Durante a reunião da Câmera Setorial do trigo do Rio Grande do Sul, realizada no início de outubro durante a XII Fenatrigo (Feira Nacional do Trigo), em Cruz Alta, três entidades representativas foram unânimes nas estimativas: as perdas passam de 30% na projeção da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Associação das Empresas Cerealistas do RS (Acergs) e Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro), estimativa bem acima dos 10% previstos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
- Visitei a região de Santa Rosa que já iniciou a colheita e lá teremos quebra de produtividade e qualidade. Na minha região de Palmeira das Missões as perdas são maiores ainda, devido aos estragos das geadas dos dias 11 e 12 de setembro – revela o presidente da comissão do trigo da Farsul, Hamilton Jardim.
- As perdas são em torno de 30%, não vamos colher 2 milhões de toneladas e as chuvas previstas para vir ainda devem prejudicar a qualidade e a produtividade. Novamente devemos ter grande quantidade de trigo para ração – analisa o secretário da Acergs e diretor da Barbiero Agronegócios, Vicente Barbiero.
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater de Ijuí, Gilberto Bortolini, em 270 mil hectares de abrangência da Emater regional, as perdas em volume provocadas pela geada ficam na faixa de 20%. Já o engenheiro agrônomo da Integral Agrícola, Nédio Giordani, afirma que nas lavouras de Cruz Alta a redução da produção será maior que a média do estado, variando entre 40% e 45%. Durante o mês de outubro, algumas lavouras também tiveram prejuízo com o granizo e as chuvas até a colheita podem aumentar as perdas.
Para o pesquisador e melhorista de trigo, Vanderlei Tonon, as perdas são muito variadas nas regiões produtoras.
- Nas missões o plantio é mais cedo e, por isso, escapou da geada. Na região de Palmeira das Missões, Tupanciretã a geada atingiu bem na fase crítica e na região mais fria, nos Campos de Cima da Serra, o efeito foi menor porque atrasou o plantio – ressalta Tonon.
O presidente da Fecoagro levantou uma questão preocupante com relação à comercialização: a indústria está criticando a cor do trigo.
- Recebi hoje uma ligação da região de Santa Rosa, reclamando que um trigo com PH 82 e os moinhos estão dizendo que o cereal não tem cor. O produtor colhe e não tem certeza do preço – protesta Pires.
- Nós somos cobrados pela cor do pão e da massa e temos que trabalhar em cima do que nos é exigido: a cor é uma necessidade – se defende o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado do Rio Grande do Sul (Sinditrigo), Andreas Elter, que diz que no moinho dele a cor mínima exigida é de 91,5 com restrições.
O produtor rural de Cruz Alta, Sílvio Ohse, pediu oportunidade para defender os triticultores gaúchos que, segundo ele, continua sendo o vilão.
- Somos punidos quando produzimos e somos chamados de incompetentes quando não produzimos. O vilão não é o produtor, há inimigos muito piores – critica Ohse.
- O senhor acha que vamos comprar trigo importado pagando mais caro porque queremos? É porque precisamos. Nós (moinhos), sem os triticultores gaúchos não somos nada – responde o presidente do Sinditrigo ao informar que os moinhos do estado importam somente 300 mil toneladas de trigo em anos de boa safra.
O presidente da Fecoagro não esconde que a cadeia está em crise e a valorização do trigo será determinante para o futuro da principal cultura do estado.
- A coisa não está tão folgada ali fora. Hoje não temos ambiente para pleitear o preço mínimo do governo federal. Falam que somos tarados por soja – é que a soja tem liquidez e o trigo é hoje praticamente inviável. Só planta trigo quem é fanático, quem faz conta não planta – reitera Pires.
No final do encontro da câmera setorial do trigo foi elaborado um documento para ser entregue ao governador, José Ivo Sartori, neste sábado durante a abertura oficial da colheita de trigo em Cruz Alta. A carta expõe a situação crítica do setor e aguarda ações do governo, sem apontar reinvindicações, por causa do atual cenário de crise do estado. Mas a grande vontade das lideranças rurais é reduzir o ICMS para vencer trigo a outros estados que hoje é de 12%, enquanto no Paraná essa taxa é de 2%.