Os principais produtores de açúcar do mundo estão em alta, com uma exceção: o líder mundial, Brasil. O país deve aumentar a produção de 39 milhões de toneladas para 40 milhões. Já o segundo maior produtor, a Índia, deve ampliar de 22 para 27 milhões de toneladas. A União Europeia, de 16,5 para 20 milhões. A estimativa é do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.
Há algumas justificativas para o ‘singelo aumento’ da produção brasileira. A primeira delas é o clima favorável do outro lado do mundo para a produção da cana-de-açúcar. Favorecido pelas chuvas na Ásia, o suprimento global de açúcar deve crescer mais de 13 milhões de toneladas na safra 2017/18, chegando a 185 milhões no total, conforme indica o USDA. Com o maior volume, os preços no mercado internacional caíram.
Outra justificativa vem dos automóveis. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a proporção de cana-de-açúcar destinada à fabricação de etanol totalizou 53,01% desde o início da safra 2017/2018 até 16 de dezembro. Na segunda quinzena de novembro, essa proporção alcançou 63,17%.
- Tivemos momentos de safra bem açucareira de abril a setembro, quando a prioridade foi produzir para atender contratos do ano anterior. Mas em setembro houve reversão para a produção de etanol – explicou à Gazeta do Povo o diretor Técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.
Etanol mais competitivo
A mudança de cenário, além do preço do açúcar, se deve ao aumento da competitividade do etanol nas bombas dos postos de combustíveis.
- O RenovaBio deu mais previsibilidade para a expansão da oferta de etanol. E quanto mais expandimos, menos dependente ficamos do açúcar, que no futuro deve ficar numa proporção menor do que é hoje [comparada à produção etanol] – destaca Rodrigues, referindo-se à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), recém aprovada pelo presidente Michel Temer.
Esse projeto de lei prevê metas de aumento do etanol anidro à gasolina, que pode chegar a uma mistura superior a 30% (atualmente o limite é de 27% de etanol na gasolina).
Outra ‘mão’ do governo foi na questão da gasolina, quando assinou o decreto que aumenta impostos sobre combustíveis.
– A partir do momento em que a Petrobras começou a praticar preços internacionais [para a gasolina] e o governo aumentou a carga tributária, aumentou a competitividade do etanol – diz Rodrigues.
O aumento do PIS/Cofins para os produtores de etanol foi leve: em julho, passou de R$ 0,1200 por litro para R$ 0,1309. Para a gasolina, foi de R$ 0,3816 por litro para R$ 0,7925.
Batalha comercial pelo açúcar
O foco no etanol não quer dizer que o Brasil deixou o açúcar de lado (pelo menos por enquanto). O diretor da Unica denuncia a criação de subsídios de países asiáticos produtores como Tailândia, China, Índia e Paquistão, para exportarem a produção excedente a preços mais baixos.
Rodrigues destaca que essa não é uma condição natural do mercado, que cria protecionismo para esses países.
- O setor preparou toda uma documentação para o Governo Brasileiro. Pode haver um acordo privado entre países senão [a discussão] vai acabar na OMC (Organização Mundial do Comércio) – afirma.
Fonte: Gazeta do Povo