BRASÍLIA – Os negociadores brasileiros que participarão da COP-21 — conferência mundial sobre o clima que acontecerá de 29 de novembro a 12 de dezembro, em Paris — iniciarão os debates pressionados pelo agronegócio. Encarregado de cumprir boa parte da meta de redução das emissões de carbono do país — 37% até 2025 e 43% até 2030 —, o setor cobra a defesa de seus pontos de interesse nas reuniões. Entre eles, a revisão, a cada cinco anos, dos objetivos estabelecidos para países em desenvolvimento. Além disso, o agronegócio quer a inclusão, nas obrigações a serem assumidas, de tudo o que já foi feito no Brasil para mitigar os efeitos do aquecimento global (com destaque para a redução do desmatamento); a padronização do sistema de medição; a não taxação das emissões de países emergentes e a garantia de que as nações desenvolvidas não usarão desculpas na área ambiental para impor barreiras às exportações agropecuárias.
A lista tem como justificativa a parte que cabe ao agronegócio no esforço que o Brasil fará, com outros 140 países, para que a temperatura do planeta não suba acima de 2 graus Celsius até o fim deste século. Está prevista, por exemplo, a recuperação de 12 milhões de hectares de florestas.
Segundo o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária, Rodrigo Justos de Brito, o país tem participado ativamente das questões relacionadas ao clima. Ele afirmou que o Brasil sempre foi foco de atenções não por causa de emissões, mas devido ao desmatamento, que, garante, “hoje é residual”.
— As emissões do Brasil correspondem a 3% do total mundial. Só o acréscimo registrado pela China a cada ano é maior que todo o volume brasileiro do período. Reduzimos drasticamente o desmatamento. As nações desenvolvidas são, em tese, os devedores nesse assunto — disse Brito, acrescentando que mais de 80% das emissões são oriundas dos setores de energia e petróleo.
Apoio a ciclo de cinco anos
O ciclo de cinco anos para revisão das metas dos países em desenvolvimento é apoiado pelo governo brasileiro, informou o embaixador José Francisco Marcondes de Carvalho, negociador-chefe do Brasil na COP-21. Ele lembrou que o acordo a ser fechado em Paris começará a vigorar em 2020 e que ainda há divergências em relação às formas e ao período de fiscalização. Alguns países defendem uma reavaliação a cada dez anos.
— É um tema bastante controverso. O Brasil apoia cinco anos — afirmou o diplomata.
Perguntado se a tragédia ambiental de Mariana não afetará a credibilidade do Brasil nas negociações, Carvalho descartou essa hipótese:
— Não vamos confundir as situações. O trágico acidente de Mariana não provoca qualquer impacto climático. Foi um acidente ambiental de grandes proporções, mas não tem nada a ver com o clima.
POR ELIANE OLIVEIRA / DO JORNAL O GLOBO
Fonte: Canal do Produtor