“O SENAR-PR sempre esteve presente na minha vida”. É com essa afirmação que Alequessander dos Santos, egresso dos programas Jovem Agricultor Aprendiz (JAA) e Empreendedor Rural (PER), ambos do SENAR-PR, define sua trajetória profissional. Nascido e criado em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o jovem de 24 anos acumula experiências que transformaram sua história – mais de uma vez – e seu modo de encarar as adversidades.
Em 2013, Santos teve seu primeiro contato com o SENAR-PR por meio do JAA, com os cursos de fruticultura e horticultura, quando estudava no colégio agrícola em Pinhais. O jovem já tinha interesse em agricultura e pecuária, principalmente por sua origem no campo – os avós tiveram criação de suínos e plantio de milho e feijão, enquanto o pai atualmente trabalha com hortaliças.
No colégio agrícola, identificou o desejo de se especializar em inseminação artificial em bovinos. Com 15 anos, conseguiu um estágio na área, dando os primeiros passos para a sua futura trajetória profissional. Em 2016, com uma bolsa de estudos, ingressou no curso de Medicina Veterinária, em Guarapuava. Logo no início da faculdade, Santos começou a trabalhar como representante comercial de uma empresa na área de inseminação artificial – oportunidade que surgiu graças ao estágio no colégio agrícola. A partir daí, o estudante foi em busca de contatos com produtores rurais no Sindicato Rural de Guarapuava.
“Fui bem recebido no sindicato e consegui fazer parcerias. Também surgiu o convite para realizar alguns cursos do SENAR-PR, o que eu achei fantástico, porque complementava o currículo do curso de veterinária. De 2017 a 2019, eu participei de uns 10 cursos, a maioria sobre pecuária. O SENAR-PR é fonte de conhecimento para o produtor rural”, afirma.
PER
Em 2018, ainda na faculdade, Santos participou do Programa Empreendedor Rural, que, segundo ele, “foi o diferencial que mostrou a grande importância que o SENAR-PR tem nessa história”. Apesar de seu interesse na área de bovinocultura, por meio do PER, Santos identificou outra oportunidade para o projeto final do programa: avicultura e horticultura – esta, ele havia tido contato por meio do JAA, em 2013.
“O PER traz uma abordagem inovadora da propriedade rural. O levantamento de dados para o desenvolvimento do projeto me reaproximou de Campina Grande do Sul. Então eu decidi fazer algo com uma visão mais empreendedora. Concluí que essa seria a opção mais viável a ser realizada”, relata. “O PER passa essa visão do negócio e da organização rural. O programa ensina a planejar melhor e a conseguir traçar os objetivos para os meus próximos passos”, complementa.
O tema do projeto de Santos foi integração de horticultura e criação de frango caipira, fomentando a sustentabilidade e a agroecologia. As sobras dos frangos, que seriam criados soltos dentro de piquetes, serviriam como adubo orgânico para a horta, e, consequentemente, o excedente da horticultura seria destinado à alimentação das aves.
Em 2020, com a conclusão do curso de Medicina Veterinária, Santos participaria de um estágio em Minas Gerais, na tão sonhada área de inseminação artificial. No entanto, a chegada da pandemia do novo coronavírus mudou os planos.
“A pandemia virou a rota. A faculdade fechou, os clientes não estavam aceitando visitas nas propriedades. Me vi preso dentro de um apartamento em Guarapuava. Em março do ano passado decidi vir para Campina passar um tempo com meus pais”, lembra.
Projeto Taquari
Em Campina Grande do Sul, no bairro Taquari – onde vivem os pais de Alequessander – existe um projeto para dar suporte às famílias de baixa renda. O Projeto Taquari trabalha uma variedade de cursos e atendimentos nas áreas de saúde, lazer, cultura, agroecologia, entre outras.
Durante a pandemia, muitas dessas atividades foram interrompidas. Ainda, diversos trabalhadores perderam o emprego. Nesse impasse, as hortas comunitárias – única atividade com permissão para acontecer – foram a salvação do projeto.
