O uso dos chamados bioinsumos cresce
de forma significativa nas grandes lavouras do Brasil. Na soja, o percentual de
produtores que utiliza algum produto biológico em suas plantações está
crescendo: 6% no ciclo 2017/18, 14% em 2018/19 e 21% na 2019/20. O movimento, que
envolve não apenas a soja, é um caminho sem volta. Esta foi a conclusão dos
participantes da reunião da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas
do Sistema FAEP/SENAR-PR, realizada de forma virtual nesta terça-feira (17).
Os bioinsumos são produtos, processos
e tecnologias que podem ter tanto origem animal, vegetal e/ou microbiana. Utilizados
na produção agrícola, pecuária, aquícola ou florestal, os produtos têm
capacidade de influenciar de modo positivo o desenvolvimento das atividades
rurais. Eles possuem uma regulamentação no Brasil, por meio do Decreto 10.375
de 2020, e vem chamando a atenção de pesquisadores e produtores rurais por
várias razões, principalmente pela capacidade de reduzir custos de produção e
proporcionar a diminuição no uso de agroquímicos.
“Temos um cenário de pressão nos
custos de produção e os produtos biológicos representam uma das alternativas interessantes
para diminuirmos esse problema. É preciso encarar o tema com seriedade, fazer
os investimentos adequados e seguir todos os critérios técnicos para usar esses
produtos, que são novos e exigem atenção redobrada para seguirmos garantindo a
produção de alimentos de qualidade pelo Paraná”, aponta o presidente do Sistema
FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.
Ba reunião da CT de Grãos, Alessandro
Cruvinel Fidelis, coordenador-geral de mecanização, novas tecnologias e
recursos genéticos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) destacou o aumento no registro dos chamados “agrotóxicos e afins de
baixo risco” – categoria dos bioinsumos. Somente em 2020 foram registrados 95
novos produtos, contra 43 em 2019. A expectativa é que a curva de crescimento
siga acelerada nos próximos anos.
Segundo Fidelis, a pesquisa e os
esforços dentro do Programa Nacional de Bioinsumos (que reúne diversas
entidades do agro) têm proporcionado resultados concretos na economia nas
atividades rurais. O lançamento do produto BiomaPhos, pela Embrapa, por
exemplo, une duas bactérias para reduzir em 50% a necessidade de aplicação
fósforo no cultivo de milho. O potencial de economia apenas com esse insumo é de
US$ 40 bilhões no Brasil.
“Nosso objetivo é ampliar e fortalecer
a utilização de bioinsumos, procurando promover o desenvolvimento sustentável
da agricultura brasileira. Para isso, precisamos de um marco regulatório
robusto, investimento em ciência, tecnologia e inovação, crédito e fomento,
conhecimento e capacitação, implantação de biofábricas e programas estaduais”,
enumerou Fidelis, que enfatizou também que os investimentos em bioinsumos foram
inclusos, pela primeira vez, no Plano Safra, em 2021/22.
Prática
no campo
O agricultor gaúcho Helio Dal Bello, com
passagem pelo Paraná e morador do Distrito Federal desde os anos 1980, é um
entusiasta dos bioinsumos. Ele começou a usar esses produtos a partir de
experiências improvisadas. Com o passar do tempo, a partir de estudos mais
aprofundados, percebeu que estava colocando em risco a sua saúde, dos
funcionários da fazenda e até mesmo a sua própria produção. Então resolveu
investir em equipamentos de ponta.
Nos últimos anos, Bello investiu mais
de R$ 1 milhão na aquisição de um equipamento chamado “biorreator autoclavado”,
capaz de fazer a reprodução de bactérias de forma tecnicamente correta para a
produção de bioinsumos. Além disso, um laboratório e outros equipamentos como
gerador de vapor e resfriador fazem parte do complexo.
“Lá atrás, começamos de uma forma rústica.
Foi quando a Embrapa lançou um curso e mudou toda história”, ressalta.
De acordo com a técnica Ana Paula
Kowalski, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR,
os investimentos são viáveis ao campo, desde que seguindo parâmetros técnicos e
de boas práticas na produção de bioinsumos. “Às vezes o produtor faz por conta
própria um bioinsumo sem prezar pelos critérios adequados. Temos que incentivar
que se o bioinsumo for feito na propriedade, é preciso ter equipamentos
adequados, laboratório e toda a estrutura necessária”, reforça
O presidente da CT de Cereais Fibras e
Oleaginosas do Sistema FAEP/SENAR-PR, José Antônio Borghi, classificou o
movimento da agricultura em direção aos bioinsumos como positivo, ressaltando a
necessidade de se observar o tema tecnicamente. “Precisamos levar esse assunto a
sério, como uma alternativa para baratearmos os custos de produção”, conta.
Outros
temas
A CT de Cereais, Fibras e Oleaginosas
também fez uma rodada de conjuntura, que apontou perdas no milho e
possivelmente prejuízos em outros cereais de inverno, como trigo e cevada. A
perspectiva de um leve aumento na plantação de milho verão e a aposta em
cereais alternativos no inverno, como sorgo e triticale no próximo ciclo,
também entrou em pauta.
Além disso, uma palestra da técnica do
DTE Nicolle Wilsek tratou do problema do controle de javalis e importância do
cadastro de manejadores e caçadores do animal exótico, que proporciona
prejuízos nas lavouras, risco sanitário e até mesmo à vida de moradores de
áreas rurais.
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Fonte: Sistema FAEP