buscamos alternativas aos métodos e equipamentos convencionais visando à construção de curvas características de água no solo, para retenção de água, de modo mais rápido e, possivelmente, mais barato – explica.
O pesquisador aponta, como consequência, a ampliação da quantidade e da abrangência das análises, tanto geográfica como do ponto de vista das classes texturais e escalonamento dos solos.
- Desse modo, está sendo viabilizado um banco de dados que permita tomar decisões mais otimizadas, lastreadas em ciência e tecnologia. E, consequentemente, orientar políticas e planejamento de interesse público e privado – analisa.
Com a criação do laboratório Lamas, no Rio, a Embrapa espera potencializar esses resultados.
Fonte: Embrapa