A postura restritiva dos bancos ano passado levou à busca de outras alternativas para o custeio da lavoura, mas o retorno do crédito faz o produtor poder pesar melhor a fonte dos recursos. O agricultor Euclesio Piccinini, de Trindade do Sul, no Planalto, optou pela troca de insumos por parte da soja que viria a colher para ter defensivos e fertilizantes que usou na última safra de verão. Realizada com uma empresa de produtos químicos, a operação de barter (palavra em inglês que significa "permuta") é uma das possibilidades.
— Se você não tem outra opção de crédito, a troca é uma boa alternativa — avalia o agricultor, que tem preferência para tomar financiamento bancário para a próxima safra de verão.
Piccinini conta que, devido à frustração do último ciclo de trigo, atrasou a liquidação do custeio e ficou momentaneamente sem acesso ao crédito, o que foi resolvido depois da colheita de verão. Tanto que a atual lavoura de inverno já foi custeada em uma instituição bancária.
Sondagem da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostra que, na última safra, o dinheiro dos bancos respondeu por apenas 42% do custeio das lavouras no Brasil. No ciclo anterior, o percentual chegou a 52%. Com isso, além da utilização do capital próprio, também cresceu a busca por financiamento com cooperativas, revendas e indústrias.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, pondera que, se as condições forem boas, sistemas como o barter têm vantagem pela burocracia menor. Mas, se após firmado o contrato o preço da soja subir, o produtor deixará de ganhar mais porque já tem parte da safra comprometida.
O uso de capital próprio, entende Teixeira, também é visto com restrições pelos agricultores diante das incertezas da economia brasileira.
Cooperativas têm fatia de 10%
No caso das cooperativas, responsáveis por 10% do custeio na última safra, dois pontos percentuais acima do ciclo anterior, ainda haveria um pouco de espaço para ganhar participação, mas não para suportar uma grande ausência do sistema financeiro, avalia Paulo Cesar Dias do Nascimento Junior, coordenador do Ramo Agropecuário da OCB.
— As cooperativas são fortes aliadas do produtor e têm ainda a segurança em função do relacionamento com o agricultor, histórico de produção, produtividade, adimplência, assistência técnica, mecanismo que um cerealista, por exemplo, não tem. Isso possibilita um apoio maior — diz Nascimento Junior, lembrando que o financiamento por parte das cooperativas não ocorre por meio do repasse de recursos, mas com o fornecimento de insumos.
O dirigente da OCB lembra ainda que, conforme dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor) do Banco Central, as cooperativas financeiras tiveram no ano passado uma fatia de 28% do total dos volumes de contratos de custeio, equivalentes a 15,4% dos valores emprestados.
Fonte: Zero Hora
Fonte: Canal do Produtor