Em fevereiro de 2020, 17 famílias do Taquari começaram a produção apenas para a subsistência dos moradores. Mas o projeto cresceu, com o plantio de 15 mil mudas de hortaliças, e a comercialização tornou-se uma oportunidade. Os pequenos agricultores da região, no entanto, não sabiam por onde começar.
“O pessoal que iniciou o projeto agrícola não sabia o que fazer com a produção. Fui atrás do PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar] para auxiliá-los e fiz contato com a cooperativa da região, que meu pai é associado, para fazer essa mediação. Aí encontrei alguns problemas”, aponta Santos.
Segundo o jovem, a Cooperativa dos Produtores de Campina Grande do Sul (CPCAMP) “estava indo de mal a pior”. Os cooperados tinham diversos problemas de organização e quase não havia suporte e assistência técnica. Vendo a oportunidade de auxiliar a cooperativa por meio dos conhecimentos adquiridos no PER, Santos criou um plano para a reestruturação do negócio. Então, surgiu o convite para assumir a presidência.
“Foi rápido e inesperado. Em abril do ano passado, fiz o primeiro contato, em maio e junho montei um plano de ação, e em setembro, após a assembleia, assumi oficialmente o cargo de presidente. Os conselheiros da cooperativa acreditaram no que eu queria fazer, principalmente na questão de escoamento da produção para a zona urbana. Foi muito planejamento, administração e empreendedorismo. O PER fez toda a diferença”, relata.
Atualmente, o Projeto Taquari, com quatro hortas comunitárias e 40 famílias envolvidas, se tornou uma associação e faz parte da CPCAMP, por onde é comercializada toda a produção excedente. C
om a cooperativa reestruturada, o presidente fechou parcerias com a prefeitura e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) para assistência técnica, e com o SENAR-PR, para a capacitação dos cooperados e famílias do Projeto Taquari. São cursos voltados para a profissionalização da produção de hortaliças, com foco em produção orgânica. Além disso, em 2021, foi firmada uma parceria para a realização do Programa HortiMais, também do SENAR-PR.
“Coincidências do destino”, quem ministrou um dos cursos de agricultura orgânica para a comunidade do Taquari, em 2021, foi Edson Brum, o mesmo instrutor do JAA para a turma de Alequessander. Ainda, o Projeto Taquari vai receber um curso do JAA realizado exclusivamente com os filhos dos agricultores.
Futuro
Neste período de pouco mais de um ano do Projeto Taquari, além da comercialização firmada por meio do PNAE, os agricultores também passaram a vender seus produtos por meio de feiras e entregas nos municípios de Campina Grande do Sul, Quatro Barras e Curitiba. Para complementar a produção agrícola, as famílias produzem e vendem pães, doces, bolos, geleias e compotas por meio da cooperativa.
“Hoje estamos dando um suporte como cooperativa. Agora o projeto está no processo de certificação orgânica. Isso vai gerar um valor agregado e vamos conseguir entrar em mais mercados e valorizar o produto. Também estamos correndo atrás de DAP [Declaração de Aptidão ao Pronaf] e cursos. Enfim, são diversas frentes para transformá-los em produtores profissionalizados”, orgulha- -se Santos.
A mais recente iniciativa, ainda em fase de planejamento, é uma estufa de produção de mudas, com o objetivo de atender gratuitamente os campinenses que tenham interesse em produzir, especialmente no meio urbano. Nos planos futuros, também estão projetos de hortas urbanas.
A nível pessoal, Santos revela que, nos próximos dois anos, pretende implantar o projeto desenvolvido no PER em 2018. Sobre os planos anteriores de ingressar na área de inseminação artificial, o jovem não desistiu, mas o sonho foi adiado. Tanto que, no segundo semestre de 2021, ele vai cumprir seu estágio final e concluir o curso de Medicina Veterinária.
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Fonte: Sistema FAEP