Das lavouras gaúchas de soja deve sair a safra recorde de 20,2 milhões de toneladas – aumento de 78,9% em relação a 2020, quando a seca castigou a principal cultura gaúcha, de acordo com o levantamento da Emater. O cenário favorável começou a se desenhar com a semeadura de 6,07 milhões de hectares – a maior área plantada do Estado. Na região de atuação da Tarumã Comércio e Representações, com matriz em Três Passos, a produção cresceu nesta temporada: no Noroeste a média de produtividade é estimada na faixa de 55 a 60 sacas por hectare – incremento que varia de 10% a 15% na comparação ao ano passado. Já nas filiais da Fronteira Oeste, onde as lavouras sofreram fortemente com a falta de chuva no ciclo anterior e a colheita de 2020 não passou de 30 sacas por hectare, este ano, o crescimento foi acima de 65%, variando entre 50 e 55 sacas por hectare, calcula o gerente comercial de grãos da Tarumã, Mauro Makoski do Rosário. O rendimento na região Norte também foi superior a safra 2019/20- na área de abrangência da Cepal, com sede em Camargo, a média fechou em aproximadamente 57 sacas por hectare.
“Foi uma safra muito positiva se baseada na safra passada, onde tivemos uma das mais fortes estiagens dos últimos 20 anos e colhemos em torno de 11 milhões de toneladas de soja no RS” – ressalta o diretor da Cepal e presidente da ACERGS, Roges Pagnussat.
No Alto Uruguai e Nordeste do Estado – regiões atendidas pela Vaccaro Agronegócios, sediada em Erechim, o rendimento obtido ficou na casa das 60 sacas por hectare – 10% mais que o ano passado, quando a estiagem não prejudicou tanto. Mas segundo o diretor, Carlos Vaccaro, a produtividade deste ano não chegou a números recordes, porque no final da safra o tempo ficou seco. Nos meses de fevereiro e março praticamente não choveu e a soja tardia baixou a média. Porém, diante das previsões iniciais de clima, o resultado da safra é muito comemorado.
“As boas chuvas em janeiro, que não eram esperadas, recuperaram parte das reservas hídricas do solo, já que tivemos estiagem nos meses de novembro e dezembro. Podemos considerar uma safra excelente pelas previsões iniciais” – avalia Vaccaro.
Para ultrapassar a inédita barreira dos 20 milhões de toneladas, foi preciso andar um bocado por um caminho cheio de imprevistos. A geada derrubou a produção do trigo e depois a estiagem complicou a safra de milho e levou apreensão ao agricultor quanto ao futuro da soja. A situação só melhorou lá por janeiro, com o retorno das chuvas. Com a safra na reta final a produtividade estimada está na faixa de 55 sacas por hectare, bem diferente da média de 18 sacas registrada na última colheita que amargou perdas significativas com a seca, conforme dados da Emater. Se em volume e em área a safra será recorde, em produtividade a colheita deste ano ainda perde para a de 2017. Ficará em 3.326 quilos por hectare (55,43 sacas/ha), frente aos 3.385 quilos por hectares (56,41 sacas/ha) quatro anos atrás.
SAFRA SOJA RS
- ÁREA – 6,07 MILHÕES DE HECTARES
PRODUTIVIDADE – 55 SACAS/HECTARES
PRODUÇÃO – 20,2 MILHÕES DE TONELADAS
Estimativa: Emater
PREÇOS INÉDITOS
Mas com as cotações em valores recordes em reais – mais de 80% acima dos preços praticados na mesma época do ano passado e cerca de 130% acima da boa safra de 2019 – o sojicultores esbanja satisfação e pisa fundo na hora de vender a produção. Conforme Roges Pagnussat, a comercialização já passou de 60% da safra dos produtores atendidos pela Cepal (em meados de maio).
“Com preços cada vez mais elevados, o agricultor está capitalizado e conseguindo usar bem a ferramenta da concorrência, fazendo com que a performance das cerealistas aumente e, muitas vezes, as margens encurtem bastante” – relata o presidente da ACERGS.
“Com perspectivas de manutenção altas, caso a produção dos EUA venha a sofrer perdas por efeitos climáticos, teremos mais movimentações, mais oportunidades a toda cadeia” – complementa o gestor da Tarumã, que informa que 65% da produção estão vendidos.
