No Brasil, culturas como a da soja poderão ter redução de até 39% em sua área até 2040 por conta da baixa qualidade dos recursos naturais que permitem o plantio. O arroz, o feijão, e o milho também sofrerão diminuição na área apropriada para plantação. Nos Estados Unidos, por exemplo, a safra de lúpulos foi afetada no último verão por conta de condições ambientais atípicas, impactando diretamente a produção de cerveja.
A alteração nos padrões do clima global, a diminuição de terras cultiváveis e o impacto negativo na produção de bens básicos de alimentação são indissociáveis. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a produção agrícola contribui com mais de 17% do PIB, e com 18% do emprego do Brasil. Também ajuda na geração de energia elétrica do país, com a biomassa resultante das culturas. Aproximadamente 42% da energia de fonte renovável produzida no Brasil são compostas pela biomassa de cana-de-açúcar.
Grande parte das alterações nos padrões de cultivo também trará impactos na ocorrência de doenças, pragas e plantas invasoras. Estima-se que US$ 250 bilhões são gastos, anualmente, no combate a espécies invasoras nas plantações em todo o mundo. Só no Brasil, o custo pode chegar a US$ 100 bilhões por ano.
A maior parte dos problemas se relaciona com a extinção de espécies nativas, gerando um desequilíbrio ambiental que impacta diretamente na capacidade de resiliência do ecossistema em questão, e na produção de qualquer cultura.Alta produtividade e baixa emissãoA produção agrícola é considerada a segunda maior fonte emissora de Gases de Efeito Estufa (GEE) como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), responsáveis pelo aquecimento global. Ainda relacionada ao desmatamento de florestas nativas e à utilização de fertilizantes nitrogenados, a agricultura é responsável por mais de um terço das emissões de GEE no Brasil.
Na tentativa de reduzir e compensar as emissões do setor foi lançado o Plano Nacional para a Agriculta de Baixo Carbono (Plano ABC), contemplado na Política Nacional de Mudanças Climáticas, em vigor desde 2010. O documento tem como principal objetivo incentivar a agropecuária sustentável por meio do oferecimento de linhas de crédito para cultivos que associam alta produtividade e baixa emissão de GEE.
Também com a intenção de auxiliar os produtores a entender e mensurar seus impactos ambientais, o World Resources Institute (WRI) possui o projeto GH Protocol Agropecuário, uma ferramenta lançada em 2012 e que tem como principal função a contabilização das emissões do setor de forma padronizada.
Familiar e mecanizada
Diversas ações podem ser úteis na tentativa de reduzir e compensar as emissões de GEE do setor agrícola. Entre elas está a mecanização do processo de colheita de cana-de-açúcar e de material particulado – partículas que, além de contribuir com o aquecimento global, também prejudicam a qualidade do ar, e têm efeitos negativos na saúde dos habitantes das comunidades próximas às plantações. Isso contribui não só para a redução dos impactos da produção agrícola como para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em 2013, 58% das colheitas eram realizadas por meio de máquinas, sem a necessidade de queimadas.
A agricultura familiar é outra proposta para preservar o meio ambiente. O Programa Agroecologia (uma das vertentes do PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) proporciona crédito para pequenos produtores rurais, cuja produção de alimentos tenha bases agroecológicas e orgânicas, e que cultivem sem o uso de pesticidas e agrotóxicos, equilibrando a relação entre o ser humano e o meio ambiente.
O grande desafio dos próximos anos será manter a produtividade aliada ao crescimento sustentável, garantindo os avanços na redução da pobreza e da fome, utilizando tecnologia que potencializa o alcance das necessidades dos seres humanos e que reduz os impactos socioambientais.
Fonte: Época Negócios