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AÇÃO JUDICIAL

Uma batalha judicial entre dois dos maiores fabricantes de maquinários agrícolas do mundo revela a intensidade da atual corrida tecnológica para automatizar o trabalho no campo.

A Deere & Co., maior fabricante mundial de tratores – dona da marca John Deere – , está processando a rival AGCO Corp. – proprietária das marcas Massey Ferguson e Valmet – sobre a suposta violação de patentes de dispositivos como dosadores de sementes e sulcadores acoplados a plantadeiras. Esses acessórios integram o mercado da agricultura de precisão, estimado em US$ 240 bilhões, que utiliza milhares de informações (big data) para automatizar as operações e incrementar a produtividade.

Essas empresas estão “avançando rápido” na tecnologia de precisão para transformar a indústria, diz Karen Ubelhart, analista da Bloomberg Intelligence. “É muita coisa em jogo e as companhias não economizam dinheiro para largar na frente”.

Na ação judicial em que denuncia a violação de patentes, impetrada no dia 1º de junho na corte federal de Wilmington, em Delaware, a John Deere acusa a AGCO de copiar sua tecnologia ExactEmerge, que permite aos produtores plantar em velocidade maior, mantendo uma distribuição milimétrica de sementes e o espaçamento entre linhas. O dosador vSet e o sistema SpeedTube de deposição de sementes, da AGCO, violariam pelo menos 12 patentes da John Deere. A empresa pediu uma ordem judicial impedindo novas violações e compensação financeira pelos prejuízos já causados.

A AGCO, terceira maior fabricante de tratores, comprou da Monsanto, no ano passado, a empresa que produzia esses componentes, a Precision Planting. O negócio se concretizou poucos meses depois de a John Deere oferecer US$ 190 milhões pela empresa, numa transação que foi vetada pelo Departamento de Justiça.

Acusações “sem sentido”

Em nota, a AGCO disse que as alegações da John Deere “não fazem sentido e serão refutadas cabalmente nos tribunais”.

“A Deere está processando a AGCO por causa da tecnologia da Precision Planting que a AGCO adquiriu, e que, anteriormente, a própria John Deere queria comprar”, diz o professor de engenharia agrícola Dennis Buckmaster, da Universidade de Purdue, em Indiana. “Deve haver diferenças significativas nas tecnologias em questão, caso contrário, não faria sentido a John Deere querer comprar a empresa”.

O processo contra a AGCO “não está relacionado a atividades anteriores à proposta da John Deere para comprar a Precision Planting”, disse Ken Golden, porta-voz da John Deere. “A ação judicial é um esforço para fazer valer os direitos de propriedade industrial, para proteger o valor da inovação criada por nossa companhia e seus funcionários e para restringir o uso não autorizado de dispositivos únicos, criados com o uso dessas patentes”.

Após vários anos desenvolvendo suas tecnologias, a Deere e a Precision Planting fizeram lançamentos no mercado num intervalo de apenas duas semanas, em 2014, de acordo com relatório do Departamento de Justiça contrário à fusão das empresas. À época, a John Deere tinha 44% e a Precision Planting 42% dos sistemas de plantio de alta velocidade. A união das empresas levaria a preços mais caros para os agricultores, afirmou o Departamento.

Em cinco anos devem chegar ao mercado tratores que dispensam a figura do condutor

Na nota distribuída dia 1º de junho sobre o processo judicial contra a AGCO, a John Deere diz que as patentes em questão “se relacionam a vários aspectos únicos e inventivos” das plantadeiras da empresa.

O que incomoda a John Deere é que os equipamentos da Precision Planting podem ser conectados a plantadeiras de qualquer marca, e o número de vendas desses acessórios no ano passado foi praticamente o mesmo das vendas de novas plantadeiras em toda a indústria.

Carro popular

“É como se existisse um pequeno dispositivo que você implantasse no seu carro popular e o fizesse rodar forte e macio como um carro de luxo”, disse Buckmaster. “O fabricante do carro de luxo não gostaria que isso fosse lançado no mercado”.

Plantadeiras de alta velocidade são “disruptivas de mercado”, diz Scott Shearer, professor na Universidade Estadual de Ohio. A tecnologia da Precision Planting, em particular, tem elevado as expectativas dos produtores, que agora demandam uma precisão quase perfeita na semeadura – destaca Shearer.

Alguns dos maiores fabricantes de maquinários agrícolas “começaram a adotar novas tecnologias de semeadura por causa dessa startup, que vinha chamando muita atenção e interesse dos agricultores”, diz o professor.

As novas tecnologias da agricultura de precisão – que incluem tratores autônomos, sensores de plantio, drones e softwares de processamento de informações – representam um mercado que chegará a US$ 240 bilhões em 2050, e ajudarão a elevar a produtividade das lavouras em 70%, segundo um estudo de 2016 da Goldman Sachs.

A AGCO acaba de lançar no mercado americano uma colheitadeira de precisão totalmente concebida a partir de conceitos de inteligência artificial, que traz sensores de fábrica que comandam automaticamente todo o corte das plantas, a separação dos grãos e a limpeza da máquina.

“Estamos tornando as máquinas cada vez mais autônomas. O papel do operador na cabine vem se reduzindo drasticamente”, diz Eric Hansotia, vice-presidente da AGCO, que assegura que seus maquinários contêm muito mais códigos computacionais embarcados do que uma nave espacial.

Em cerca de cinco anos chegaremos à era dos tratores completamente autônomos, avalia John Nowatzki, especialista em maquinário agrícola da Universidade Estadual de North Dakota. A CNH Industrial, segundo maior fabricante do mundo, já tem um protótipo deste trator. É uma máquina de linhas modernas e agressivas, que sequer traz um banco para o operador.

O produtor Matt Swanson, 31, que cultiva 400 hectares em LaHarpe, no estado de Illinois, investiu US$ 100 mil para equipar sua plantadeira com componentes da Precision Planting. Pelo fato de administrar melhor a quantidade de defensivos e sementes aplicadas, eles calcula que recuperará o investimento no prazo de dois a três anos.

“Você literalmente elimina os erros”, enquanto no sistema anterior “era uma questão de torcer e rezar para dar certo”, diz Swanson.

Fonte: Gazeta do Povo



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