Mauro Makoski do Rosário recorda um ponto importante: na região de ação da empresa cerca de 40% da safra foram comercializados no cedo com preços ao redor de R$ 85 a R$ 100 a saca.
“Na época era bom, os custos viabilizavam a venda antecipada da soja a esse preço” – reitera.
Os 60% que sobraram o produtor está liquidando nos atuais níveis elevados de preços – na faixa de R$ 170/saca em meados de maio – o maior valor da história em reais e o terceiro maior preço na Bolsa de Chicago – em 2012 Chicago teve pico devido a seca nos Estados Unidos e em 2008 durante a crise imobiliária americana. Mas com a valorização atual do dólar e o contrato em maio chegando a US$16,60/bushel – praticamente o dobro da cotação em Chicago em relação ao mesmo período de 2020, quando a valor era na faixa de US$8,30 a US$8,50/bushel, o agricultor brasileiro nunca recebeu tanto em reais pela saca de soja, proporcionando uma rentabilidade animadora. A forte demanda de exportação, a valorização da oleaginosa na Bolsa de Mercadorias de Chicago e a forte desvalorização do real contribuem para manter o preço da commodity em alta no mercado nacional.
Na região da Vacarro Agronegócios, 60% da produção foram comercializados, sendo que um volume grande em contratos antecipados – 40% já vendidos no valor médio de R$ 95 a saca. Agora com o preços altos, o produtor está conseguindo fazer uma média de R$ 124 a saca e com os 40% ainda para comercializar, com a cotação na casa de R$ 170, deve fechar com o valor médio inédito de aproximadamente R$ 140 a saca.
“Considero um preço ótimo, na época do plantio a expectativa era vender na faixa de R$ 100 a saca, o que já seria um bom preço, considerando os custos da lavoura. A relação de troca nunca esteve tão boa como está hoje” – ressalva Vaccaro.
A MELHOR RELAÇÃO DE TROCA
Apesar do aumento dos custos, a relação de troca soja x insumos é altamente favorável. Usando um exemplo bem simples: o fertilizante custava em média R$ 1.500 a tonelada com a soja a R$ 80 a saca – uma relação de troca de 18,75 sacas para uma toneladas de fertilizante. Agora com o fertilizante valendo R$ 2.500 a tonelada, mas com a soja a R$ 170 a saca, essa relação de troca reduz para 15 sacas por tonelada.
“O produtor está muito feliz, ele conseguiu dar uma boa equilibrada depois de um ano difícil – safra de soja frustada, a geada levou metade da lavoura de trigo e falta de chuva reduziu a produção do milho, recentemente colhido” – revela Mauro.
Com percentual de liquidação considerado alto na região da Tarumã, em torno de 65% da safra comercializada até a metade do mês de maio, muitos clientes da empresa nas regiões Noroeste e Fronteira Oeste ainda aguardam preços melhores, mas com a chegada dos compromissos financeiros, como o custeio, não vai sobrar muita soja para o agricultor especular preços ainda mais altos.
“O produtor gosta de ficar com o físico, o objetivo sempre do produtor é comprar mais um talhão de terra, renovar maquinário e muitos negócios são fechados em grão” – reforça o gestor da Tarumã.
Mas o diretor da Vaccaro aconselha o sojicultor que ainda não comprou os insumos para a safra 2021/22 se atentar para a relação de troca que é muito interessante neste momento.
“O agricultor não pode esperar para a época do plantio, hoje ainda ele fecha negócio com uma relação de troca muito boa, com melhores condições que o ano passado” – analisa Vaccaro.
O valorizado grão vai provocar injeção recorde de dinheiro na economia gaúcha nesta temporada. O valor bruto da produção (VBP) da soja — montante a ser recebido pelos produtores a partir da comercialização a preços de mercado — vai alcançar R$ 50,6 bilhões em 2021, conforme o Ministério da Agricultura, aumento de 104,1% na comparação com 2020 e de 68,5% em relação a 2019, última safra sem estiagem. Somente a soja vai responder por 47% do VBP de toda a agropecuária do Estado, estimado em R$ 108,3 bilhões.