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AMÉRICA DO SUL CONTRA A FERRUGEM ASIÁTICA

As medidas para combater a ferrugem asiática da soja precisam ser tomadas em conjunto por todos os países produtores do grão na América do Sul. A opinião é consenso entre os participantes do painel “A soja de segunda safra”, realizado nesta quinta-feira (25.06), último dia do VII Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Florianópolis (SC).

De acordo com os participantes do debate, medidas isoladas nos estados brasileiros, como aumento do período de vazio sanitário e calendarização do plantio, são eficientes. Porém, não são suficientes para resolver o problema.

Exemplo disso é o aumento do plantio de soja de segunda safra no Paraguai, enquanto alguns estados brasileiros tenta inibir essa prática. De 2008 para cá a área com soja safrinha no país vizinho quase quadruplicou e hoje já soma 558 mil hectares. Como resultado, os produtores paraguaios estão sendo obrigados a fazer mais aplicações de fungicidas para combater a ferrugem asiática. Com isso, o custo com dessas aplicações já igualou ao valor investido em fertilizantes.

- O sistema produtivo do Paraguai está em risco. Se não for feita uma intervenção, é possível que no próximo Congresso estejamos falando em inviabilidade de produção de soja no país – alertou o agrônomo da Sementes Iruña, Claiton Rodrigues.

Para o moderador do painel e chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Ricardo Abdelnoor, o Brasil precisa tomar medidas preventivas contra a ferrugem asiática da soja em seus estados produtores. Mas a solução do problema passa por ações conjuntas com Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, uma vez que os esporos do fungo migram facilmente com o vento e, estando presentes em um país, podem infestar o outro.

- Se quisermos um controle efetivo, além do Brasil, temos de ter ações em outros países também. Há a necessidade da normatização efetiva e conscientização dos produtores e técnicos de todos os países. Temos de pensar em boas práticas agrícolas – disse Abdelnoor.

Soja de segunda safra Para evitar a presença de plantas hospedeiras no campo em longo período e assim combater o fungo causador da ferrugem, alguns estados brasileiros estão adotando medidas preventivas. Goiás, por exemplo, optou pela restrição da janela de plantio. Já Mato Grosso ampliou o vazio sanitário e proibiu o plantio de soja safrinha. As medidas são polêmicas, uma vez que para serem cumpridas demandam maior fiscalização e restringem a liberdade de decisão dos produtores.

- Esse assunto precisa ser discutido em vários âmbitos e em diferentes fóruns. Apesar de a soja safrinha ser uma opção para o produtor, a gente vê vários riscos inerentes que podem comprometer a cultura da soja. Não podemos deixar isso acontecer. Precisamos proteger a cultura que é tão importante para nossa economia – afirma Ricardo Abdelnoor.

Para Neri Ribas, diretor técnico da Aprosoja Mato Grosso, o tema já deixou de ser polêmico, uma vez que agora trata-se de viabilizar a sustentabilidade da cadeia produtiva e não mais uma simples opção de escolha. A opinião é compartilhada pelo agrônomo e agricultor Gilberto da Costa. Segundo ele, será preciso repensar o sistema produtivo e a iniciativa também tem de partir dos agricultores, afinal, são os maiores interessados.

- Soluções agronômicas existem. Ao longo do Congresso vimos vários exemplos de casos de sucesso com a integração lavoura-pecuária, por exemplo. Temos que voltar à agronomia básica – avalia.

Perda da eficiência Além dos prejuízos financeiros causados pela ferrugem asiática da soja, o que mais preocupa os pesquisadores e representantes dos produtores é perda de eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado. Com a presença de planta hospedeira no campo durante grande período do ano e consequente aumento da presença do fungo causador da doença, tem sido necessário realizar maior quantidade de aplicações.

Com uso mais intenso dos fungicidas, muitas vezes em doses inadequadas e sem a rotação de moléculas, os fungos estão perdendo a sensibilidade aos produtos.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, produtos com eficiência de 80% no início dos anos 2000 não chegam a matar 30% da população do microrganismo hoje. A maior eficiência tem ocorrido com o uso de misturas comerciais de princípios ativos. Entretanto, mesmo estes produtos têm a eficiência comprometida.

- Estamos ficando cada vez mais sem opções para combater a doença. Desde 1996 não surge um novo princípio de ação. Precisamos preservar muito essas moléculas que temos, porque não têm outras chegando ao mercado – alerta a pesquisadora.

Para ela, é preciso diversificar as estratégias de combate ao fungo, como rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, boas práticas no controle químico e retirada de hospedeiros vivos do campo em determinados períodos do ano.

- O vazio sanitário não é perfeito, mas sem ele o cenário seria ainda pior – afirma.

Fonte: Embrapa



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