A disparada dos preços do milho no mercado doméstico fez soar o alerta na indústria produtora de carnes de frango e suína. Depois de dois anos em níveis bastante positivos, a rentabilidade do segmento sofreu uma deterioração em janeiro. O quadro agora é de margens já negativas na indústria de carne suína e praticamente nulas em frango.
Levantamento da MB Agro, braço agrícola da consultoria MB Associados, aponta que a margem da indústria de carne de frango baseada no sistema de integração – que inclui empresas como BRF e JBS Foods – está zerada neste momento. A reversão é considerável se comparada à margem média de 2015, de 10%. Na indústria integrada de carne suína, a situação é ainda pior. De acordo com a MB Agro, a margem do segmento está negativa em 4%, ante 11% positiva no ano passado. De acordo com o analista César Castro Alves, é o primeiro mês desde julho de 2013 em que a indústria de carne suína opera com margem média negativa.
“Estamos vivendo uma situação ímpar. Ninguém se preparou para isso”, lamenta o diretor financeiro do grupo avícola paranaense GTFoods, Vitor Bellizia. Ao contrário de outros períodos em que o milho registrou forte alta – como em 2012 -, desta vez não se trata de um choque de oferta.
Ainda que possam haver relatos pontuais de escassez de milho devido à entressafra, os grandes responsáveis pela alta do cereal no país são o câmbio e o forte ritmo de exportações. Enquanto na bolsa de Chicago o preço do milho subiu 1,99% este ano, conforme o Valor Data, no mercado brasileiro a alta foi de 18%, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa. Em relação há um ano, o avanço no mercado doméstico é de 60%, para R$ 43,46 por saca.
Esse aumento impacta diretamente os custos de produção da indústria de carne de frango e suína. Estima-se que o milho represente 60% da composição da ração, insumo responsável por 70% do custo de produção total de carne de frango. A dependência do milho é ainda maior na indústria de carne suína, setor no qual a ração responde por 80% dos custos.
A crise econômica brasileira torna ainda mais delicada a tarefa de repassar o aumento de custos. “Começa pelos próprios compradores dos supermercados. Ninguém admite repasses”, afirma Luiz Carlos Costa, superintendente do frigorífico mineiro Pif Paf, que é também um dos principais produtores de alimentos processados de Minas Gerais. Costa pondera que o mix de produtos da empresa, com mais processados, dilui os efeitos sobre as margens.
Empresas relativamente menos dependentes das carnes in natura, tais como BRF e JBS Foods, também tendem a sofrer menos. Procuradas, as duas não se pronunciaram. Além da crise econômica, o padrão sazonal também trabalha contra a indústria de carne de frango e suína. Tradicionalmente, o início de ano, por concentrar os pagamentos de impostos e compras de itens como material escolar, é de demanda menor. O clima quente também ajuda a desestimular o consumo de carne suína, lembra o analista Augusto Maia, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que é vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
Na avaliação de Maia, a situação dos suinocultores independentes – aqueles que não são integrados às grandes indústrias – é ainda mais delicada, tendo em vista que eles precisam comprar diretamente os insumos. Nos integrados, a responsabilidade de compra dos grãos fica com a indústria, que tem mais capital de giro. Hoje, cerca de 20% da produção brasileira de suínos é feita por independentes, conforme Maia. Em um ano, o poder de compra do milho pelos suinocultores caiu 40% na região de Campinas (SP), segundo o Cepea.
Com a explosão dos preços do milho e alertas de seus associados, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria, pediu, em encontro na terça-feira, ao Ministério da Agricultura que faça leilões dos estoques do grão para amenizar a pressão de custos, e o governo assentiu. O ministério pode leiloar até 500 mil das 1,3 milhão de toneladas que a Conab tem armazenados.
Outras medidas que poderiam ter mais impacto, como o subsídio ao frete no escoamento do milho, são mais difíceis por conta das restrições orçamentárias.
Em resposta ao pedido da ABPA, o Ministério da Agricultura ponderou que a colheita de milho está prestes a começar, o que tende a aliviar a pressão. Os estoques de passagem, em torno de 10,5 milhões de toneladas, também são suficientes para abastecer a demanda nos próximos dois meses, informou o ministério.
Depois de encontro no ministério, o presidente da ABPA, Francisco Turra, disse estar mais otimista. De acordo com ele, a situação é transitória e o início de colheita de milho deve aliviar o quadro. Além disso, o fluxo de exportações de milho, que está muito alto, deve arrefecer para dar lugar nos portos aos embarques de soja. Ainda assim, ressaltou Turra, reajustes de preços são necessários.
Fonte: Valor Econômico – 22/01/2015
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