O acordo entre Mercosul e União Europeia, assinado na sexta-feira (28), foi considerado uma ameaça para atividade agrícola na Europa, segundo associações de produtores de países do continente.
Assim que o acordo foi anunciado, mensagens de revolta no Twitter e comunicados críticos começaram a aparecer.
A Copa Cogeca, o principal sindicato agrícola da UE, criticou uma “política comercial de dois pesos e duas medidas, que aumenta a brecha entre o que se pede aos agricultores europeus e o que se tolera dos produtores do Mercosul”, cujas normas fitossanitárias e ambientais não são as mesmas que na Europa.
Na Alemanha, Joachim Rukwied, diretor do sindicato agrícola Deutscher Bauernverband, declarou que o o acordo é “totalmente desequilibrado” e colocará em perigo “muitas atividades agrícolas familiares”.
“Poucas semanas depois das eleições europeias é inaceitável a assinatura de um acordo Mercosul-UE, que deve expor os agricultores europeus a uma concorrência desleal e os consumidores a um engano total”, tuitou a diretora do maior sindicato agrícola francês, FNSEA, Christiane Lambert.
O tratado comercial, um dos mais importantes do mundo, pois afetará a 770 milhões de pessoas e implicará 25% do PIB mundial (€ 18 trilhões), provocou fortes dúvidas do setor sobre sua aplicação.
Setores atingidos pelo acordo
Para alcançar o compromisso, o Mercosul teve que abrir as portas à indústria europeia, particularmente no setor automotivo, mas também aos setores químico e farmacêutico, assim como seus mercados públicos.
Em troca, a UE facilitará o acesso a seu mercado aos quatro países sul-americanos, ávidos por vender açúcar, etanol e carne.
Com o acordo, o Mercosul poderá exportar para a UE quase 99.000 toneladas de carne bovina com uma taxa preferencial de 7,5%, o que poderá enfraquecer os pecuaristas europeus.
Na França, este setor, muito dependente dos subsídios europeus, acredita que não conseguirá competir com as “fábricas de carne” latino-americanas.
Como resposta, o comissário europeu da Agricultura, Phil Hogan, prometeu na sexta-feira uma “ajuda financeira” de até um bilhão de euros “em caso de perturbação do mercado”, embora tenha admitido que o texto implica “alguns desafios para os agricultores europeus”.
Seu compatriota, o ministro irlandês da Agricultura, Michael Creed, afirmou que está “muito decepcionado” com a “importante contingente tarifário” sobre a carne bovina, justo no momento em que o setor “enfrenta uma grande incerteza”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que este é um “bom” acordo, mas que a França permanecerá “vigilante”.
Macron se declarou satisfeito porque o texto faz uma referência explícita ao Acordo de Paris sobre o clima e que garante, segundo ele, o respeito das normas ambientais e fitossanitárias da UE.
Fonte: G1