Ao completar nove dias de duração, a greve dos caminhoneiros gera perdas significativas em todas as cadeias produtivas do agronegócio paranaense, trazendo consequências para o campo e para a cidade, e causando sequelas econômicas que ainda vão demorar muito tempo para serem sanadas.
A FAEP e diversos sindicatos rurais do Paraná inicialmente apoiaram o movimento dos caminhoneiros, por entender que as reivindicações eram justas. A Federação encaminhou ofício para diversas autoridades federais e estaduais, inclusive para o presidente da república e para a governadora do Paraná, solicitando soluções urgentes para reduzir a carga tributária incidente sobre o diesel, que pode chegar a 45% do preço na bomba.
Porém, após o governo atender as demandas dos caminhoneiros, os protestos não fazem mais sentido. “Restabelecer o abastecimento tanto de combustível como dos produtos de alimentação da população se faz urgente”, afirmou o presidente da FAEP, Ágide Meneguette.
Numa tentativa de dimensionar os impactos da paralisação, o Departamento Técnico (DETEC) da FAEP elaborou um estudo, onde elenca as dificuldades enfrentadas por cada cadeia produtiva da agropecuária paranaense até o momento, além da atividade no Porto de Paranaguá e junto aos agentes financeiros. O documento técnico segue em anexo.
À beira do colapso
A avicultura e a suinocultura são as atividades mais atingidas pela paralisação. De acordo com o levantamento da FAEP, 245 mil suínos deixaram de ser abatidos no Estado, impedido com que R$ 107 milhões circulassem na economia paranaense. Ainda, o documento aponta que 59 milhões de frangos não foram abatidos, enquanto quase 70 milhões acabaram morrendo no Brasil, entre frangos e pintainhos.
O técnico agrícola Aldair Rodrigues Caniatto, de Mandaguari, no Norte do Paraná, comenta que a avicultura da região está à beira de um colapso. “Desde o início da greve tem sido falado de medidas para garantir a movimentação de cargas para o abastecimento das granjas. Porém, a realidade é que o transporte não chega em todos os lugares. Não está tendo um padrão de conduta entre os bloqueios dos caminhoneiros. Por isso está ocorrendo o desabastecimento, de indústrias e produtores, o que está levando à mortalidade de frangos”.
O técnico revela que o racionamento é altíssimo, com frangos de 40 dias, que deveriam comer 200 gramas de ração diariamente, recebendo somente 50 gramas. “O frango vai ficando fraco, predisposto a doenças e a mortalidade começa a aumentar gradativamente. Meu pai, que é produtor, está há quatro dias sem ração e não tem previsão. A própria empresa diz que não tem ração, porque o insumo para fabricação [soja e milho, principalmente] não chega. Como isso, o frango já começa o canibalismo. Se não normalizar, a gente chama de colapso”.
Leite
Na pecuária de leite, os produtores rurais também registram prejuízo. Com a coleta suspensa por conta da greve dos caminhoneiros, muitos estão sendo obrigados a jogar leite fora. O Pool Leite, associação de 800 produtores que congrega sete cooperativas (Frísia, Castrolanda, Capal, Bom Jesus, Coamig, Witmarsum e Agrária), está sendo obrigada a jogar fora 1,5 milhão de litro por dia.
No município de Sabáudia, na região Norte do Estado, o pecuarista Euclênio Vendrametto Netto já descartou 5 mil litros do produto desde o início da paralisação, montante que representa cinco dias de trabalho.
“Se as coisas não normalizarem com urgência, terei que descartar mais 2 mil litros. Além do desperdício de alimento, esse prejuízo financeiro complica na hora de pagar os funcionários, conta de energia elétrica e financiamentos”, ressalta Vendrametto, que já contabiliza prejuízo de R$ 8 mil.
De acordo com o produtor, as duas indústrias que recebem o leite produzido na propriedade enfrentam problemas gerados pelo desdobramento da greve. A empresa situada na cidade de Lobato, apesar de ter caminhão para buscar o leite, não recebeu matéria prima para produzir os derivados. Já a indústria de Arapongas enfrenta problema com o transporte. “A informação é que os motoristas da empresa estão sofrendo ameaças de outros caminhoneiros. Intimidados, não estão trabalhando”, conta o pecuarista de Sabáudia.
Além dos problemas atuais, Vendrametto já sabe que terá outros mesmo com o fim da paralisação. Sem poder entregar o leite, o pecuarista diminuiu a alimentação das 40 vacas em lactação para reduzir a produção. “Quando voltar à rotina, vai de 15 a 20 dias para recuperar o potencial do plantel. Isso se recuperar”, lamenta.
Hortifruti
Na área de frutas e hortaliças, os prejuízos também foram significativos. A movimentação da Ceasa, em Curitiba, está ocorrendo com menos de 5% do volume habitual. Em dias normais, o volume de comercialização é de 4 mil toneladas/dia entre frutas e hortaliças, chegando a cifra de R$ 8,8 milhões.
Na Lapa, município da Região Metropolitana de Curitiba, o produtor Cristiano Krupa computa uma série de perdas. “Já estamos perdendo morango, tomate e uma parte da lavoura já passou do ponto”, conta.
Segundo Krupa, com o impedimento de transportar os produtos, foi preciso descartar 2 mil caixas de morango, prejuízo avaliado em R$ 40 mil. Também os tomates (de diversos tipos) pereceram. “Temos um grupo de 40 produtores aqui que jogou fora umas 15 toneladas de tomate, prejuízo de mais R$ 50 mil”, avalia Krupa.
Além das perdas da produção, os insumos não chegam até as propriedades. “Não chega mais insumo, estamos sem produto e o combustível está acabando”, alerta. De acordo com o produtor, houve tentativas de escoar a produção, mas sem sucesso. “Parecia que estávamos roubando nossa própria mercadoria”, lamenta. O grupo de produtores possui três caminhões, mas com a paralização os veículos ficaram presos nas estradas.
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Fonte: Sistema FAEP