O monitoramento hidrológico é uma importante ferramenta da pesquisa
agropecuária. Por meio do gerenciamento de dados sobre o volume de chuvas e a
vazão dos rios é possível determinar o balanço hídrico de uma região e
estabelecer relações com as técnicas de manejo de solo empregadas naquela
localidade. Dessa forma, a pesquisa é capaz de determinar práticas mais
adequadas para reduzir impactos negativos e estimular uma agricultura mais
sustentável e conservacionista.
Esse é um dos objetivos da Rede Paranaense de AgroPesquisa e Formação
Aplicada (Rede AgroParaná), que, desde 2017, coordena 35 projetos que coletam
dados sobre a ocorrência de erosão no Estado. A iniciativa é financiada pelo
SENAR-PR, Fundação Araucária e Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior do Paraná (Seti).
Na região Centro-Sul, o agrônomo e professor da Universidade Estadual do
Centro-Oeste (Unicentro) Cristiano Pott monitora e avalia o escoamento
superficial de água e perdas de solo por erosão na área rural do distrito de
Entre Rios, município de Guarapuava, em parceria com a Fundação Agrária de
Pesquisa Agropecuária (Fapa), que pertence à Cooperativa Agrária.
Para o projeto, são coletados dados em duas escalas: uma em microbacia
hidrográfica, com tamanho de 118,8 hectares, e em três megaparcelas de encosta,
com 11 mil m² cada. A área é caracterizada como uma típica microbacia agrícola
da região, com propriedades rurais cuja principal atividade é o cultivo de
grãos no verão (soja e milho) e cereais no inverno (trigo, cevada e aveia), com
plantio direto.
“As características de bacia hidrográfica sob plantio direto sem práticas
mecânicas de controle de escoamento superficial e de erosão, ou seja, sem
terraceamento, representam o modelo tradicional de agricultura na região Centro-Sul
do Paraná”, resume Pott.
Características do estudo
Desde março de 2019, quando o projeto na região Centro-Sul foi
implantado, são monitoradas três megaparcelas por meio de diferentes técnicas
de manejo e conservação de solo sob sistema de Boas práticas para conservação
do solo Projeto conduzido no Centro-Sul do Paraná analisa técnicas de manejo
empregadas nas lavouras da região e indicadores de qualidade do solo plantio
direto. Segundo o pesquisador, os projetos da Rede AgroParaná costumam ter a
divisão de área de estudo em apenas duas megaparcelas, com e sem terraços.
“Nessa pesquisa, a intenção é encontrar outra solução que não demande a
construção de terraços, mas faça uso de um manejo mais intensivo, com mais
palha e melhor rotação de culturas”, observa.
A megaparcela 1 está alinhada ao padrão de cultivo do agricultor da
região, ou seja, plantio direto, sem terraços e trânsito de máquinas no sentido
morro-abaixo. Nessa, é empregado o sistema de rotação de culturas mais comum da
região, 75% soja e 25% milho, além do cultivo de cereais de inverno. “A
megaparcela padrão é como o produtor tem conduzido suas lavouras na maior parte
dos casos”, explica o pesquisador.
Na megaparcela 2, são empregadas Boas Práticas de Manejo (BPM) com
inclusão de plantas de cobertura no outono e cultivo em nível. O sistema de
plantio direto é conduzido com rotação de culturas igual à megaparcela 1, porém
com o uso de plantas de cobertura, principalmente nos períodos pós-cultura de
verão e início da semeadura dos cereais de inverno.
Ainda, na 2, não é utilizado o terraceamento, pois o objetivo é comparar
esse sistema com a 1 e analisar a aplicação de boas práticas para um manejo
mais sustentável, visando a melhoria das condições físicas do solo.
Por fim, na megaparcela 3, é adotado o manejo do solo e processo de
cultivo igual à 1, porém associado ao uso de terraços – que também são uma
alternativa para controle da erosão e escoamento da água.
Na escala de microbacia hidrográfica, não há interferência dos
pesquisadores para o desenvolvimento da pesquisa. Ou seja, são coletados dados
de acordo com a vazão do rio e o local é analisado em toda a sua extensão,
considerando todas as propriedades rurais dentro da área de estudo.
“Basicamente, monitoramos, pelo rio, o reflexo de tudo o que o produtor faz
naquela área. A bacia foi escolhida pela característica da agricultura
regional, localizada no distrito de Entre Rios, com plantio direto há muitos
anos, um manejo conservacionista tradicional. Tem seus problemas, mas é um cultivo
relativamente bom comparado ao restante Estado”, afirma Pott.
Pontos georreferenciados
No projeto da região Centro-Sul também foram implantados 168 pontos
georreferenciados, sendo 31 em cada megaparcela e 75 na bacia hidrográfica,
para monitorar as características física, química e biológica do solo. De
acordo com o pesquisador, a análise dos pontos georreferenciados está integrada
a outros subprojetos, para o monitoramento dos atributos de qualidade de solo
relacionados com as perdas de água e a busca por alternativas de manejo
regional.
Nas megaparcelas, são medidos os indicadores químicos, físicos e
microbiológicos do solo, além de crescimento de raízes, produtividade e
cobertura vegetal e de fluxo de gases de efeito estufa. A bacia hidrográfica revela
informações de relevo, classes, uso e manejo de solos, redes de drenagem e
estradas rurais. Os pontos georreferenciados também ajudam a monitorar os
atributos físicos do solo para caracterizar a microbacia.
“A avaliação do solo visa quantificar sua qualidade nas áreas agrícolas e
de preservação permanente, o que explica as perdas de solo, água e nutrientes,
além de possibilitar a comparação dessas perdas com as de bacia hidrográficas
de outras mesorregiões”, destaca Pott. “Podemos mensurar bioindicadores de onde
o solo está melhor”, acrescenta.
Resultados preliminares
O projeto desenvolvido na região Centro-Sul ainda está em andamento, o
que significa que ainda não há determinação de resultados concretos. Uma das
dificuldades foi a queda no volume de chuvas na região em 2019 e 2020, cerca de
32%, o que acarretou em um menor número de eventos de escoamento nas
megaparcelas.
No entanto, segundo o pesquisador, já é possível considerar alguns dados.
Em 2020, houve redução do escoamento superficial em 90% nas megaparcelas com
terraços e em 80% nas sob plantio direto com Boas Práticas de Manejo.
“Os resultados dos dois modelos estão se mostram promissores, sinal que
estamos no caminho certo. Os sistemas testados têm potencial para redução do
escoamento superficial e da erosão”, aponta.
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Fonte: Sistema FAEP