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A VEZ DOS GRÃOS NA PECUÁRIA DO BRASIL

Quase cinco décadas mais tarde, o Brasil deve trilhar o mesmo caminho adotado por Estados Unidos e Austrália para impulsionar a produtividade de sua pecuária, hoje muito aquém dos padrões dos dois principais concorrentes no mercado global de carne bovina.

Largamente baseada em pastagens, a pecuária brasileira se transformará de forma gradual nos próximos dez anos, ampliando sobremaneira o uso de grãos na alimentação do gado bovino. Essa é aposta do Rabobank. Em relatório enviado a clientes neste mês, o banco holandês projeta que, em 2024, 40% da produção de carne bovina brasileira será baseada em algum tipo de sistema intensivo, ou seja, com grãos na alimentação do animal.

Atualmente, cerca de 10% do gado abatido no Brasil é engordado no sistema intensivo dos confinamentos, com uma dieta baseada em farelo de soja e milho. Em geral, os confinamentos são utilizados no país para complementar a oferta de bovinos no período da entressafra, quando as pastagens têm pior qualidade. Comparativamente, os Estados Unidos confinam mais de 90% dos bovinos que são abatidos e a Austrália, cerca de 30%, segundo o Rabobank.

O principal diferencial do uso de grãos na alimentação de bovinos é antecipar a idade média de abate e aumentar o peso médio do animal. No Brasil, não é raro que os bois sejam abatidos com quatro ou mais anos de idade, enquanto que nos Estados Unidos vão para o abate, em média, com menos de dois anos de idade. Também é notável a diferença entre o peso médio da carcaça bovina nos três países – de 239,5 quilos no Brasil ante 360,35 quilos nos EUA. A Austrália está em posição intermediária, com 261,75 quilos, conforme dados compilados pela instituição holandesa.

Mas se estar aquém dos dois concorrentes significa ser menos produtivo, também indica que o Brasil está em condição única para impulsionar a produtividade de sua pecuária a ponto de abastecer a maior parte da crescente demanda mundial por carne bovina. De acordo com as projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os principais países importadores de carne bovina demandarão 10,1 milhões de toneladas em 2024, 2,8 milhões de toneladas acima da demanda do ano passado.

Na avaliação do Rabobank, o Brasil deverá abastecer boa parte desse consumo adicional. Pelas estimativas do banco holandês, o ganho de produtividade projetado para esta década permitirá ao país elevar em 1 milhão de toneladas suas exportações de carne bovina em 2024, abocanhando 25% do comércio global do produto.

Se os frigoríficos brasileiros conseguirem ampliar as exportações como o banco projeta, em dez anos o Brasil elevará em mais de 60% seus embarques de carne bovina. Em 2014, o país exportou 1,5 milhão de toneladas de carne bovina, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Na cenário traçado pelo Rabobank, os ganhos de produtividade da pecuária brasileira serão fundamentais para sustentar o aumento das exportações. Conforme o banco holandês, a maior disponibilidade de milho no Brasil a preços relativamente baratos – por conta do crescimento da safra de inverno – permitirá que o uso de grãos na alimentação também seja competitivo.

Com isso, o banco estima que, em 2024, a taxa de bovinos abatidos engordados em confinamentos alcançará 20%, ante os 10% atuais. Também deve crescer o uso de grãos na alimentação de animais criados a pasto, em uma espécie de “semi-confinamento”, totalizando 40% dos animais abatidos criados de modo intensivo.

Mas oferta de grãos não é o único fator para que a pecuária brasileira ganhe produtividade. Para o Rabobank, o Brasil também deverá passar por um processo de maior integração da cadeia produtiva. O banco considera ainda necessário alterar os parâmetros de pagamento na compra do bezerro. Atualmente, o bezerro é vendido por cabeça, e não conforme o peso. Na avaliação do Rabobank, essa prática desestimula a produtividade do criador de bezerros – independentemente do peso do animal, o preço será o mesmo. Não à toa, o peso médio do bezerro nos EUA é de 300 quilos, enquanto que no Brasil é de apenas 190 quilos.

Fonte: Valor Econômico – 15/12/2015

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Fonte: Sistema FAEP



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